6.12.22

OS BÓRGIAS

Há alguns dias, li essa série de quarto volumes de arte erótica criada pelo desenhista italiano Milo Manara, conhecido pelo seu traço voluptuoso, e que teve roteiro de um dos artistas multitalentos mais reconhecidos, o cineasta e poeta chileno Alejandro Jodorowsky.

A série tem excelente qualidade em papel couchê e aborda política religiosa, intrigas palacianas, conspiração pelo poder, luxúria e incesto, um fiel panorama da Igreja Católica durante a renascença italiana do final século XV.

Os quatro volumes são ricos em arte pornográfica e heresia, com diálogos crus  que devem causar calafrios em religiosos, mas não há nada nas imagens que não tenha acontecido nos quartos e salões nem tão secretos do Vaticano.

O volume 1: "Sangue Para o Papa" mostra o futuro papa Alexandre VI, ainda o poderoso cardeal espanhol Rodrigo Bórgia, tramando, subornando e matando seus adversários no conclave que ocorreu após a morte do seu predecessor, o Papa Inocêncio VIII, já famoso pela luxúria.

Os quatro filhos de Rodrigo Bórgia: Lucrécia, César, Giovanni e Jofre são cada um mais devasso e perigoso do que o outro e os desenhos dos corpos em combates físicos ou em relações sexuais em detalhes e cores vivas, são a marca registrada do desenhista Milo. 

A história dos Bórgias já foi adaptada para tv pelo diretor Neil Jordan (de Entrevista com o Vampiro, Fim de Caso e Traídos Pelo Desejo, este último que lhe rendeu dois Oscars como diretor e roteirista) com o ator Jeremy Irons interpretando o papa Alexandre VI. O escritor Victor Hugo também escreveu uma peça adaptada para a Ópera de Donizetti: Lucrezia Borgia

É chocante acompanhar o frenesi de violência de Rodrigo Bórgia que manda cortar os pênis de 150 frades amantes do belo cardeal Júlio Rovere, seu concorrente ao papado, além de matar o filho de outro cardeal arrancando-lhe os olhos com uma colher. Rodrigo não hesita em entregar sua própria amante a um velho em troca de voto.

Os volumes seguintes são: “Poder e Incesto”, “As Chamas da Fogueira” e “Tudo é Vaidade”, onde acompanhamos personagens como Leonardo da Vinci, seduzido por César Bórgia com seu próprio corpo para projetar suas máquinas de batalha e o filósofo e político Nicolau Maquiavel aconselhando César na guerra contra a França liderada pelo rei Carlos VIII. 

Uma das história que sempre me impressionaram e que está contemplada na série é a guerra aberta do icônico padre dominicano Girolamo Savonarola, inimigo do papa, que levou Florença ao que ficou conhecido como A Fogueira das Vaidades, que levou centenas de fiéis a queimarem, em um verdadeiro frenesi, todos os seus objetos de arte e de luxo, terminando por levar o próprio Savonarola a ser condenado pelo papa à fogueira. É curioso que o termo Savonarola passou a ser utilizado como adjetivo para qualificar pessoas fanáticas, já tendo sido usado para designar o presidente Jair Bolsonaro.

Fiquei fã da arte de Milo Manara, que não conhecia. Agora já quero muito ler sua biografia ilustrada do pintor italiano Caravaggio, mestre supremo do chiaroscuro renascentista. Também me interessei pelo jogo Assassin's Creed em que Lucrécia é uma antagonista ao lado de César e do pai Rodrigo. O jogo retratada abertamente a relação incestuosa entre os irmãos César e Lucrécia. 



27.11.22

UM MOMENTO DE LOUROS VERDES

Este foi o terceiro livro que li (após Criação e Ao Vivo do Calvário) e o primeiro livro de contos de autoria do romancista,  ator, tradutor, ensaísta e dramaturgo norte-americano Gore Vidal. 

Este livro, esgotado no Brasil, foi lançado nos anos 50 quando o autor estava com pouco mais de 20 anos. Ele era de uma família rica de políticos famosos, assumidamente homossexual, analista brilhante e que chegou a ser candidato ao senado nos EUA. 

Dos sete contos deste livro, que de um modo ou outro tratam do tema da homossexualidade, gostei especialmente de três: “O Papo Roxo” tem um final belíssimo sobre a perda brusca da inocência de duas crianças que tentam com dificuldade matar um pássaro que sofria com uma asa quebrada “Ficamos ali parados de pé muito tempo, sem olhar um para o outro, com a pilha de pedras entre nós. O sol brilhava, esplêndido. Nada havia mudado no mundo, mas, de súbito, sem uma só palavra e no mesmo momento, ambos começamos a chorar.”

O conto “Três Estratagemas” que se passa no litoral da Flórida, conta a história de um americano viúvo, aposentado, de meia-idade e com dentes postiços que passa os dias ociosamente tomando sol e bebendo rum enquanto aborda belos rapazes na praia: “É preciso ser prático. Não é POR QUE recebemos certas atenções e sim as atenções em si mesmas” e o fato de os rapazes que ele aborda não terem dinheiro lhe é conveniente: “Não é pior a pessoa ser amada por seu dinheiro do que por algo tão espúrio e efêmero quanto a beleza”.

