Do altar do seu divã, entre uma
baforada de charuto e uma valsa vienense, o velho doktor Freud já se
perguntava: “Afinal o que querem as mulheres?”. Apesar de clichê, essa pergunta
continua atual. E sem resposta.
Afinal, mulher é mesmo um bicho
diferente do homem. O mulherio aprecia o cavalheirismo e detesta uma
cafajestice. Para o Houaiss, cavalheirismo é “qualidade ou modos de cavalheiro;
distinção, gentileza, nobreza”. Ou seja, própria do gênero masculino.
Palavras são criadas
independentemente dos dicionários para atender às necessidades do seu uso. Se
uma palavra não existe ou é incomum é porque é quase desnecessária. Quem já
ouviu falar no termo equivalente feminino a cavalheirismo?
Mas ele existe e está lá no mesmo
Houaiss: damismo: “reunião de damas”. Mas há um detalhe no verbete, e o diabo
mora nos detalhes que é: “por derivação metonímica damismo é comportamento
gentil e elegante; madamismo”. O que chama a atenção é a tal derivação por
metonímia, uma figura de retórica que adapta uma palavra fora do seu contexto
semântico normal. Damismo seria, assim, só por força retórica, equivalente a
cavalheirismo.
Mas cafajeste, também, se aplica
ao gênero masculino. Na sua roupagem moderna, cafajestes seriam os atuais
“putões”, verbete ainda ausente dos dicionários, mas presente nos usos e
costumes. Piriguetes seriam o seu equivalente de saias.
Entre os cavalheiros e os
cafajestes o mulherio encontra outro ser intragável: o metrosexual. Para mim
esses caras não passam de vítimas de uma estratégia comercial em busca de
dinheiro dos bestas. Homens que ficam horas se produzindo diante do espelho com
mil cremes e cosméticos além de terem alguma neurose certamente não têm noção
alguma do ridículo.
As mulheres deveriam brigar para
manter essa trincheira exclusiva do mulherio. Deveriam fazer barricadas e
impedir o acesso dos homens aos seus redutos. Munidas de secadores, tesouras e
alicates de unha, defenderiam os salões de beleza. Ali só entrariam as mulheres
e os gays assumidos. Israel não joga bomba em Gaza? Elas atirariam vidros de
esmalte e tubos de tinta de cabelo. Sob grande ameaça, se defenderiam com a
arma mais temida: o napalm da cera quente de depilação.
A mulher abomina o cafajeste, mas
quando uma mulher quer, consegue por qualquer cafajeste no chinelo. Felizmente
esse comportamento não é comum nos ambientes em que transito. As mulheres que
conheço ainda não são craques na nobre arte da piriguetagem. Devo estar andando
pouco.
Mas eis que em pleno domingo em
casa, as piriguetes chegaram até mim.
Há alguns dias, meus vizinhos
viajaram deixando o apartamento com o filho adolescente e o garoto resolveu, em
um domingo de sol, dar uma festa na piscina da cobertura. Imagine o que pode
surgir de tal combinação: piscina, domingo de sol e hormônios adolescente em
liberdade. Sem que eu precisasse ver nada, apenas pela narrativa aos gritos de
três moças que estavam na farra, tive a “visão” exata da bacanal que acontecia.
Impressionei-me com a quantidade
de palavrões que as garotas usavam. Parecia mesmo haver uma espécie de
competição entre as três para definir quem conseguia narrar mais sacanagem
(terminologia aceita no beletrismo junto com o sifu, vide discurso
presidencial, mas essa é outra sacanagem).
As três moças narravam, em alto
volume, com riqueza de detalhes, tudo o que acontecia naquela piscina. O
interessante é que pouco se ouvia das vozes dos rapazes. E eu que pensava que
entre piriguetes e putões, estes se impunham. Ledo engano.
Ali estava eu, fazendo reflexões
sobre a festa no apê, mas e se, em vez disso, houvesse uma dona de casa tendo
que ouvir tamanha carga de putarias? No final ela é que seria a chata por se
indignar e por jogar areia na festinha dos jovens repletos de hormônios.
Felizmente, para eles, sou um vizinho nada careta, apesar de dado a reflexões.
O fato é que o mulherio lutou tanto por igualdade, que ultrapassou os homens em
muitos momentos. E elas nem mesmo notam.
Meu colega Eduardo Santiago, a
quem contei essa história, defendeu ardorosamente as moças, afirmando que elas
estavam certíssimas. Para mim, não é uma questão de certo ou errado, pois não
sou moralista nem juiz de comportamento, mas fico refletindo sobre o que leva
homens a fazerem depilação e mulheres a narrarem bacanais para os vizinhos.
Em seguida abordarei com mais
detalhes as piriguetes, essas incompreendidas.
1 comment:
Já aguardo a parte 2 dessa narrativa. Você, como sempre, é nota dez.
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