A
primeira vez que soube desse livro do cubano Leonardo Padura foi numa matéria
em que os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff diziam que o estavam lendo e
elogiavam a obra. Na ocasião, decidi que não iria lê-lo já que os dois petistas
gostaram tanto dele.
Pois
li. Não pergunte o porquê, são muitas coisas...
Ainda não sei
se gostei. Talvez tenha gostado e não queira admitir. O fato é que não consegui
largar suas 590 páginas.
O cubano
Leonardo Padura levou dez anos escrevendo “O Homem que Amava os Cachorros”, uma
obra premiada internacionalmente e invejável, com o mérito extra da coragem em
abordar o assassinato do revolucionário Leon Trotski por ordem de Stalin, tema
ainda hoje, 70 anos depois, quase tabu entre os comunistas, principalmente em
Cuba, a terra do seu autor.
O romance é
uma ficção baseada em fatos históricos narrada em três tempos. Simultaneamente,
acompanhamos os conflitos internos do escritor cubano Ivan Cárdenas, os
périplos do russo expatriado Leon Trotski e o treinamento do seu assassino, o
comunista catalão Ramon Mercader. Em comum, o apego dos três homens aos cães.
O narrador
principal, o fictício Ivan Cárdenas, é um alter ego de Padura, um escritor
cubano com um futuro promissor até ter seus textos censurados pelos
revolucionários da ilha de Fidel. Escreve Ivan pela pena de Padura: “aquele
conto era inoportuno, não publicável, completamente inconcebível, quase
contrarrevolucionário – e ouvir aquela palavra, como devem calcular, provocou
em mim um arrepio, evidentemente de pavor. Eles esperavam que uma coisa assim
não voltasse a acontecer e que eu pensasse um pouco mais quando voltasse a
escrever, porque a arte era uma arma da revolução”.
Ivan, que até
então sonhava ser um escritor, vê-se sufocado pela teia da burocracia política,
assistindo ao próprio declínio pessoal e profissional. Em paralelo,
acompanhamos o destino traçado pela perseguição ideológica à arte de outro
escritor, o poeta russo Vladimir Maiakovsky, que se matou por não conseguir
aliar sua arte aos ditames da ditadura comunista: “O silêncio de Maiakovski
pressagiava outros silêncios tanto ou mais dolorosos que se verificariam no
futuro. A intolerância política que invadia a sociedade não descansaria
enquanto não a asfixiasse. Tal como sufocaram o poeta”.
Em meio às
suas reflexões sobre as tramas do destino, Ivan encontra pela primeira vez um
velho e misterioso estrangeiro numa praia de Havana. Os encontros seguidos dos
dois levarão o leitor a conhecer as dramáticas histórias de Trotsky e do seu
assassino Ramon Mercader. As trocas de
confidências entre os dois homens, sempre à beira do mar de Havana, homens
vergados pelo destino como palmeiras maltratadas por um furacão — no livro há
um furacão de nome Ivan —, faz Padura constatar que: “a dor e a miséria figuram
entre aquelas poucas coisas que, quando repartidas, tornam-se sempre
maiores”.
A série da Netflix |
Ao mesmo tempo, seguimos os passos do catalão que viria a matá-lo com uma picareta na cabeça e toda a sua preparação por anos até ser infiltrado no fechado grupo de amigos e protetores de Trotsky.
Dos três homens da história do livro, o
assassino é o que vive mais tempo. Ele foi salvo do linchamento nas mãos dos
guarda-costas pelo próprio Trotsky que, prestes a morrer, ordena que ele seja
interrogado. A seguir, enfrenta inúmeros interrogatórios e torturas físicas e
psicológicas. Encarcerado por 20 anos em uma prisão mexicana, considerada o
pior inferno na terra, é libertado e vive por anos em uma Moscou cinzenta e
gelada, “ouvindo” dia após dia, o grito de dor e surpresa da sua vítima ao
receber o golpe fatal.
A Netflix
exibe em oito capítulos a luxuosa e tendenciosa minissérie russa Trotsky. O
livro é infinitamente melhor.
1 comment:
Deve ser muito interessante! Fiquei com vontade de lê! Você, como sempre, dando dicas maravilhosas! Arrasou, amigo!
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