Mas o conto mais bonito é “O Troféu Zenner”, publicado em 1950 e que, tenho certeza, inspirou o escritor Caio Fernando Abreu a escrever Aqueles Dois, conto publicado no seu livro Morangos Mofados, de 1982. Tanto no conto de Vidal quanto no de Caio Fernando, a homossexualidade dos personagens nunca é citada, mas nos dois casos eles são expulsos do colégio e da repartição devido ao seu suspeito afeto mútuo. Até seus nomes são curiosamente semelhantes: Sawyer e Flynn e Saul e Raul.

Nos dois contos os personagens são tão masculinos que por não demonstrarem qualquer aparência estereotipada, surpreendem a todos pelo carinho deles. Tanto Gore Vidal quanto Caio Fernando Abreu fazem seus ‘heróis’ darem a volta por cima após a expulsão, como um tipo de redenção, o que é surpreendente no caso de Vidal que tem uma famosa veia cínica. 

Ambos os finais são inesquecíveis. O do conto de Caio Fernando Abreu: “Pelas tardes poeirentas daquele resto de janeiro, quando o sol parecia a gema de um enorme ovo frito, ninguém mais conseguiu trabalhar em paz. Quase todos tinham a nítida sensação de que seriam infelizes para sempre. E foram”. E o do conto de Vidal: “Ofuscado pelo clarão do sol, ele [o professor que expulsa os rapazes], atravessou o quadrângulo, cônscio de que nada havia que pudesse fazer”.


26.11.22

O MINISTÉRIO DA FELICIDADE ABSOLUTA e O DEUS DAS PEQUENAS COISAS

O primeiro livro que li da autora e ativista indiana Arundhati Roy foi seu livro de estreia: O Deus das Pequenas Coisas que trata do amor proibido entre pessoas de castas diferentes na Índia. Fiquei tão encantado pela maneira sensível da autora contar a história, que a incluo nos meus livros favoritos da vida toda. A obra deu a Roy o privilégio de ser a primeira pessoa indiana a vencer o Man Booker Prize, a mais importante láurea literária do Reino Unido.

No seu segundo livro, O Ministério da Felicidade Absoluta, Arundhati Roy traça, 20 anos após o sucesso de O Deus das Pequenas Coisas, uma teia intrincada envolvendo Anjun, uma mulher transgênero muçulmana (uma hijra), uma criança abandonada que quer ser chamada de Saddam Hussein e uma jovem arquiteta perseguida pela sua luta pela libertação da Caxemira, entre vários outros personagens interessantíssimos numa ode aos excluídos da Índia, pungente retrato das discriminações e violações de direitos humanos em todos os possíveis e terríveis aspectos do seu país.

Se sua primeira obra, que é o maior best-seller indiano, levou a autora a responder a um processo por “obscenidade”, esse segundo livro lhe rendeu ameaças de morte por retratar criticamente o conflito na Caxemira. Um parlamentar indiano propôs que Roy fosse utilizada pelo exército como escudo humano. 

Em um dos trechos, repleto de dolorosa ironia, ela escreve: “Nada assustava mais aqueles assassinos do que a perspectiva de azar. Afinal, era para afastar o azar que os dedos a segurar espadas cortantes estavam cobertos de pedras da sorte e que os pulsos brandindo cassetetes de ferro estavam adornados com fios vermelhos amorosamente amarrados por mães zelosas”.

O livro reflete que num país com 300 milhões de deuses, a banalidade e naturalidade das doenças, da fome, corrupção, torturas, guerras civis, mendicância, acidentes de trem, filas gigantescas em hospitais imundos, cemitérios habitados por indigentes, vazamentos de gás, mutilações... são tão naturais que não chamam mais atenção, como uma paisagem que sempre esteve lá. Em outro trecho ela consegue trazer um pouco de humor negro, como quando diz: “Depois de uma festa, elas resolveram andar um pouco e tomar o ar fresco. Naquela época, havia algo como ar fresco na cidade”.

Talvez o leitor brasileiro menos informado sobre a conflituosa história da Índia, não aproveite tanto os capítulos em que a autora trata das guerras da Caxemira e os conflitos civis envolvendo indianos, muçulmanos paquistaneses e aguerridos caxemires, realmente com muitas informações que não estamos acostumados, mas é reconhecível por qualquer um o drama da discriminação sofrida pelas pessoas trans em praticamente todo o mundo: “Em urdu, a única língua que ela conhecia, todas as coisas – tapetes, roupas, livros, canetas, instrumentos musicais, tinham gênero. Tudo ou era masculino ou feminino. Tudo, menos seu bebê. Sim, ela sabia que havia uma palavra para os iguais a ele: 'hijra'. Duas palavras, na verdade: 'hijra' e 'kinnar'. Mas duas palavras não fazem uma língua”.

Surpreende também que apesar de tudo, a obra consiga ter tanto humor fino em meio aos horrores, um respiro para que o leitor consiga avançar pelas tragédias como em momentos em que descreve os hábitos das mulheres trans: “Ela aprendeu a se comunicar com a assinatura hijra de bater palmas com os dedos estendidos, como um tiro, e que podia significar qualquer coisa – sim, não, talvez, a piroca da sua irmã, você nasceu pelo cu. Só outra hijra era capaz de decodificar o que significava especificamente o estalo específico, naquele momento específico”.

SE A RUA BEALE FALASSE e O QUARTO DE GIOVANNI

Na década de 1980, emocionado, li O Quarto de Giovanni, publicado em 1956 pelo norte-americano, ativista gay e militante negro James Baldwin, livro que conta a história intensa e tristíssima do amor do jovem garçom italiano Giovanni e do norte-americano David, um complicado bissexual numa Paris do pós-guerra.

