26.9.10

A bênção da bolsa e a maldição da memória


“Um povo que abre mão de um pouco de liberdade por um pouco de segurança, certamente não merece nenhuma das duas”. Lembrei-me desta frase do intelectual Benjamin Franklin ao refletir sobre o eleitor brasileiro nesta campanha para a Presidência em que, ao que tudo indica, elegerá a candidata do presidente Lula.

Está evidente que a grande maioria do eleitorado brasileiro está agindo como o povo da frase de Benjamin Franklin. Está pensando como consumidor e não como cidadão. Parafraseando-o eu diria: um eleitorado que troca um pouco da sua consciência por um pouco de dinheiro, certamente não faz jus a nenhum dos dois.

E é pensando com o bolso (ou com o estômago) e não com o cérebro, que o País elegerá a candidata de Lula. Não importam as bravatas do presidente da República e o descarado e escancarado uso da máquina pública em favor da sua candidata. Não importa que eles se aliem à escória da política nacional, que instalem um balcão de negociatas na Casa Civil, que reneguem seu passado, que aparelhem o Estado, cooptem organizações como UNE e sindicatos, que esgarcem as instituições e se iluda a população com informações falsas, que se apropriem da história e das conquistas do governo anterior, que se afaguem ditadores, que se tente calar a imprensa livre. Para eles, quem não bajula o governo é necessariamente ruim e deve ser calado, exterminado, censurado. Tentaram sempre e tentarão sempre controlar a produção cultural e intelectual. Só lhes interessa a louvação e o elogio. Estamos tratando do mais puro populista, que é o oposto do estadista. Um estadista pensa nas próximas gerações. O populista pensa nas próximas eleições.

Tudo se permite àquele que é popular, que passou a mão pela cabeça de todos os corruptos do seu governo, que debocha da Justiça Eleitoral. As coisas ficam mais interessantes quando se constata que se há quem deva realmente pensar com o bolso são os banqueiros, corruptos, aloprados, mensaleiros e especuladores, pois nunca passou tanto dinheiro por baixo desses panos, sejam de cuecas, meias ou bolsas. Estão semre recheados.

Entretanto, como se constata, a maior parte dos eleitores de Lula e da sua criatura é oriunda dos grotões, são os menos escolarizados e com renda mais baixa. O cineasta Claude Chabrol já dizia: “A estupidez é infinitamente mais interessante que a inteligência. A inteligência tem limites, mas a estupidez não”. É lógico que se trata de uma ironia, uma frase de efeito que guarda uma verdade cinematográfica. Pena que estamos falando da vida real e não de um filme. Na vida real tudo deveria ter um limite.

Em cinema diz-se que um filme precisa apenas obedecer a uma verdade interna. Na tela se pode fazer os maiores absurdos, pode-se respirar um ar irrespirável, saborear o insuportável, digerir o inconcebível..mas sempre com a tal verdade interna.

Se na vida real houvesse o mesmo código do cinema, não veríamos impunemente posar de estadista aquele mesmo PT que sabotou o Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves, que expulsou do partido três deputados que votaram em Tancredo...e lá está Dilma Roussef fazendo proselitismo no túmulo de Tancredo. Foi esse mesmo partido que tachou a Constituição de tramóia das elites; que não homologou a Carta Magna. Foi o PT que após a renúncia de Collor e durante o governo Itamar Franco, expulsou Luiza Erundina e Walter Barelli por participarem como ministros do governo da reconstrução dos cacos do país. Foi o PT que garantiu que o Plano Real era contra os trabalhadores, que se opôs ao programa de reestruturação de bancos, chamando-o de mamata para banqueiros, sendo que foi graças ao Proer que solidificou o sistema bancário brasileiro, que escapamos da crise mundial. O mesmo PT negou-se a participar do programa de reestruturação dos bancos estaduais, opôs-se às privatizações, às reformas constitucionais e depois, já no poder, as implantou, como a Reforma da Previdência.
Quem lembra que foi o PT quem recorreu ao Supremo contra a Lei de Responsabilidade Fiscal e a Reforma da Previdência? E quem se lembra de Lula chamando a Bolsa Escola de FHC de esmola? Ninguém lembra? Por que não consigo esquecer essas coisas? É algum tipo de maldição da memória? Fico lembrando...lembrando...E penso naquele personagem de Matrix: “A ignorância é uma bênção”.

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