Este ano de 2025 me comprometi a só ler livros escritos por mulheres de
Outubro a Dezembro. Promessa cumprida e encerro os três últimos meses com a leitura de 15
livros escritos por autoras. Desses livros, dez são dedicados a protagonistas femininas, o
que muito me agradou. Somando esses 15 aos 43 lidos entre janeiro e setembro, encerro o ano
com 58 livros lidos.
Em 2018 foram 40. Em 2019 foram 68. Em 2020 foram 61. Em 2021 foram 55. Em 2022 foram 60. Em 2023 foram 50. Em 2024 foram 32.
1 - UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES – Um livro desafiador da
sempre desafiadora Clarice Lispector. Lançado em 1969, tem muitas
características ousadas do romance moderno, como ter no seu início uma vírgula e
no seu final, dois pontos. Foi ganhador do prêmio Golfinho de Ouro no seu
lançamento. Sua protagonista Lóri faz uma longa viagem ao mais profundo de si
mesma e chega à consciência total de ser ao se envolver com Ulisses, um
professor de filosofia que tem o nome do herói grego que fecha os ouvidos para
as outras sereias porque só está disponível para Lóri (Loreley) que é o nome de
uma sereia que atraia para os rochedos os barqueiros do Reno.

2 - A OBSCENA SENHORA D – O primeiro livro que li da brasileira Hilda
Hilst. Lançado em 1982 é até hoje considerada uma das obras mais cultuadas e
transgressoras da sua autora. Uma história que retrata uma senhora de sessenta
anos após a morte do seu marido Hillé. Ela está absolutamente solitária e
decide viver no vão da escada de casa e experimentar o mais profundo
isolamento. Num intenso fluxo de consciência, o que gera estranhamento e
dificulta a leitura, ela se vê às voltas com lembranças do passado ao mesmo
tempo que se pergunta sobre o verdadeiro sentido da vida.

3 - O MATADOR – Primeiro livro que li da brasileira Patrícia Melo.
Lançado em 1995, adaptado para o cinema em 2003 com o título de O Homem do Ano
e com roteiro de Rubens Fonseca, tem Murilo Benício no papel principal e Wagner
Moura e Claudia Abreu no elenco. Após uma aposta de futebol, Máiquel, jovem
vendedor de carros usados na periferia de São Paulo, precisa tingir o cabelo de
louro. A história a partir deste fato o leva a se tornar aos poucos um matador
de renome respeitado por todos, comerciantes, políticos e até pela polícia. Um crescendo de tensão e enlouquecimento com muita violência e sexo.

4 - A CABEÇA DO SANTO - Primeiro livro que li da brasileira Socorro
Acioli. Decepcionou-me profundamente pois esperava muito da autora cuja obra
foi incensada por vários críticos.
Samuel, cuja mãe faz um último pedido antes de morrer: que ele vá encontrar a
avó e o pai que nunca conheceu, faz a pé o caminho de Juazeiro do Norte até a
pequena Candeia, enfrentando a inclemência do sol do sertão. Ao
chegar, encontra quase uma cidade fantasma e se abriga na cabeça oca e
gigantesca de uma estátua de santo Antônio e começa a escutar uma confusão de
preces femininas dentro da cabeça do santo. Imita Pedro Páramo, romance do mexicano Juan Rulfo que influenciou
Garcia Márquez (promotor da oficina de que a autora
participou em Cuba). Há realismo
fantástico com péssimos diálogos, fraquíssimo desenvolvimento de personagens,
ambientação clichê e lapsos narrativos. Irritante além da medida.

5 - O HOMEM DA FORCA- Segundo livro que li da autora norte-americana
Shirley Jackson (após Assombração da Casa da Colina), mas que não me arrebatou
tanto. A autora é reconhecida por suas obras de horror e mistério e influência
para autores como Stephen King, Neil Gaiman e Donna Tartt. A protagonista de 17
anos, anseia deixar a casa dos pais e entrar na universidade
e quando isso ocorre suas pequenas certezas se evaporam. Ela não é mais capaz
de compreender onde termina a realidade e onde começa sua alucinação.
Há um contínuo crescimento da dissociação mental, diluição da identidade
envolvendo abuso sexual e suicídio. O título original O
Enforcado parece mais adequado já que a história aborda o tema da carta do Tarô, que traduz o dilema da infeliz protagonista.


6 e 7 - O SEGREDO DA EMPREGADA e A EMPREGADA ESTÁ DE OLHO – Este ano resolvi ler os três best seller de Freida McFadden. O primeiro, que já comentei, foi A Empregada e agora li os outros dois. Novamente temos um assassinato e vários plot twists, mas a autora consegue ser eficiente. São entretenimento honesto e bom passatempo. Se no primeiro livro conhecemos Millie, que trabalha como faxineira e se envolve em crimes, nos dois seguintes ela divide a narrativa com outros personagens fazendo a história ter reviravoltas narrativas com diferentes pontos de vista.