O livro, lançado originalmente no Brasil com o título resumido de Giovanni, mexeu tanto comigo que o reli muitas vezes ao longo dos anos, sempre com imensa pena por nunca mais ter a chance de poder lê-lo pela primeira vez. 

Vários dos meus amigos foram obrigados a ler a minha cópia mas, infelizmente, preciso admitir que nenhum deles teve um décimo do meu entusiasmo. Cheguei mesmo a considerar romper uma das amizades quando o meu então amigo leitor declarou sua torcida pelo personagem mais odioso do livro.

Em 1986, tive o privilégio de assistir sozinho à peça homônima, apresentada uma única vez em Salvador pelos então atores globais Caíque Ferreira e Hugo Della Santa, ambos vitimados pela AIDS dois anos depois. Foi a primeira vez que fui sozinho ao teatro e lembro que chorei muito no final.


Muitos anos depois de ter lido O Quarto de Giovanni, acabo de ler outra obra de Baldwin: Se a Rua Beale Falasse, de 1974, quinto livro do autor e cuja adaptação para o cinema deu o Oscar e o Globo de Ouro à atriz Regina King.

O livro se passa no bairro negro do Harlen em Nova Yorque e conta a história de Tish que aos 19 anos se descobre grávida do noivo Fonny, um escultor negro preso injustamente pelo estupro de uma porto-riquenha. Tish, a narradora, fará de tudo para libertar Fonny, cuja mãe Sharon viaja até Porto Rico para confrontar a suposta vítima do estupro que também é, a seu próprio modo, outra vítima do sistema. É uma cena intensa e que, no filme, demonstra o enorme talento da premiada Regina King.

A história tem o mérito extra de ser escrito por um homem, mas que tem como narradora uma moça negra grávida, o que demonstra uma imensa sensibilidade do autor de narrar a história sob o ponto de vista de uma jovem numa condição impossível de ser plenamente sentida por um homem.


Fonny, Tish e suas famílias e amigos, enfrentam o peso do racismo estrutural e sistêmico da Polícia e do Judiciário. Em um desabafo, Fonny diz: “Acho que não tem um branco neste país que não fique de pau duro ao ouvir um preto gemendo de dor”.

Tanto em O Quarto de Giovanni quanto em Se a Rua Beale Falasse, James Baldwin trata de temas espinhosos, como homofobia e racismo internalizados. No primeiro livro, publicado mais de uma década antes da Revolta de Stonewall, catalizadora dos movimentos LGBT, Baldwin aborda no subtexto a discriminação sexista interna entre homens bissexuais, que, mesmo vítimas do patriarcado heteronormativo, se consideram superiores aos gays afeminados, às drag queens e às mulheres trans graças à sua passibilidade heterossexual,

Já no segundo livro, além da discriminação sofrida pelos negros, alguns dos personagens têm que enfrentar, dentro do seu próprio núcleo familiar, um preconceito hoje conhecido como colorismo, em que alguns negros se julgam melhores do que outros por serem menos escuros.

O Quarto de Giovanni e Se a Rua Beale Falasse merecem ser lidos tanto por negros quantos gays, mas muito também por aqueles leitores que, não pertencendo a nenhuma dessas categorias, têm a corajosa empatia para tentar conhecer um pouco do drama pelo qual essas pessoas passam.

26.9.22

LEITURAS DE JUNHO A SETEMBRO



A cada ano publico a lista de livros lidos entre Janeiro a Maio, Junho a Setembro e Outubro a Dezembro. A primeira parte dos lidos deste ano já está publicada aqui no blog. Foram 21 lidos nos primeiros cinco meses do ano e outros 21 nessa segunda parte do ano, totalizando 42. Foram 18 físicos e 24 e-books.

Tenho procurado ler mais livros de autoras mulheres e finalizei as duas partes desse ano com a leitura de 10 livros das escritoras: Mary Shelley (Frankenstein),  Jane Austen (Mansfield Park), Lisa Hilton (Elizabeth I), Léa Messina (100 Autores Que Você Precisa Ler), Philippa Gregory (A Filha do Fazedor de Reis), Shirley Jackson (A Assombração da Casa da Colina), Margaret Atwood (Os Testamentos), Virginia Woolf (Rumo ao Farol), Harper Lee (Vá, Coloque um Vigia) e Liane Moriarty (Pequenas Grandes Mentiras).

Eis os 21 lidos de Junho a Setembro.


1
-UM HOMEM SÓ - Clássico da literatura moderna de Christopher Isherwood, aborda o envelhecimento e a solidão de um homem gay, um professor inglês na Califórnia dos anos 1960 após a morte trágica de seu jovem parceiro.  Publicado pela primeira vez em 1964, o livro chocou leitores com seu retrato franco de um homem gay na maturidade.  Uma narrativa comovente sobre amor e solidão com prefácio do escritor e ativista João Silvério Trevisan. Foi adaptado para o cinema com Colin Firth (indicado ao Oscar pelo papel) e Julianne Moore no elenco. Escrevi um texto inteiro sobre o livro no blog.

