13.1.08

A Trilogia da Vingança


As trilogias ocupam um lugar quase à parte na história do cinema, abrigando tanto obras-primas como filmes comerciais. Dentro dessa visão personalíssima de direção há espaço para diversas correntes, com não somente uma, mas três películas abordando um mesmo tema.


Há vários exemplos de grandes filmes desse gênero, como a Trilogia das Cores do polonês Krzystof Kieslowski (A Liberdade é Azul, A Igualdade é Branca e A Fraternidade é Vermelha) e a não tão famosa, mas igualmente sublime, trilogia do iraniano Abbas Kiarostami (Onde Fica a Casa do Meu Amigo?, A Vida e Nada Mais e Através das Oliveiras).

Agora há um novo trio para juntar a esses filmes geniais. A Trilogia da Vingança. Falo dos filmes Mr. Vingança, Old Boy e Lady Vingança, do diretor sul-coreano Park Chan-wook, não à toa considerado por Quentin Tarantino como o seu diretor favorito.

Quem ainda não assistiu aos três filmes não sabe o que está perdendo. Nem precisa assistir na ordem, apesar de que ela demonstra o aprimoramento da técnica cinematográfica de Park Chan-wook, atingindo praticamente a perfeição sublime em Lady Vingança. Os três filmes colecionam prêmios internacionais. Vamos pela ordem

Oldboy é a história de um homem que após 15 anos preso em um pequeno quarto de hotel é libertado e sai à procura do responsável pelo seu cárcere. Ele não sabe os motivos da sua prisão, nem por que foi solto. Como os outros filmes da trilogia, é visceralmente violento e belo e, entre algumas das seqüências perfeitas, possui uma cena que já pode entrar para a história do cinema: aquela em que o protagonista literalmente engole um polvo vivo. As reviravoltas da trama demonstram um roteiro bem ajustado e uma direção segura e refinada.

Mr.Vingança (Sympathy for Mr. Vengeance) é sobre um jovem surdo-mudo que tenta de tudo para conseguir um transplante de rim para sua adorada irmã. Suas tentativas de ajudá-la fracassam e ele é demitido, se envolve com uma gang de roubo de órgãos, perde todas as economias e protagoniza o seqüestro de uma criança com um final imprevisto. Imprevisto para ele, mas o espectador antecipa o drama, pois o filme segue um crescendo de tensão que explode em cenas de brutalidade e sutil ironia.

Lady Vingança, que encerra magistralmente a trilogia, impressiona desde a abertura e esse deleite continua por todo o filme com uma fotografia deslumbrante, uma trilha sonora excepcional e uma direção de arte que torna algumas cenas uma verdadeira pintura em movimento. Conta a história de uma garota injustamente presa pelo seqüestro e assassinato de uma criança. O criminoso verdadeiro, seu ex-marido, está solto e ela, após cumprir a pena de 13 anos de cadeia, também está na rua. E irá se vingar dele.

É impossível não lembrar de Kill Bill. Ambos têm uma mulher como protagonista vingadora, um marido como vilão e os dois giram em torno de uma criança. Além disso, Tarantino é fã de carteirinha de Park Chan-wook e ambas as películas fletam com outras artes. Os dois filmes estão no mesmo nível.

Lady Vingança tem narrativa não linear, num vai e vem no tempo mostrando como a personagem principal desenvolveu alguns relacionamentos na cadeia que serão fundamentais na sua elaborada vingança. O filme tem seqüências muito violentas, mas nada explícito demais. Ela é mais sugerida. Já vi coisas mais assustadoras na Sessão da Tarde e acho injusta a acusação de ser um filme para estômagos fortes. Tudo bem, não são filmes para mulherzinha, nem para quem é fã de água-com-açúcar como Outono em Nova Yorque, mas talvez também por isso eles sejam três filmaços.

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