8 - O ACONTECIMENTO - De Annie
Ernaux. Primeiro livro que li da ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de
2022. Aqui ela retorna ao ano de 1963 quando era uma estudante de 23 anos que
engravida do namorado e sem poder contar com o apoio dele ou da própria família
numa época em que o aborto era ilegal na França, ela vive praticamente sozinha
o acontecimento que destrincha quarenta anos depois. A descrição do aborto é
brutal e extremamente impactante. E a autora reflete sobre a onipresença da lei
e seu imperativo sobre o corpo feminino. O livro foi adaptado para o cinema com
o mesmo título e ganhou o Leão de Ouro em Veneza e venceu o prêmio César de
Melhor atuação feminina em 2021 e 2022.

9 - OS ANOS – Segundo livro seguido que li de Annie Ernaux. Uma
autobiografia impessoal usando um sujeito coletivo que ocupa o lugar do eu para
dar luz a um novo gênero literário onde recordações pessoais se mesclam à
História, o que atualmente é conhecido como autoficção. Nascida em 1940, ela afirma que era tarde demais para se lembrar da
guerra, mas que foi receptora das recordações e mitologias familiares. Passamos
por seis décadas com eventos como a Guerra da Argélia, a revolução dos
costumes, o nascimento da sociedade de consumo, as principais eleições
francesas, a virada do milênio, o 11 de Setembro e as inovações tecnológicas.

10 - EU SEI POR QUE O PÁSSARO CANTA NA GAIOLA - Primeiro livro que li da
autora e ativista dos direitos humanos dos EUA, Maya Angelou, publicado
originalmente em 1969. Aqui ela conta episódios da sua infância e juventude
quando foi criada por sua avó no sul segregacionista e racista. A autora foi
amiga de personalidades como Nelson Mandela, Barak Obama, Martin Luther King
entre outros e também uma poeta laureada e relembra episódios dolorosos como um
estupro sofrido na infância e o grande carinho pelos pais e irmão. O livro
aborda o poder da educação e da literatura na transformação do indivíduo. Esse
livro tornou-se um clássico internacional e foi o primeiro de uma série de
relatos autobiográficos que transformaram a autora em uma figura literária de
destaque mundial.

11- JANE EYRE - Com 530 páginas, esta foi a primeira obra que li da
autora Charlotte Brontë, que divide com Orgulho e Preconceito e outros livros de Jane Austen o panteão de grandes obras literárias de autoras inglesas do século
XIX. Clássico da literatura à frente do seu tempo pelo protagonismo de uma
personagem feminina forte e explorar questões de classe, sexualidade, religião
e gênero. História da órfã que sofre desde pequena sendo maltratada pela tia, em seguida pena numa horrível escola de meninas e consegue superar essas adversidades graças à sua natureza firme e independente, quando é contratada como governanta numa mansão
rural. Ao se envolver com seu patrão, descobre um segredo terrível. Romance gótico com crítica social e moral.

12 - O MISTERIOSO CASO DE STYLES – Mais um livro que li da inglesa Agatha Christie, maior autora
de livros policiais que já existiu. Este livro ficou
marcado como o primeiro livro da autora e o primeiro caso do excêntrico e
genial detetive belga Hercule Poirot. Aqui temos a sempre bem sucedida fórmula
de um assassinato e vários suspeitos em um só local. Na mansão Styles, Poirot
e seu inseparável amigo Hastings desvendarão o assassinato de Mrs. Emily
Inglethorp, em que são suspeitos seus enteados, seu segundo esposo vinte anos
mais novo e de passado nebuloso e uma série de agregados suspeitos de
envenenamento.

13 - OS RELÓGIOS - Esse livro de Agatha Christie tem um título que pode
confundir com outro livro a autora “O Mistério dos Sete Relógios”, que ainda
não li e que recentemente recebeu uma adaptação da Netflix. Essa história não me encantou, em parte
por que achei a trama artificial e desnecessariamente complicada, em parte
por que matei parte da charada no começo e por último por que a participação de
Hercule Poirot é mínima. A ideia foi desafiar Poirot a desvendar um
crime à distância, sem fazer parte direta das investigações e sem interrogar
testemunhas. Não funcionou para mim.

14 - PEQUENAS GRANDES MENTIRAS - Segundo livro que li da autora
australiana Liane Moriarty após o ótimo O Segredo do Meu Marido. Nos dois livros as capas são horríveis, mas aqui vemos que
a autora tem realmente excelente talento narrativo, principalmente na
construção de personagens femininas. Essa obra foi adaptada com sucesso para
uma série com duas temporadas tendo no elenco Nicole Kidman, Meryl Streep,
Reese Witherspoon, Laura Dern e Alexander Skarsgard. Apesar de eu já conhecer o
desfecho da história que envolve uma morte e sua investigação policial, o livro
consegue prender a atenção usando uma tensão constante já que somente no final
da narrativa você descobre quem matou e quem morreu. Os capítulos são curtos e
intercalados por trechos de depoimentos na polícia. Excelente.

15-NADA É O QUE PARECE SER – Este é o sexto livro que li de Patrícia Highsmith, a incrível autora da série de romances policiais O Talentoso Ripley, que foi adaptado
várias vezes para as telas. Aqui, em 592 páginas temos uma compilação dos
melhores textos esparsos da escritora considerada pelo Times, a melhor autora
de suspense de todos os tempos. São 28 contos em que ela experimenta técnicas
narrativas diferentes em histórias de mistério que carregam sua marca própria
em que se sobressai a humanidade de seus heróis e heroínas extraídos das
pessoas comuns e que conseguem coroar sua existência com inesperadas vitórias.
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