3.8.12

Para Roma Com Amor


Fico feliz ao sair de uma sala de cinema onde acabo de assistir a um filme sobre o qual não tinha grandes expectativas. Dizer isso de um filme de Woody Allen pode parecer sacrilégio, mas eu esperava não gostar de Para Roma Com Amor, no entanto gostei bastante do filme.

É que passei a tomar mais cuidado com os filmes de Woody Allen depois da baita decepção que tive com o muito fraco Vicky Cristina Barcelona que, entre inúmeros problemas, me fez crer que Penélope Cruz é uma farsa: uma atriz que interpreta sempre o mesmo papel, o de Penélope Cruz, uma serial femme fatale. Seu prêmio Oscar não mudou minha opinião. 

O segundo cuidado que tive com Para Roma Com Amor foi o fato de que nele trabalha um ator que também detesto: o repetitivamente indigesto Roberto Benigni, outro que faz sempre o mesmo papel: o de Roberto Benigni, uma espécie de Didi Mocó com sotaque italiano e a quem substituíram o jabá pelo ravióli. O seu Oscar por A Vida é Bela também não me enche os olhos.

Comecei a me surpreender positivamente, pois os dois estão ótimos no filme. E eu que pensei que jamais gostaria de qualquer um deles. O mais incrível é que ambos continuam a fazer o que sempre fazem: os papéis deles mesmos. Penélope Cruz só mudou de língua, substituindo o espanglês ou o espanhol pelo italiano, mas continua a interpretar a femme fatale de sempre. Benigni é Benigni, mas sob a direção de Woody Allen ele ficou menos insuportável. Ou talvez porque ele apareça nas telas menos tempo do que nos seus próprios filmes, já que integra apenas uma das quatro histórias da película. É isso! Roberto Benigni em dose homeopática é palatável.

Para Roma Com Amor não é o melhor filme de Woody Allen, mas também não é o pior. E assim consegue ficar muito acima da média dos filmes descerebrados de comédia que o cinemão anda a oferecer por aí, graças aos seus diálogos inteligentes, cenas e atuações inspiradas, direção segura, montagem ágil e trilha sonora de primeira.

Da sua série mais recente longe da zona de conforto nova-iorquina, Allen passou por Londres, Barcelona e Paris e, dessa série, as obras-primas são Match Point e Meia Noite em Paris e a dissonância ficou com Vicky Cristina Barcelona.  

Para Roma Com Amor está mais próximo da linha cômica de Scoop, o Grande Furo do que do também de origem inglesa O Sonho de Cassandra, lembrando que nesse interim o nova-iorquino voltou às origens filmando os irregulares, mas comicamente agradáveis: Tudo Pode Dar Certo e Você Vai Conhecer o Homem dos seus Sonhos.

Aqui o diretor, fã declarado de jazz, abre a película com a canção italiana "Nel blu dipinto di blu”, popularmente conhecida como “Volare" levando a plateia de cara para dentro do clima caótico da capital italiana, onde somos apresentados a quatro histórias simultâneas, mas que não se inter-relacionam.

Fora das próprias produções por cinco filmes, Woody Allen volta a interpretar o mesmo personagem neurótico que encanta os fãs aos 76 anos e 40 filmes. Aqui ele é um produtor cultural aposentado que vai a Roma com a esposa para conhecer o noivo da filha. E aqui temos a melhor parte do filme, a do agente funerário tenor que só consegue cantar bem no chuveiro. Um achado divertidíssimo. Recomendo até para quem tem problemas biliares.

Na segunda história, Alec Baldwin e Jesse Eisenberg interagem no melhor estilo Woody Allen com Ellen Page. De tirar o chapéu. A química e o timming dos três atores estão perfeitos. Já era fã de Ellen Page desde Juno e Menina Má.com. Baldwin e Eisenberg (A Rede Social) me impressionaram bastante, o último está ótimo como o alterego do diretor. Novamente, parte do mérito se deve à direção segura de Woody Allen. 

Roberto Benigni interpreta um homem comum que repentinamente se descobre uma celebridade, uma crítica ácida do diretor à mídia sensacionalista e novidadeira. Felizmente, como disse, a história é curta e termina antes de Benigni nos fazer enjoar da sua cara. A última história não deixa de ser divertida, mas é a mais fraca das quatro, salva justamente pela personagem solar da prostituta de Penélope Cruz. Nunca pensei que um dia eu a elogiaria. 

Quem teve o privilégio de conhecer Roma, não terá como não se deleitar com a beleza das tomadas inusitadas da Cidade Eterna. Quem não conhece a capital italiana, não terá motivos para se queixar do belíssimo cenário para as deliciosas histórias. Então entreguei os pontos, deixei a caretice de lado e dei boas e altas gargalhadas. Absurdos surreais, humor desbragado e inteligente. O que eu queria mais, ora bolas?! 

3 comments:

Unknown said...

Sempre achei o "talento" da Penélope uma lenda urbana. E o Benigni, um palhaço de ópera bufa. Mas guardava para mim. Agora que sei como vc, "captain, my captain", pensa, me sinto bem acompanhada. Vou assistir o filme só pq vc recomendou. Espero que seja tão bom quanto o seu artigo.

dina said...

Penélope continua sendo uma atriz que faz o papel dela mesma. A personagem de prostitua poderia ser interpretada por várias atrizes, sem o menor comprometimento. Sendo Penélope pensei que estragaria até esse personagem...mas fez "direitinho". Ver um filme de Woody para mim é sempre motivo de reflexão de vermos aquilo que não enxergamos. Nesse filme, ficou o registro do quanto não suportamos ficar despercebidos pelas outras pessoas, seja na condição de celebridade (Benigni, o chatérrimooooo), seja na condição de pessoa comum, entre os seus. Admitirmos que alguém que "pode mais", pode querer menos para ser feliz ("tenor").... Me diverti vendo Woody fazendo um papel que adoro: o dele mesmo! Criticar modos e pessoas é o seu maior trunfo, mesmo num filme que, diferentemente de Meia-noite em Paris, esquecerei logo. Mas, valeu! Não comprometeu.

Ana Rita said...

Olá :)

Conheci o teu blog através deste post e também gostei de ver o filme :)

Beijinhos,

https://sobomeuolhar7.blogspot.com/