20.6.21

LEITURAS DE JANEIRO A MAIO DE 2021


Aqui estão os 20 livros lidos entre Janeiro e Maio deste ano. 

Estão na ordem em que aparecem na lista abaixo. 

No mesmo período no ano passado li 22 livros e no anterior foram 27. Então, estou abaixo da média do mesmo período dos anos anteriores

ÚLTIMO TURNO - Terminei este ano a trilogia de Bill Hodges, do mestre Stephen King, continuação dos dois livros que li no ano passado sobre o Assassino do Mercedes (Mr. Mercedes e Achados e Perdidos), série adaptada para a tv. Aqui, o famigerado assassino Barry Hartsfield está há anos em estado vegetativo em uma clínica de traumatismo cerebral, mas o detetive aposentado Bill Hodges investiga uma cena de suicídio que tem ligação com o Massacre do Mercedes. Brady está de volta para se vingar.


DA CRIAÇÃO AO ROTEIRO Apesar de ter esse livro há mais de 20 anos e já ter tentado lê-lo quando estudante de Jornalismo, somente este ano dei cabo da leitura. Uma obra fundamental do escritor brasileiro Doc Comparato. Perfeito para quem gosta ou tem interesse em escrever para cinema, teatro ou televisão. Uma visão privilegiada do trabalho do roteirista. Uma ferramenta de conhecimento inesgotável para profissionais e estudantes.

ONDE OS VELHOS NÃO TÊM VEZ - Primeiro livro que li do premiadíssimo autor Cormac McCarthy e que foi adaptado para o cinema pelos irmãos Joel e Ethan Coen, premiado com o Oscar de melhor filme em 2008, o livro mistura ação, suspense e violência numa prosa ágil e enxuta centrado em três personagens centrais: um caçador que encontra milhões de dólares no deserto; um xerife que investiga o caso; e um  psicopata contratado para reaver o dinheiro.


A ESTRADA - Gostei tanto do livro anterior de Cormac McCarthy que resolvi ler A Estrada, também adaptado para o cinema que retrata a Terra num  futuro distópico, com um planeta devastado e em que os poucos sobreviventes vagam em bandos. Um homem e seu filho não possuem praticamente nada e vagam sem saber o que encontrarão no final da viagem. Essa jornada é a única coisa que pode mantê-los unidos, que pode lhes dar um pouco de força para continuar a sobreviver. 


E TEM OUTRA COISA - Considerado o sexto livro da trilogia de cinco. Os fãs do autor Douglas Adams, morto prematuramente após o último livro da série, queriam muito ler as novas aventuras dos personagens mais loucos da ficção científica. O autor Eoin Colfer foi convidado para resgatar as histórias seguindo o estilo de Douglas Adams, mas confesso que achei o livro muito aquém do humor inglês do original, mas dá prazer rever Arthur Dent, Ford Prefect, Trillian e Zaphod Beeblebrox.


A ALDEIA DE STEPÁNTCHIKOVO E SEUS HABITANTES - Após retornar de um exílio de quase dez anos na Sibéria, Fiódor Dostoiévski publicou este que é considerado um dos seus mais originais romances em que expõe a faceta do humor através de situações cômicas e absurdas. Dostoiévski criou aqui um dos personagens mais famosos da literatura russa: Fomá Fomitch Opískin, que virou símbolo de hipocrisia e parasitismo.


IT, A COISA - Clássico de Stephen King que inspirou dois filmes. O livro começa em 1958, em uma cidadezinha do Maine e conta a história de sete amigos vindos de lares disfuncionais e que enfrentam um ser sobrenatural que deixou um rastro de mortes na cidade de Derry. Trinta anos depois, os amigos voltam a se encontrar para cumprir uma promessa feita quando crianças para enfrentar novamente a Coisa correndo risco de vida.



OS TRABALHADORES DO MAR- Terceiro livro de Victor Hugo que li após Os Miseráveis e O Último Dia de um Condenado. Esta obra foi escrita durante o exílio do autor na ilha de Guernesey, no canal da Mancha. Aqui ele narra o embate do homem contra as forças da natureza e o poder avassalador de uma paixão. O enredo mostra a luta do marinheiro Gilliatt, que, por amor à bela Déruchette, se empenha em resgatar um navio antes que ele afunde no mar. 



A TRILOGIA DE NOVA YORK - Primeiro livro que li do autor Paul Auster conta três histórias a primeira sobre um escritor de policiais que é confundido com um detetive particular e passa a encarnar a sério o papel. A segunda sobre um detetive contratado para vigiar um homem que transforma a tarefa num caso de vida ou morte. E o último sobre o amigo de um escritor desaparecido  atormentado pela culpa. O livro é  um labirinto mental feito de pistas falsas e verdadeiras, de acasos e equívocos.


