Assisiti ao lançamento do esperadíssimo filme Tropa de Elite 2 na última sexta-feira, dia da sua estreia nacional. No Iguatemi está em cinco salas; em Salvador está em 20 cinemas e no Brasil são 636 salas. Fiquei imensamente feliz em constatar que todas as sessões tinham lotação esgotada. Após longa espera na fila, adquiri meu ingresso e desfrutei da segunda parte da alegria: o filme é ainda melhor do que o primeiro, que já era ótimo.
Tropa de Elite 2 traz de volta o polêmico Capitão Nascimento, agora Coronel, encarnado soberbamente pelo ator Wagner Moura, dez anos mais velho e mais intenso ainda do que no primeiro filme. Nascimento agora foi alçado a um cargo na Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro e lá do alto enfrenta inimigos mais perigosos do que os traficantes dos morros e favelas cariocas que o infernizavam e a corrupção da PM. Agora, como diz o subtítulo do filme: "O inimigo é outro".
Se o inimigo é outro, é mais forte e peigoso. Os políticos!
O filme radiografa com todas as suas cores sórdidas a relação promíscua entre políticos oportunistas com as milícias paramilitares e os traficantes cariocas. O filme não é maniqueísta. Nascimento não é um santo e Wagner Moura revela em inúmeras cenas o porquê do sucesso do personagem: sua sinceridade. Nascimento consegue a proeza de ser transparente mesmo fugindo da dicotomia bom ou mau; preto ou branco; bandido ou mocinho. Está muito mais em uma zona cinzenta mas é justamente aí que mais revela sua translucidez. Em uma cena muito forte de um filme repleto delas, revela num discurso: "Meu filho, aos dez anos, me perguntou porque a minha profissão era matar. E eu não soube como responder".
O filme do diretor José Padilha é espetacular. Normalmente fico com o pé atrás quando o filme tem narativa em off. Entendo que uma obra dramaturgica deve se sustentar pelas próprias imagens, cenas, edição, efeitos, fotografia, iluminação e diálogos. Narrativa é para literatura. Mas em Tropa de Elite 2 a narrativa do protagonista é precisa, sem redundância, entra nos momentos e pontos certos. Cirúrgica!
Nascimento está mais experiente, separou-se da mulher, está em conflito com o filho, em conflito com antigos companheiros do BOPE, em conflito consigo mesmo. Um homem a ponto de explodir. Um homem a ser eliminado. Esse perfil psicológico muito mais profundo torna o protagonista dono de uma densidade inquestionável. Impossível não vibrar com ele a cada fibra de sua amargura.
José Padilha escolheu um elenco afiadissimo, uma edição ágil, sonoplastia de primeira e uma trilha sonora pancadão: "Tropa de Elite/Osso duro de roer/Pega um, pega geral/Também vai pegar você". Bate no coração, no ritmo de marcha acelerada. Aguenta, Nascimento!
O crítico de cinema Luiz Carlos Mertem escreveu que se o filme fosse lançado antes da realização do 1º turno, teria causado um estrago muito grande no processo eleitoral. "Dilma e Serra vão ter que encarar o problema da segurança e discutir o Tropa de Elite 2 no segundo turno. O filme pega essa questão do legislativo, do político ficha suja, do deputado federal, do estadual...e no final ele amplia isso para Brasília".
Para contribuir um pouco para tal alálise, sugiro ao leitor que verifique no site: Mapa da Violência(www.institutosangari.org.br/mapadaviolencia) que é uma verdadeira anatomia dos homicídios no Brasil, uma série publicada desde 1998 que se tornou referência internacional sobre o tema.
Ali você verá que na cidade de São Paulo, a violência cresce menos do que no Brasil. Entre 2002 e 2007, os homicídios por cada 100 mil habitantes no Nordeste cresceram 32,4%. Na Bahia, o aumento foi de 97% enquanto em São Paulo a queda foi de 60,5%. A redução de 11,57% no país como um todo se deveu a São Paulo.
Na cidade do Rio de Janeiro a taxa de homicídios é 35,1. Salvador fica em 152º posição no ranking de cidades mais violentas do pais enquanto São Paulo, que tem a maior população do Brasil está com índice de 17,4 e fica em 1,358º lugar no ranking de violencia. Se em Salvador a violencia só aumenta a cada ano: 2003 (730); 2004 (739); 2005 (1.062); 2006 (1.187); 2007(1.357). São Paulo registra queda constante 2003 (5.591); 2004 (4.275); 2005 (3.096); 2006 (2.556); 2007 (1.927).
Números são áridos. Melhor é falar em cinema e política. Vá assistir a Tropa de Elite 2 e depois vá votar.
No comments:
Post a Comment