2-NO CAMINHO DE SWAN- Livro inicial da colossal empreitada de 7 volumes da série Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust.  Obra prima que todos deveriam ler um dia na vida, mas que são difíceis pela complexidade do tema e do estilo. Li para poder ler o capítulo sobre ele da obra Lições de Literatura, de Vladimir Nabokov (texto abaixo), o que foi um excelente motivo para começar a ler Proust que cria dezenas de personagens e ambientes da França do início do século XX e trata da memória como visão filosófica do tempo com as recordações intercalando o passado e o presente, o que tornou-se uma revolução para o romance em todos os  tempos.

3-LIÇÕES DE LITERATURA - O autor russo Vladimir Nabokov, após migrar da Rússia para os EUA ensinou literatura em universidades antes do sucesso do seu livro Lolita.  Os manuscritos das suas aulas foram publicados em dois volumes e neste ele examina os clássicos Mansfield Park (Jane Austen), A Casa Soturna (Charles Dickens), O Médico e o Monstro (Robert Louis Stevenson) e No Caminho de Swann (Marcel Proust). Li os quatro livros para poder ler depois os capítulos sobre eles. Nabokov também analisa Madame Bovary (Gustave Flaubert) e A Metamorfose (Franz Kafka), que eu já havia lido antes, além  de Ulysses, de James Joyce, livro para o qual ainda não reuni coragem suficiente para ler.

4-NÓS - Escrito pelo dissidente russo Iêvgueni Zamiátin, esta é a distopia original que inspirou os clássicos: Admirável Mundo Novo, 1984, Laranja Mecânica, Fahrenheit 451, O Conto da Aia e Jogos Vorazes. Relançado no Brasil após ter estado esgotado por anos, em uma edição de luxo, acompanhada de resenha escrita por George Orwell e uma carta do próprio autor a Stálin pedindo para sair da União Soviética, onde todas as suas publicações estavam sofrendo perseguição política. O livro descreve um governo totalitário que privou a população de direitos fundamentais como individualidade e liberdade de expressão até que um engenheiro começa a duvidar das suas convicções ao conhecer uma mulher que o contamina com a doença chamada imaginação.

5-UM ESTUDO EM VERMELHO- Primeiro livro de Arthur Conan Doyle em que o autor introduz o detetive mais popular da literatura mundial Sherlock Holmes. Publicado em 1887, nessa primeira história, Holmes conhece seu melhor amigo Watson. A polícia de Londres pede auxílio a Holmes para desvendar um crime: um homem é encontrado morto, sem ferimentos e cercado de manchas de sangue com expressão de pavor no rosto. Na segunda parte do livro é apresentada a curiosa vida dos Mórmons no interior dos EUA e os motivos iniciais que levaram o assassino a cometer o crime.

6-O SINAL DOS QUATRO – Segundo volume das histórias do Sherlock Homes, também encontrado com o título de O Signo dos Quatro, traz o famoso detetive como sempre autoconfiante e atraído pelas agruras da cliente Mary Morsan, uma bela mulher atormentada por um passado nebuloso. O curioso é que Watson conhece nessa história a futura esposa que irá aparecer nos livros seguintes. Aqui encontramos uma aventura cheia de elementos dramáticos, uma caça ao tesouro com direito a um pigmeu e um pirata com perna de pau, terminando em uma caçada desesperada com perseguição de barco pelo Tâmisa. Aqui vemos Holmes lutando contra o seu vício em cocaína.

7-AVENTURAS DE SHERLOCK HOLMES Terceiro volume das histórias de Arthur Conan Doyle, esse livro reúne os doze primeiros contos de Sherlock Holmes, publicados originalmente com enorme sucesso na década de 1890 na revista britânica Strand Magazine. Entre esses contos estão as histórias mais conhecidas como A Liga dos Cabeças Vermelhas, Escândalo na Boêmia, O Diadema de Berilos e A Banda Malhada. Uma ótima maneira de se aventurar junto com o famoso detetive de Baker Street por histórias mais rápidas mas igualmente instigantes.

8-MEMÓRIAS DE SHERLOCK HOLMES - Outro livro de contos de Holmes, assim como o anterior, com doze histórias entre elas Silver Blaze (sobre o desaparecimento de um cavalo de corrida), A Caixa de Papelão (sobre uma caixa misteriosa contendo duas orelhas), O Ritual Musgrave (sobre o desaparecimento o mordomo de um amigo de Holmes), O Intérprete Grego (envolvendo um poliglota grego e sequestro onde pela primeira vez aparece Mycroft, o irmão mais velho de Holmes) e O Problema Final (na qual Doyle, cansado do detetive, mata Holmes. Depois ele o “ressuscitaria” devido à insistência dos fãs e da editora. Aqui conhecemos o Professor Moriarty famoso arqui-inimigo de Holmes).

9-A FILHA DO FAZEDOR DE REIS – Primeiro livro que li da autora Philippa Gregory, famosa pelos romances históricos adaptados para as telas.  Quarto livro da autora sobre a Guerra das Duas Rosas (já li vários livros sobre o tema e nunca me canso deles). Novamente uma protagonista feminina: a filha do Conde de Warwick, o conhecido “Fazedor de Reis”, o homem mais poderoso da Inglaterra no século XV. Sua filha Anne se torna uma mulher corajosa ao acompanhar o pai numa guerra contra o rei da Inglaterra que pôs o herdeiro de Henrique VI no trono, com quem Anne é casada. Após a morte do rei, ela se casa com o futuro rei Ricardo III, assassino do seu ex-marido.

