17.4.08

Culpa com Feriados Diferentes I


Inauguro hoje a coluna: “Culpa com Feriados Diferentes”. Pretendo nela falar de um só tema: Religião. Grande parte do que aqui for escrito deriva do meu absoluto encantamento por um livro que acabo de terminar a leitura: Deus, um Delírio, do geneticista Richard Dawkins, um ateu combativo, divertido e inteligentíssimo, cujos livros viram best sellers em todos os países em que são publicados.

A coluna é fruto dessa recente paixão. O próprio título é tirado de uma frase (citada no livro), da comediante Caty Ladman: “Todas as religiões são iguais. Basicamente é a mesma culpa, mas com feriados diferentes”.

Impressiona-me quando alguém tenta discutir religião. É que se decidiu que esse é um assunto sobre o qual não se pode criticar. Dawkins diz: “Minha linguagem só soa contundente e destemperada por causa da estranha convicção, quase universalmente aceita, de que a fé religiosa é dona de um privilégio único acima de qualquer crítica”.

A paixão religiosa se expressa contrária à ciência, mas a ciência não pode se manifestar contra a fé. Veja o que diz o renomado criacionista americano Kurt Wise: “Se todas as evidências do universo se voltarem contra o criacionismo, serei o primeiro a admiti-las, mas continuarei sendo criacionista, porque é isso que a Palavra de Deus parece indicar”. Se isso não for chamado de fundamentalismo religioso e mentalidade cega, não sei mais o que é. Esse suposto “cientista” está dizendo que mesmo que a ciência prove algo com 100% de certeza, ainda assim ele vai acreditar no contrário.

Dawkis imagina, como Jonh Lennon na canção, um mundo sem religião, sem ataques suicidas, sem homens-bomba, sem Cruzadas, sem caça às bruxas, sem Inquisição ou Holocausto, sem Israel x Palestinos, Sévios x Croatas x Muçulmanos, Irlanda do Norte, sem pogroms aos judeus, sem talibãs e açoites públicos, sem infibulação clitoriana, ou seja, sem religião.

Exemplo de fundamentalismo cristão: a música Imagine, de Lennon, é editada em inúmeras rádios católicas americanas, onde é expurgada a frase da canção “and no religion too”. Lembro que Lennon dizia “Deus é algo pelo qual o homem mede a sua dor”. Sempre cito essa frase quando alguém me alerta que na hora da dor não terá jeito, clamarei por Deus. Na hora da dor a gente chama qualquer coisa. O ser humano é programado para evitar o sofrimento. Por isso nas torturas se confessa tudo. Só fanáticos religiosos agüentam o sofrimento extremo sem capitular na fé ou, felizes, se explodem atados a bombas. Isso vai contra a natureza humana e essas pobres criaturas não são exemplos a serem seguidos. Apesar de muitos serem santificados ou brindados, no paraíso, com virgens às centenas.

Acusam-se, com razão, os muçulmanos de serem religiosos fanáticos, mas o país mais fundamentalista do mundo são os Estados Unidos. Dawkins denuncia que o status atual dos ateus naquele país é equivalente ao dos homossexuais nos anos 50. Uma pesquisa do Gallup de 1999 perguntou a chance de os americanos votarem em uma mulher (95% votariam), um católico (94%), um judeu (92%), um negro (92%), um mórmon (79%), um homossexual (79%), um ateu (49%)!

Robert Pirsig, autor de Zen e a Arte de Manutenção de Motocicleta sabiamente dizia: “Quando uma pessoa sofre um delírio se chama de insanidade. Quando muitas pessoas sofrem de um delírio, isso se chama religião”. E o físico e prêmio Nobel Steven Weinsberg comenta: “Algumas pessoas têm uma versão de Deus tão ampla e flexível que é inevitável que encontrem Deus onde quer que procurem. Como qualquer palavra, a palavra Deus pode ter o significado que quisermos. Se alguém quiser dizer que Deus é energia, poderá encontrar Deus, por exemplo, em um pedaço de carvão.”

O poeta Fernando Pessoa fala muito bem sobre essa abundância de personas divinas no trecho do belíssimo poema O Mistério das Coisas “...Se Deus é as flores e as árvores /E os montes e sol e o luar, / Então acredito nele, / Então acredito nele a toda a hora, / E a minha vida é toda uma oração e uma missa, / E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos. /Mas se Deus é as árvores e as flores / E os montes e o luar e o sol, / Para que lhe chamo eu Deus? / Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar; / Porque, se ele se fez, para eu o ver, /Sol e luar e flores e árvores e montes, / Se ele me aparece como sendo árvores e montes / E luar e sol e flores, /É que ele quer que eu o conheça / Como árvores e montes e flores e luar e sol. / E por isso eu obedeço-lhe, /.../ E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes, / amo-o sem pensar nele, / E penso-o vendo e ouvindo, / E ando com ele a toda a hora.”

1 comment:

Moda de Viola said...

Meu caro, seu texto não possui argumentos suficientes.

Irmão! Se este escritor não é católico como pode tão bem dizer que a religião não aceita críticas? Acaso lês a bíblia? Este livro é a base de um boa religião, portanto estude-a, e quando encontrardes uma só linha que não condiza com a verdade, deverás reclamar com o fundador dessa religião que é teu PAI