MEMÓRIAS DE ADRIANO - Obra-prima de Marguerite Yourcenar que li quando adolescente mas não me lembrava de nada e acho que não tinha entendido nada por isso resolvi reler, algo que nunca faço. A autora levou trinta anos pesquisando e escrevendo este livro que tornou-se um clássico da literatura moderna. Uma autobiografia imaginária do grande imperador Adriano. Um romance histórico, poético e filosófico, que se tornaria uma das mais fascinantes obras de ficção do século XX. 



O DESAPARECIMENTO DE STEPHANIE MAILER - Apesar de ter gostado muito dos dois primeiros romances do autor Joel Dicker (A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert e O Livro dos Baltimore) e dos inúmeros elogios a este livro, confesso que foi difícil ler por conta do texto muito fraco, da história travada, da trama mal amarrada e até mesmo da narrativa preguiçosa e repetitiva. Não vou perder tempo falando do enredo. Um livro que classifico como dos mais equivocados que já li. Incrível assistir tantos booktubers rasgando elogios. Péssimo. Nota zero. Dá pra dar menos?


CESAR IMPERADOR - O biógrafo Max Gallo, autor de vários livros sobre a Revolução Francesa, Victor Hugo e Napoleão, mostra aqui ao leitor um Julio César criado por uma mãe dominadora que lhe incutiu ideias grandiosas sobre sua ascendência real e divina. No livro, o autor também revela também como funcionava a mente dos romanos que viveram antes do cristianismo.


A METADE SOMBRIA- Este foi o 28º livro que li de Stephen King. Como quase todos, também foi adaptado para o cinema mas a adaptação é muito fraca. Aqui temos um escritor de livros de sucesso que criou um personagem violento e resolve se livrar dele para escrever livros mais adultos. Mas seu personagem e alterego decide que não está morto e comete uma série de assassinatos em que todas as pistas apontam para o escritor.


UMA NOITE NA PRAIA - Apesar de considerar a autora Elena Ferrante uma escritora de temas do universo feminino e que não têm muito eco na minha vida, já li com este oito livros dela. Este é o seu primeiro livro infantil e trata-se da continuação do livro anterior (A Filha Perdida) e é narrada do ponto de vista de Celina, uma boneca perdida numa praia que enfrenta uma noite interminável, cheia de sustos e a companhia indesejada de um salva-vidas cruel. 



OS MAIAS- Só havia lido antes de Eça de Queiroz o livro O Primo Basílio e assim como ele, foi adaptado como minissérie pela TV. O livro envolve o leitor na atmosfera da Lisboa de fins do século XIX em que os personagens vivem as aspirações, conflitos e paixões da sociedade em Portugal. A história gira em torno do velho Afonso da Maia e seu neto Carlos Eduardo, os últimos remanescentes da família.



TORTO ARADO - Um clássico instantâneo do autor baiano Itamar Vieira Junior, texto épico e lírico que revela, para além de sua trama, um poderoso elemento de insubordinação social. Vencedor do prêmio Leya além dos prestigiados prêmios Jabuti e Oceanos. Nas profundezas do sertão baiano, as irmãs Bibiana e Belonísia encontram uma velha e misteriosa faca na mala guardada sob a cama da avó. Ocorre então um acidente. E para sempre suas vidas estarão ligadas ― a ponto de uma precisar ser a voz da outra. Numa trama conduzida com maestria e com uma prosa melodiosa, o romance conta uma história de vida e morte, de combate e redenção.


PORTÕES DE FOGO- Elogiado livro de Steven Pressfield que mostra a luta de uma pequena tropa de 300 espartanos no desfiladeiro das Termópilas para impedir o avanço inimigo do rei Xerxes com seus dois milhões de guerreiros do império persa para invadir a Grécia. A história é relatada diretamente ao rei pelo único sobrevivente grego. O leitor entra em contato direto não apenas com a guerra, mas com o modo de vida desses antigos guerreiros, sua rotina e seus valores. 


DRÁCULA - Demorei tantos anos para ler este livro de Bram Stoker que nem acredito que não o havia lido ainda de tanto que já vi versões dele no cinema. Não sabia que era um livro escrito em forma de cartas. Achava que seria uma narrativa tradicional, especialmente num romance de ficção gótica. Embora o autor não tenha inventado os vampiros e tenha sido influenciado por contos anteriores, o seu romance foi responsável pela popularização dos vampiros através de muitas peças de teatro, cinema e televisão. 

