27.9.23

A NOITE DAS BRUXAS

De todos os autores que já li, ninguém supera em número de leituras a “Dama do Crime” Agatha Christie. Das suas mais de 80 obras publicadas, já li mais de 50 entre romances, contos e peças de teatro. Entretanto, o seu livro A Noite das Bruxas não estava entre eles. 

Confesso que o li muito mais motivado pela recentíssima adaptação para o cinema feita pelo ator e diretor britânico Kenneth Branagh que tem vindo numa onda de adaptações de livros da autora, iniciando com Assassinato no Expresso do Oriente e seguindo com Morte no Nilo, onde ele interpreta o icônico detetive Hercule Poirot. 

Gostei muito do livro, mas não posso falar o mesmo dessa terceira adaptação para o cinema. Não entendi, inicialmente, o que me desagradou no filme, mas após ler o livro em dois dias descobri o que me incomodava. 

Inicialmente, as atmosferas das duas obras são bastante diferentes. A história original se passa numa pacata cidadezinha inglesa e foi transposta, sem qualquer razão, para a bela Veneza do meio do século passado. 

Independentemente do fato de que qualquer coisa que se passa em Veneza ser linda, fica óbvia a forçada da mão para repetir uma fórmula, levando a história para outra paisagem idílica, como aconteceu com boas razões e ótimos resultados nas duas adaptações anteriores. 

Por falar em fórmula, aqui o diretor repete uma mão pesada que parece querer que seu personagem roube todas as cenas descartando muitas vezes a luxuosa participação dos ótimos atores coadjuvantes. A vencedora do Oscar Michelle Yeoh faz um papel excelente, mas tem pouquíssimo espaço para desenvolvimento na trama. Dá até para pensar que o diretor não queria alguém para lhe fazer sombra.

Incomodou-me demais que diversos personagens da trama original foram completamente descartados com inclusão de outros inexistentes no livro e a mutilação do papel de outros.  Os personagens da atriz Camille Cottin (Olga) e do ótimo ator mirim Jude Hill (Leopold) só têm de iguais ao livro os seus nomes, mas nem são os mesmos personagens. Por sinal, a revelação final envolvendo o pequeno Leopold é tão constrangedora que merecia uma framboesa de ouro de edição mal caprichada.

Filmagem burocrática e dinâmica frenética da montagem, a bobagem da inclusão de supostos elementos sobrenaturais e os sustos forçados nem de longe lembram o ritmo do original. Sei que filme e livro são formatos diferentes e exigem abordagens diferentes, mas não me altere o samba tanto assim. Até os assassinatos são diferentes do livro. Sinceramente, foi uma bola fora total.




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