10-ASSOMBRAÇÃO DA CASA DA COLINA - Primeiro livro que li de Shirley Jackson e considerado um clássico de histórias de casas mal assombradas. Tenho que dar razão a Stephen King que afirmou: “Essa é a história de casa mal-assombrada mais próxima da perfeição que eu já li.” Adaptado pela Netflix na série A Maldição de Hill House. “A Casa da Colina, desprovida de sanidade, se erguia solitária contra os montes, aprisionando as trevas em seu interior; estava desse jeito havia oitenta anos e talvez continuasse por mais oitenta. Lá dentro, paredes continuavam de pé, tijolos se juntavam com perfeição, assoalhos estavam firmes e portas estavam sensatamente fechadas; o silêncio se escorava com equilíbrio na madeira e nas pedras da Casa da Colina, e o que entrasse ali, entrava sozinho”.

11-AS CZARINAS, AS MULHERES QUE FIZERAM A RÚSSIA – Após ler onze livros seguidos de ficção, consegui encaixar uma história de biografias para dar uma respirada. Aqui, um tema que adoro desde que li Os Romanov, do premiado historiador Simon Sebag Montefiore. As czarinas, escrita pelo historiador e diplomata russo, Vladimir Fedorovski, aborda a história da Rússia não pelos nomes e feitos dos czares, mas pela atuação das várias mulheres que estavam no poder ao longo de muitas décadas. As czarinas russas têm histórias repletas de rivalidades, conspirações, traições e assassinatos e é surpreendente que tão poderosas mulheres comandassem os destinos de um país tão grandioso, machista e conservador.

12-TROCAS MACABRAS - 41º livro que li do metre Stephen King.  Li numa edição capa dura de luxo da editora Suma de Letras com 650 páginas. Estamos de volta à cidadezinha de Castle Rock, cenário  de outros livros do autor onde uma nova loja de nome “Artigos Indispensáveis”, é aberta e dirigida por um estranho homem: Leland Gaunt, que se tornou um dos maiores vilões de King. Para cada cliente, Gaunt tem algo perfeito por um preço camarada. Mas, junto com a pechincha, há um pedido estranho e o que começa com aparentes pegadinhas inocentes sai do controle e transforma a cidade em palco de mortes brutais. Na adaptação para as telas temos Ed Harris e Max von Sydow nos papéis principais.

13-CAÇANDO CARNEIROS – 6º livro que li do escritor japonês Haruki Murakami. Escrevi um texto só sobre este livro no blog. A obra tornou o autor famoso mundialmente e confesso que não gostei do livro, assim como não havia gostado da leitura anterior “Kafka à Beira-Mar”. Aqui temos uma espécie de thriller em que um protagonista insosso e sem nome recebe um telefonema estranho, conhece pessoas inesperadas, parte para uma jornada em busca de pistas sobre um carneiro desaparecido no meio rural do Japão e acaba descobrindo a si mesmo, como acontece em toda road story.

14-OS TESTAMENTOS Continuação do excelente O Conto da Aia, obra-prima distópica da canadense Margaret Atwood, de quem eu já havia lido o excelente Vulgo Grace, também adaptada para as telas. Escrito quinze anos após O Conto da Aia, ainda estamos na teocrática República de Gilead, mesmo após tentativas de insurgência. Aqui, temos as histórias de três mulheres que irão se encontrar de modo explosivo. Uma delas cresce em Gilead, filha de um Comandante e outra, no Canadá, participando de protestos contra Gilead. Os testamentos dessas duas jovens são entrelaçados pelo revelador manuscrito da mais implacável executora do regime, a odiosa Tia Lydia, cuja obra de terror já vimos no livro anterior.

15-O TELEFONE PRETO E OUTRAS HISTÓRIAS – Terceiro livro que li do ótimo Joe Hill, filho de ninguém menos do que Stephen King. Os anteriores foram A Estrada da Noite e NOS4A2 (Nosferatu), que virou série com duas temporadas. Este livro de contos foi publicado anteriormente sob o título Fantasmas do Século XX. O conto que dá título à nova edição recentemente foi adaptado sem muita inspiração para o cinema com Ethan Hawke como o vilão que sequestra e mata crianças. O The Washington Post considerou Hill um dos "maiores escritores de ficção fantástica do século XXI". Aqui temos 16 contos sendo que alguns são excepcionais, como Melhor Estreia de Terror, Fantasmas do Século XX, Os Filhos de Abraham, O Café da Manhã da Viúva e Internação Voluntária.

16-RUMO AO FAROL Segundo livro que li de Virginia Woolf após Mrs. Dalloway. A história uma família que passava as férias de verão em uma casa de praia de onde avistava o farol da ilha próxima.  Não é um livro fácil já que é narrada em fluxo de consciência e discurso indireto livre: “Na sala em ruínas, pessoas em piquenique teriam aquecido suas chaleiras; amantes teriam ali buscado abrigo, deitados nas tábuas nuas; e o pastor teria guardado sua comida em cima dos tijolos caídos, e o vagabundo teria dormido enrolado no casaco para se proteger do frio. Então teto teria caído; urzes e cicutas teriam fechados os corredores, os degraus e as janelas; teriam crescido desigual, mas luxuriosamente, sobre o entulho, até que um intruso, tendo se perdido, poderia ter dito, apenas por causa de um lírio-tocha misturado às urtigas, ou um caco de porcelana no meio das cicutas, que aqui, alguém, uma vez vivera”.

