1.6.18

OS POLICIAIS GELADOS DE JO NESBØ



Há um ano eu nunca tinha ouvido falar no escritor norueguês Jo Nesbø. Somente com o lançamento do filme “O Boneco de Neve”, passei a prestar atenção à sua literatura policial e consumi-la como um faminto. Recentemente, li três livros da sua série sobre o detetive alcoólatra e viciado Harry Hole (Morcego, Baratas e Boneco de Neve). Há ainda quase dez títulos para serem degustados com o mesmo protagonista.


A literatura policial escandinava é quase um subgênero à parte na galeria de livros de suspense, envolvendo complicadas investigações e tramas policiais na linhagem dos mestres Agatha Christie (e seu detetive com TOC Hercule Poirot); Edgar Alan Poe (e o pai de todos os detetives de ficção, Auguste Dupain); Georges Simenon (com seu comissário Jules Maigret); Raymond Chandler (com seu detetive pinguço Philip Marlowe) e Arthur Conan Doyle (com o mais famoso de todos, Sherlock Holmes). Assim como o detetive Harry Hole, de Jo Nesbø, os protagonistas dessas novelas policiais são poços de idiossincrasias e dramas pessoais carregando cérebros brilhantes.

Autores suecos, dinamarqueses, finlandeses e noruegueses, como comprovam o sucesso da Série Millenium e vários outros, estão ganhando notoriedade no mundo inteiro com suas obras de forte impacto e seus personagens cheios de dores e amargores internos com seus próprios fantasmas para exorcizar. Os livros de Nesbø são traduzidos em mais de quarenta línguas e ele já chegou a ter três livros, simultaneamente, no topo da lista dos mais vendidos na Noruega.

Infelizmente, as adaptações das suas obras para o cinema não têm sido felizes. O filme baseado em “Headhunters” teve má recepção e Nesbø só aceitou vender os direitos porque os royalties iriam para sua fundação que ajuda crianças carentes a ler e escrever. A adaptação para as telas de Boneco de Neve também foi um fiasco como roteiro, edição e atuações e nem mesmo a presença de Michael Fassbender (X-Men e Shame) no papel do icônico detetive Harry Hole salvou a empreitada.

Em O Morcego, como nas obras seguintes, a editora Record refez o projeto gráfico das capas nas cores branco, preto e vermelho com detalhes em relevo e os livros passaram a ter melhor qualidade editorial. Aqui, Hole é enviado de Oslo para desvendar um misterioso assassinato de uma jovem norueguesa na Austrália. No meio da trama, o detetive luta contra seu alcoolismo e a tendência à autodestruição e enfrenta boxeadores aborígenes, traficantes, maníacos sexuais e a corrupção policial. Nesbø se esmera na contextualização da atmosfera da cultura australiana com seu passado colonial e racista.

No livro seguinte, Baratas, o detetive Hole é enviado para a Tailândia para investigar, com o máximo de brevidade e sigilo, a morte de um embaixador norueguês apunhalado em um motel barato de Bangkok. A missão no fundo é evitar um escândalo diplomático. Em uma atmosfera de trânsito barulhento e caótico e calor e umidades asfixiantes, Hole vê-se em uma trama que envolve antros de ópio, bares vagabundos de striptease, templos budistas e pedofilia. No decorrer da investigação, após um rastro de crimes, ele percebe que pode ser a próxima vítima do assassino. 

E finalmente, em Boneco de Neve, o policial norueguês enfrenta um serial killer em Oslo que mata mulheres, aparentemente de modo aleatório, no primeiro dia de inverno de cada ano e deixa um boneco de neve no jardim de suas casas usando uma peça de roupa da pessoa morta. O jornal inglês The Guardian considerou este o livro mais ambicioso de Jo Nesbø. O The Times o comparou ao Silêncio dos Inocentes, de Thomas Harris. Cada capítulo é eletrizante, como costumam ser todas as aventuras de Harry Hole.

Boneco de Neve é o sétimo romance de Nesbø e vendeu 160 mil exemplares apenas na semana do lançamento e é o romance policial norueguês mais vendido até hoje. 
Todos os livros têm em comum finais surpreendentes, que fazem valer cada minuto da leitura e desejar mais livros com o atormentado Harry Hole.



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