29.1.09

Mulher é um bicho esquisito (1ª parte)



Do altar do seu divã, entre uma baforada de charuto e uma valsa vienense, o velho doktor Freud já se perguntava: “Afinal o que querem as mulheres?”. Apesar de clichê, essa pergunta continua atual. E sem resposta.

Afinal, mulher é mesmo um bicho diferente do homem. O mulherio aprecia o cavalheirismo e detesta uma cafajestice. Para o Houaiss, cavalheirismo é “qualidade ou modos de cavalheiro; distinção, gentileza, nobreza”. Ou seja, própria do gênero masculino.

Palavras são criadas independentemente dos dicionários para atender às necessidades do seu uso. Se uma palavra não existe ou é incomum é porque é quase desnecessária. Quem já ouviu falar no termo equivalente feminino a cavalheirismo?

Mas ele existe e está lá no mesmo Houaiss: damismo: “reunião de damas”. Mas há um detalhe no verbete, e o diabo mora nos detalhes que é: “por derivação metonímica damismo é comportamento gentil e elegante; madamismo”. O que chama a atenção é a tal derivação por metonímia, uma figura de retórica que adapta uma palavra fora do seu contexto semântico normal. Damismo seria, assim, só por força retórica, equivalente a cavalheirismo.

Mas cafajeste, também, se aplica ao gênero masculino. Na sua roupagem moderna, cafajestes seriam os atuais “putões”, verbete ainda ausente dos dicionários, mas presente nos usos e costumes. Piriguetes seriam o seu equivalente de saias.

Entre os cavalheiros e os cafajestes o mulherio encontra outro ser intragável: o metrosexual. Para mim esses caras não passam de vítimas de uma estratégia comercial em busca de dinheiro dos bestas. Homens que ficam horas se produzindo diante do espelho com mil cremes e cosméticos além de terem alguma neurose certamente não têm noção alguma do ridículo.

As mulheres deveriam brigar para manter essa trincheira exclusiva do mulherio. Deveriam fazer barricadas e impedir o acesso dos homens aos seus redutos. Munidas de secadores, tesouras e alicates de unha, defenderiam os salões de beleza. Ali só entrariam as mulheres e os gays assumidos. Israel não joga bomba em Gaza? Elas atirariam vidros de esmalte e tubos de tinta de cabelo. Sob grande ameaça, se defenderiam com a arma mais temida: o napalm da cera quente de depilação.

A mulher abomina o cafajeste, mas quando uma mulher quer, consegue por qualquer cafajeste no chinelo. Felizmente esse comportamento não é comum nos ambientes em que transito. As mulheres que conheço ainda não são craques na nobre arte da piriguetagem. Devo estar andando pouco.

Mas eis que em pleno domingo em casa, as piriguetes chegaram até mim.

Há alguns dias, meus vizinhos viajaram deixando o apartamento com o filho adolescente e o garoto resolveu, em um domingo de sol, dar uma festa na piscina da cobertura. Imagine o que pode surgir de tal combinação: piscina, domingo de sol e hormônios adolescente em liberdade. Sem que eu precisasse ver nada, apenas pela narrativa aos gritos de três moças que estavam na farra, tive a “visão” exata da bacanal que acontecia.

Impressionei-me com a quantidade de palavrões que as garotas usavam. Parecia mesmo haver uma espécie de competição entre as três para definir quem conseguia narrar mais sacanagem (terminologia aceita no beletrismo junto com o sifu, vide discurso presidencial, mas essa é outra sacanagem).

As três moças narravam, em alto volume, com riqueza de detalhes, tudo o que acontecia naquela piscina. O interessante é que pouco se ouvia das vozes dos rapazes. E eu que pensava que entre piriguetes e putões, estes se impunham. Ledo engano.

Ali estava eu, fazendo reflexões sobre a festa no apê, mas e se, em vez disso, houvesse uma dona de casa tendo que ouvir tamanha carga de putarias? No final ela é que seria a chata por se indignar e por jogar areia na festinha dos jovens repletos de hormônios. Felizmente, para eles, sou um vizinho nada careta, apesar de dado a reflexões. O fato é que o mulherio lutou tanto por igualdade, que ultrapassou os homens em muitos momentos. E elas nem mesmo notam.

Meu colega Eduardo Santiago, a quem contei essa história, defendeu ardorosamente as moças, afirmando que elas estavam certíssimas. Para mim, não é uma questão de certo ou errado, pois não sou moralista nem juiz de comportamento, mas fico refletindo sobre o que leva homens a fazerem depilação e mulheres a narrarem bacanais para os vizinhos.

Em seguida abordarei com mais detalhes as piriguetes, essas incompreendidas.

1 comment:

Unknown said...

Já aguardo a parte 2 dessa narrativa. Você, como sempre, é nota dez.