15-VÁ, COLOQUE UM VIGIA- Segundo romance de Harper Lee, ambientado duas décadas depois de sua obra-prima O Sol é Para Todos. Estamos nos anos 1950 em meio à questão da segregação racial. Para grande surpresa de todos que esperaram anos por uma segunda obra de Harper Lee, que após o sucesso do primeiro e premiado livro jamais escreveu outro por 65 anos, vemos uma surpreendente abordagem sobre os personagens que aprendemos a amar: “Se um homem diz ‘essa é a verdade’ e você acredita, mas depois descobre que é mentira, fica desapontada e toma cuidado para nunca mais ser enganada por ele. Mas quando você se decepciona com um homem que sempre se pautou pela verdade – e em cuja maneira de encarar as coisas você acreditava -, você não fica apenas ressabiada, fica sem nada.”

18-ME ENCONTRE- Terceiro livro de André Aciman e continuação de “Me Chame Pelo Seu Nome” (premiado no cinema com o Oscar de melhor roteiro adaptado). Os personagens do primeiro livro, Elio, seu pai Samuel e seu primeiro amor Oliver estão de volta às páginas. Samuel, a caminho de Roma para encontrar seu filho que se tornou um pianista renomado.  Elio se muda para Paris, onde vive mais um romance, enquanto Oliver, pai de família e professor nos EUA, planeja reencontrar o amor do passado na Europa. O livro está muito distante da beleza do primeiro e há até mesmo uma falha temporal levando-se em conta os acontecimentos narrados no segundo livro, Variações Enigma, onde Elio e Oliver se encontraram, mas que aqui o autor passa batido por esse detalhe.

19- RAVENSPUR – Quarto livro que li do britânico Conn Iggulden sobre a icônica Guerra das Rosas envolvendo os descendentes da família de reis Plantagenetas da Inglaterra (os ramos York, Lancaster e Tudor). Continuação dos volumes: Pássaro da Tempestade, Trindade e Herança de Sangue que li no ano passado. Neste quarto volume, acompanhamos o rei Eduardo IV ser expulso da Inglaterra enquanto esposa e filhos se refugiam para se escapar dos Lancaster. Eduardo retorna com um poderoso exército e recupera a coroa. Mas Henrique Tudor irá reivindicar o trono, levando a uma das batalhas mais sangrentas e resultando na morte seguida de três reis. O autor é elogiado por duas outras séries que pretendo ler: O Imperador, sobre Júlio Cesar, e O Conquistador, sobre Genghis Khan, ambos com cinco volumes cada.

20-UM SONHO FEBRIL- O primeiro livro que li de George R.R. Martin fora dos seus 7 volumes da série Game of Thrones e dos 9 volumes da série Wild Cards. Aqui uma reinvenção original das histórias de vampiros que se passa no meio do século 19 no sul escravagista dos EUA. O falido capitão de navios a vapor Abner Marsh recebe uma oferta de sociedade do rico aristocrata Joshua York para construção do belíssimo e potente Sonho do Fevre. A embarcação navega pelo rio Mississipi deixando pelo caminho uma coleção de histórias sombrias com interessantíssimas discussões sobre o que nos torna como seres humanos não tão diferentes assim dos vampiros que tratam a humanidade do mesmo modo como tratamos os animais e os negros escravizados.

21- PEQUENAS GRANDES MENTIRAS
- Primeiro livro que li da escritora Liane Moriarty e adorei, mas teria apreciado mais se já não tivesse assistido à série Big Little Lies com duas temporadas na HBO e soubesse o grande final. Muito bem escrita e focada na amizade de três mulheres fortes com filhos na mesma escola primária. Madeline (na série vivida por  Reese Witherspoon) está no segundo casamento e arrasada porque a filha do primeiro relacionamento decidiu morar com o pai que as abandonou na infância. Celeste (na série, Nicole Kidman) mãe de gêmeos e com um marido que promove frequentes abusos físico e mental, e Jane uma jovem mãe solteira que tem o filho, fruto de uma violência sexual. O livro é narrado em dois tempos alternados. Já sabemos que houve uma morte mas não quem morreu nem como até o final.

30.7.22

CAÇANDO CARNEIROS

Este foi o sexto livro que li do badaladíssimo escritor japonês Haruki Murakami e já havia escrito aqui sobre o único livro dele do qual não gostei: “Kafka à Beira-Mar”. Agora, junto a essa seleta lista “Caçando Carneiros”, que se não chega a ser tão ruim, está anos luz distante da qualidade dos outros que li: "Norwegian Wood, Minha Querida Sputnik, Sono e O Incolor Tsukuru Tazaki e Seus Anos de Peregrinação".

Reconheço, porém, o potencial de Caçando Carneiros para se igualar a Kafka à Beira-Mar em ruindade porque Kafka tem insuperáveis 576 páginas da mais pura chatice, enquanto Caçando Carneiros conseguiu parar em 336 páginas. Ficaria melhor com um corte de 25%.

Aqui temos um personagem jovem e sem nome (e sem qualquer carisma), publicitário dos mais banais, que recebe uma incumbência estranha de encontrar um misterioso carneiro desaparecido no interior do Japão. E mais não digo, pois não há qualquer necessidade já que é tudo uma enrolação. 

Se o livro tem uma pegada de realismo fantástico, fica devendo muito à tradição que nos deu Gabriel Garcia Márquez e Salman Rushdie, encravado entre o que se chama de literatura de enigma e literatura do fantástico, vertentes das histórias com solução racional ou com solução fantasiosa. Murakami fica na metade do caminho de ambas.