A ROSA VERMELHA DE ANJOU - O penúltimo livro da Saga dos Plantagenetas conta a história da rainha Margaret de Anjou, francesa que se casa com o rei inglês Henrique VI sepultando assim definitivamente a Guerra dos 100 anos.  Apesar de mulher e estrangeira, foi uma das personagens mais influentes na Guerra das Rosas como uma das líderes da Dinastia de Lancaster.


O SOL EM ESPLENDOR - Este é o 14º livro da autora Jean Plaidy, o último da Saga dos Plantagenetas. Acompanhamos  ainda a Guerra das Rosas e o reinado turbulento dos reis da dinastia Iorque, Eduardo IV e mais tarde, Ricardo III. Aqui termina não somente a dinastia dos Plantagenetas como também as duas dinastias derivadas dela e rivais, os Iorques e os Lancasters. A partir daqui começaria a dinastia Tudor.

 

4.6.21

UMA CENA DE VIOLÊNCIA ABAIXO DE ZERO

VIOLÊNCIA NUM SUPERMERCADO

Pela primeira vez neste blog repito uma postagem, mas por uma justa razão. Trata-se do destaque a um trecho de uma postagem maior escrita como relato de uma viagem pela Alemanha na companhia de amigos. A postagem original está aqui mesmo no blog com o título de Alemanha Abaixo de Zero.

A razão do destaque que ora faço foi a necessidade de dar mais visibilidade a uma cena de violência que vi e que merecia estar num post específico num momento de tanta visibilidade a ataques raciais.

"Deixamos Berlim para trás e chegamos a Dusseldorf após sete horas de viagem de carro onde passamos em um supermercado para compras e foi quando presenciamos uma das cenas mais estranhas que já vi. Nossa anfitriã, que mora há 15 anos na Europa, nos disse que nunca vira algo do tipo por lá.

No grande supermercado havia um silêncio sepulcral num sábado em que lá fora faziam 2 graus negativos. Nossa atenção foi atraída por uma gritaria. Naquele silêncio, os gritos pareceram surreais. Então, passou por nós um homem negro correndo em alta velocidade. Passou ao nosso lado, tão perto que podemos reparar nos seus olhos enormes, assustados, como um animal perseguido. Atrás dele vinham dois homens louros, germânicos, saudáveis, fortes.  O que significava aquilo não nos era compreensível no momento.

O homem negro tentava escapar de alguma coisa, talvez tivesse roubado algo no supermercado. Os dois homens brancos que o perseguiam gritaram e dois outros, à frente, estenderam as pernas derrubando o negro no chão. Ele se levantou com uma agilidade impressionante, atirando-se na direção da porta automática que se abriu para ele sair para o meio da rua e da neve. Eram duas portas automáticas para proteger o interior do frio. 

A cena foi estranhíssima. As duas portas ficaram se abrindo e se fechando initerruptamente enquanto, no espaço entre elas, quatro homens brancos e fortes se debatiam no chão com um negro que tentava, a todo custo, escapar deles. Ele talvez fosse algum imigrante ilegal, talvez soubesse que sua fuga poderia significar sua permanência naquele país gelado, talvez tivesse certeza de que uma prisão representaria uma deportação...

Ele se debatia, as pessoas se aglomeravam em volta. Ninguém falava nada...um silêncio assustador. Nenhum dos quatro brancos dizia ou gritava coisa alguma. O homem negro também, aparentemente, economizava energia para a fuga. Só se ouvia o som das portas se abrindo e se fechando, se abrindo e se fechando repetidas vezes. Toda a cena tinha um conteúdo simbólico impressionante. Lembrava uma caçada, um animal tentando escapar de uma armadilha...e em volta, vários alemães, clientes do supermercado assistindo a tudo de mãos dadas com os seus filhos, como num processo educativo e pedagógico. Ou simplesmente pelo ineditismo da cena ou pela curiosidade.

Parei de olhar quando começaram os socos. Os homens brancos socavam com força o rosto do homem negro. Entendi que a coisa ultrapassou a esfera profissional pois os brancos não estavam mais simplesmente defendendo o patrimônio ou a lei, mas reagindo a alguém que, mesmo praticamente dominado, insistia em tentar fugir.

O sábado foi marcado por essa cena dantesca e saímos a tempo de ver a policia levar o homem dominado. Foi tudo tão inesperado que não tirei nenhuma foto da cena mas tenho-a toda gravada nas minhas retinas. Não sei o que me chocou mais: a cena da violência em si ou o silêncio envolvido naquilo tudo, com o único ruído sendo o daquelas malditas portas abrindo e fechando, abrindo e fechando, abrindo e fechando.