Encerrando a série Mulher é um bicho esquisito quero homenagear o estudo “Piriguetes e putões: representações de gênero nas letras de pagode baiano”, de Clebemilton Gomes do Nascimento.
Clebemilton traça, brilhantemente, um perfil desse fenômeno ideológico, desse habitat cultural onde brotam, como cogumelos comestíveis, seres que formam um biotério auto- suficiente. Esse locus amoenus é o pagode baiano, gênero onde tudo cresce e florece e em se plantando tudo dá!
Talvez você não tenha reparado, pois está sempre submetido a tantas relações de poder (o chefe, o professor, o diretor, o juiz, o supervisor, o pai, a mãe, o policial....) que no caso das piriguetes há uma nada sutil relação de poder envolvida. E o pior de tudo é exatamente a naturalização disso e sua utilização como linguagem natural pelas próprias mulheres.
A linguagem tem um enorme poder inclusive o de transformar conceitos e de formar mentalidades e sentido. Por isso, os grupos feministas sempre se recusaram a contribuir com a construção hierárquica lingüística entre o masculino e o feminino. No momento em que construímos uma terminologia para classificar alguém ou algum grupo especifico de indivíduos, essa linguagem por menos transparente que seja carrega um processo ideológico que preserva hegemonias.
O macho branco heterossexual está no topo da hierarquia da linguagem e da ideologia da linguagem o que acaba sendo praticamente a mesma coisa. O que vem depois é o resto: negros, gays e mulheres “Enquanto os homens exercem seus podres poderes índios, padres e bichas, negros e mulheres e adolescentes...
Fazem o carnaval!” (Caetano Veloso sabe tudo).
Carnaval e pagode são faces da mesma moeda baiana e aqui o macho dominante assume a sua novíssima nomenclatura: putão, trazendo toda a carga positiva, hegemônica e viril que o termo carrega. Enquanto isso, o termo piriguete, no outro extremo, carrega carga pejorativa
O putão, apesar de a gramática permitir, não tem, no aumentativo masculino, a carga negativa do termo feminino do qual deriva. Inegavelmente ligado ao desejo sexual exacerbado e à virilidade, carrega status por si só. Por ser homem.
No vocabulário das letras de pagode encontramos, para “qualificar” os homens os termos: putão, miseravão, espada, cachorrão. Para as mulheres, todas denominadas de piriguetes são sinônimos: pidona, galinha, fuleira, canhão, cachorra, cachorrona Seguindo a assimetria que se encontra na base da linguagem, todas são denominações usadas para “(des)qualificar” as mulheres.
Piriguete se relaciona a imagens de mulher fácil, disponível, a ninfomaníaca. Veja como o termo piriguete é definido em um extinto jornal de Salvador: "[... ]tem a Piriguete safadinha (aquela feinha que os caras caem matando porque tem cara que é boa de cama), florzinha (fica com seus amigos mais próximos mas é carinhosa, também conhecida como meigalinda), a mascarada (diz que faz e acontece mas ainda é virgem), enrustida (diz para os pais que vai dormir na casa de amigas e sai para a gandaia), recordista (fica com mais de 10 por noite), docinho (dá mole e na hora do vamos ver finge que é santinha) e escopeteira (só fica com cara que pague o ingresso, a cerveja e ainda escolhe o motel que vai dormir)."
Se você pensa que quem escreveu isso foi um homem ou um putão está enganado. Foi uma mulher e mostra a incorporação do discurso dominante masculino. Por isso encerro com uma pérola do cancioneiro do pagode. Trecho do hit “Gaiola das Popozudas” da compositora Waleska: “Eu vou pro baile procurar o meu negão,/ Vou subir no palco ao som do tamborzão/ Sou cachorrona mesmo/ E late que eu vou passar/ Agora eu sou solteira e ninguém vai me segurar/ Dj aumenta o som”.
Clebemilton traça, brilhantemente, um perfil desse fenômeno ideológico, desse habitat cultural onde brotam, como cogumelos comestíveis, seres que formam um biotério auto- suficiente. Esse locus amoenus é o pagode baiano, gênero onde tudo cresce e florece e em se plantando tudo dá!
Talvez você não tenha reparado, pois está sempre submetido a tantas relações de poder (o chefe, o professor, o diretor, o juiz, o supervisor, o pai, a mãe, o policial....) que no caso das piriguetes há uma nada sutil relação de poder envolvida. E o pior de tudo é exatamente a naturalização disso e sua utilização como linguagem natural pelas próprias mulheres.
A linguagem tem um enorme poder inclusive o de transformar conceitos e de formar mentalidades e sentido. Por isso, os grupos feministas sempre se recusaram a contribuir com a construção hierárquica lingüística entre o masculino e o feminino. No momento em que construímos uma terminologia para classificar alguém ou algum grupo especifico de indivíduos, essa linguagem por menos transparente que seja carrega um processo ideológico que preserva hegemonias.
O macho branco heterossexual está no topo da hierarquia da linguagem e da ideologia da linguagem o que acaba sendo praticamente a mesma coisa. O que vem depois é o resto: negros, gays e mulheres “Enquanto os homens exercem seus podres poderes índios, padres e bichas, negros e mulheres e adolescentes...
Fazem o carnaval!” (Caetano Veloso sabe tudo).
Carnaval e pagode são faces da mesma moeda baiana e aqui o macho dominante assume a sua novíssima nomenclatura: putão, trazendo toda a carga positiva, hegemônica e viril que o termo carrega. Enquanto isso, o termo piriguete, no outro extremo, carrega carga pejorativa
O putão, apesar de a gramática permitir, não tem, no aumentativo masculino, a carga negativa do termo feminino do qual deriva. Inegavelmente ligado ao desejo sexual exacerbado e à virilidade, carrega status por si só. Por ser homem.
No vocabulário das letras de pagode encontramos, para “qualificar” os homens os termos: putão, miseravão, espada, cachorrão. Para as mulheres, todas denominadas de piriguetes são sinônimos: pidona, galinha, fuleira, canhão, cachorra, cachorrona Seguindo a assimetria que se encontra na base da linguagem, todas são denominações usadas para “(des)qualificar” as mulheres.
Piriguete se relaciona a imagens de mulher fácil, disponível, a ninfomaníaca. Veja como o termo piriguete é definido em um extinto jornal de Salvador: "[... ]tem a Piriguete safadinha (aquela feinha que os caras caem matando porque tem cara que é boa de cama), florzinha (fica com seus amigos mais próximos mas é carinhosa, também conhecida como meigalinda), a mascarada (diz que faz e acontece mas ainda é virgem), enrustida (diz para os pais que vai dormir na casa de amigas e sai para a gandaia), recordista (fica com mais de 10 por noite), docinho (dá mole e na hora do vamos ver finge que é santinha) e escopeteira (só fica com cara que pague o ingresso, a cerveja e ainda escolhe o motel que vai dormir)."
Se você pensa que quem escreveu isso foi um homem ou um putão está enganado. Foi uma mulher e mostra a incorporação do discurso dominante masculino. Por isso encerro com uma pérola do cancioneiro do pagode. Trecho do hit “Gaiola das Popozudas” da compositora Waleska: “Eu vou pro baile procurar o meu negão,/ Vou subir no palco ao som do tamborzão/ Sou cachorrona mesmo/ E late que eu vou passar/ Agora eu sou solteira e ninguém vai me segurar/ Dj aumenta o som”.
Karl Marx já dizia “A dominação do homem pelo homem foi precedido da dominação da mulher pelo homem”. Como seria isso em ritmo de pagode?
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