Apesar de ainda faltar uma imensidão de livros do autor para ler, percebo nele os mesmos maneirismos, como o uso recorrente de diálogos desnecessários e criação de expectativas na narrativa que não se concretizam em desfechos satisfatórios, chegando a gastar dúzias de páginas e capítulos inteiros em descrições detalhistas sem sentido para a trama ou narrações de atividades banais como o que os personagens comem ou bebem. São verdadeiros inventários de mastigação e deglutição que desrespeitam por completo o conceito da “Arma de Thekhov”, princípio dramático mais do que clássico que define que todos os elementos presentes em uma história devem ser necessários sendo que os irrelevantes devem ser removidos para não produzir falsas promessas.

Este livro, que foi responsável pela grande divulgação do autor pelo mundo e o transformou num fenômeno literário, foi escrito em 1982, quando Murakami ainda não tinha 30 anos, e fica claro sua atmosfera juvenil, que difere dos seus trabalhos seguintes mais amadurecidos, já que, felizmente, ele é um escritor muito prolífico.

O trecho a seguir mostra o tom juvenil que retrata o niilismo do protagonista: “Eu tinha vinte e nove anos. Dentro de seis meses, diria adeus à casa dos vinte. Uma década vazia. Nada do que eu conquistara tinha valor, nada do que eu realizara tinha sentido. Tédio era tudo que eu obtivera.” A presença desse elemento niilista blasé soa bastante datado no estilo que se convencionou chamar de ficção pós-moderna, conceito ele próprio também datado e que consiste basicamente em atirar meio aleatoriamente nas páginas da obra imagens e falas sem muito sentido, confiando que o leitor por si só dará alguma coesão a tudo. Seria ótimo se a narrativa não passasse de uma sucessão de banalidades.  

Na internet circula uma imagem conhecida como “Bingo de Murakami” (reproduzo) em que bem humoradamente (ou não) vemos aquelas ideias que são obsessões do autor e aparecem frequentemente em suas obras como gatos, telefonemas misteriosos, longas viagens de trem, um milionário enigmático, sexo estranho, cabana isolada, comida, solidão, música pop, jazz e suicídio.

Murakami todo ano entra na lista dos candidatos ao Nobel de Literatura e arrasta uma multidão de fãs pelo mundo inteiro, sendo o autor japonês mais celebrado pelo planeta. Curiosamente, no próprio Japão seus conterrâneos não entendem esse sucesso comentando que há no país muitos autores tão bons quanto e que não têm tanta repercussão. Mas não há o que se fazer. O jeito é ler os outros livros do autor para tentar encontrar o mesmo prazer de ter lido O Incolor Tsukuru Tazaki e Seus Anos de Peregrinação e Minha Querida Sputnik. Por sorte, há muitos ainda nas prateleiras.



12.6.22

NÓS

 

A Mãe de todas as distopias

Acabei de ler NÓS, do escritor russo Ievguêni Zamiátin, considerado a mãe de todas as distopias na Literatura. A obra foi publicada nos anos 1920, precursora de todas as famosas distopias literárias: Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley), 1984 (George Orwell), Laranja Mecânica (Anthony Burgess), O Conto da Aia (Margaret Atwood) e Fahrenheit 451 (Ray Bradbury), além dos mais recentes Batlle Royalle, Jogos Vorazes e Divergente, todas tendo NÓS como fonte primordial. É curioso que todas as distopias posteriores geraram filmes impactantes, continuações e refilmagens, mas NÓS continua a ser pouco reconhecido.

A obra estava esgotada há anos no Brasil, mas retornou pelas mãos da Editora Aleph, numa edição de luxo, que traz duas leituras complementares: uma resenha de George Orwell de 1946 e a tocante carta enviada pelo autor Zamiátin ao superpoderoso dirigente Stálin, pedindo permissão para deixar a União Soviética por conta da perseguição política e censura feroz.

Em NÓS temos, como nas distopias seguintes, um governo totalitário, aqui chamado Estado Único, que, em nome do bem estar geral, privou a população de toda liberdade, uma sociedade na qual a inspiração é um tipo de epilepsia e a imaginação, uma doença que pode ser erradicada com uma lobotomia.  Temos também aqui uma figura masculina central dominante: o “Benfeitor”, o “pai” do futuro “Grande Irmão”, de 1984, e sob o jugo de quem todos estão irremediavelmente presos.

Estamos no século 26 e não há nenhuma liberdade de expressão nem privacidade. As casas são de vidro transparente e as pessoas têm direito a apenas 1 hora por dia para assuntos particulares, quando podem abaixar as persianas. Nessa única hora está incluído o sexo, que deve ser requisitado através de um formulário. As pessoas não têm filhos particulares e nem mesmo nome, mas números.

O protagonista, o engenheiro D-503, está “feliz” com sua vida genérica até que uma mulher aparece na sua vida, I-330, que o faz questionar tudo em que acreditava. Ao ver-se completamente abalado por um novo sentimento, é diagnosticado por um médico como uma doença fatal: “Você desenvolveu uma alma”.

A ideia tem referências na expulsão do Jardim do Paraíso e George Orwell diz em sua resenha de NÓS: “O princípio condutor do Estado é que felicidade e liberdade são incompatíveis. No Éden, o homem era feliz, mas na sua loucura ele exigiu liberdade e foi expulso. Agora o Estado Único restaurou sua felicidade ao retirar a liberdade”. Mas então reaparece a mulher, qual uma nova Eva, para bagunçar tudo de novo.

O livro não chega a ser tão bom quanto as obras posteriores que incomodam muito pela contundência e mobilizam muito mais os leitores para os horrores das políticas totalitárias de Estado, mas aqui temos a relevância de tratar-se do primeiro livro distópico escrito, surgindo em plena ditadura soviética sob o tacão de Stálin e é incrível saber que Zamiátin que foi prisioneiro no regime czarista, voltou para o mesmo corredor da mesma prisão pelas mãos justamente dos bolcheviques, após a revolução.

NÓS merece ser lido quase como uma obrigação moral de todos que valorizam a liberdade de pensamento na Literatura. A obra, que tinha sido banida do seu país natal por mais de 60 anos, só podendo ser publicada em outras línguas, apenas conseguiu o direito de tradução em russo em 1988, graças à abertura promovida por Mikhail Gorbatchov.

Trata-se de um atestado sobre a importância da liberdade de pensamento crítico e o ofício de um escritor e é comovente ler na nova edição a carta-apelo de Zamiátin a Stálin: “Como escritor, ser privado de escrever é como uma sentença de morte. Não posso continuar meu trabalho pois nenhuma atividade criativa é possível numa atmosfera de perseguição sistemática que aumenta de intensidade ano após ano”.

7.6.22

UM HOMEM SÓ

Terminei de ler o maravilhoso livro Um Homem Só, do escritor e dramaturgo inglês Christopher Isherwood, um clássico da literatura LGBT e muito relevante pela atemporalidade e universalidade do tema: a solidão de um homem gay mais velho na década de 1960. A questão tem ecos em qualquer época já que o ser humano continua a ser o mesmo de sempre, com as mesmas dores e questões e a solidão de um gay mais velho não é diferente.

      O livro foi lançado no Brasil pela Cia das Letras e acompanha um dia na vida do professor George, cujo companheiro de toda a vida, Jim, morreu num acidente. A rotina e a falta de sentido na vida do protagonista se tornou algo tão avassalador e insuportável, que já sabemos de cara que ele decidiu que aquele será seu último dia de vida. Ele não aguenta mais a solidão. Se vai conseguir levar a intenção até o fim só lendo a obra para saber.

    Um Homem Só tem uma introdução impecável do ativista João Silvério Trevisan, ele próprio um escritor gay de 78 anos e por isso mesmo extremamente relevante para acompanhar a leitura da obra. A história foi adaptada para o cinema com Colin Firth como o protagonista, indicado ao Oscar de melhor ator em 2010, e contou com atuações memoráveis de Julianne Moore e do jovem ator Nicholas Hoult que magnetiza o olhar nas cenas em que seduz o professor mais velho, ainda mais quando a gente se lembra dele como o menino do filme Um Grande Garoto, de 2002. Infelizmente, no Brasil o filme que tem o mesmo nome do livro, recebeu o pavoroso título de Direito de Amar.

      No trecho a seguir o autor descreve a importância para ele da sua relação com o companheiro: “Seu livro está errado quando lhe afirma que Jim é o substituto que encontrei para um filho, uma mulher, um irmão caçula de verdade. Jim não era substituto de nada. E, permita-me dizê-lo, não existe substituto para Jim em lugar nenhum”.

      Permita-me, então, divagar um pouco sobre o encanto que uma obra de arte (um livro) pode proporcionar ao abrir janelas para outras obras de arte (outros filmes, um musical, uma peça, uma pintura). Isso aconteceu comigo exatamente por conta de Christopher Isherwood.

      Antes de conhecer o autor, eu já havia assistido ao filme Cabaret, de 1972, indicado a 10 prêmios Oscar inclusive para a atriz Liza Minelli e para o diretor Bob Fosse. Revi o filme várias vezes, tenho a trilha sonora premiada e, inclusive, tive o privilégio de assistir ao musical homônimo na Broadway, no icônico teatro Studio 54. Não me canso de ouvir as canções "Wilkommen", "Mein Herr", "Maybe This Time" e "Money, Money".

      Eu não sabia então que Cabaret era baseado no livro Adeus Berlim, de 1939, que conta a história de um escritor inglês dos anos 30, se esbaldando na frenética Berlim de antes da 2ª Guerra Mundial, obra autobiográfica de Isherwood. Infelizmente ainda não li Adeus Berlim mas esta falha não durará muito tempo.  

      Só me atentei que havia uma ligação entre as histórias quando assisti a um outro filme sobre a vida do autor: "Chistopher and His Kind", drama romântico-biográfico britânico dirigido por Geoffrey Sax em 2011 que é a história das viagens do autor a Berlim, seus romances e aventuras, inclusive o namoro com o célebre poeta romântico inglês W. H. Auden.

      Então temos aqui dois livros, três filmes, uma peça musical....que tal uma pintura? 

     Então entra em cena ninguém menos do que o pintor americano David Hockney, um dos maiores artistas plásticos modernos com inúmeras pinturas celebradas e que simplesmente pintou o quadro “Christopher Isherwood and Don Bachardy”, (foto abaixo) hoje no acervo do Museu Metropolitan de Nova Yorque, que retrata o escritor, já mais velho, na sua casa em Santa Monica na Califórnia, ao lado do seu companheiro da vida toda. 

     Don Bachardy, o grande amor da vida de Isherwood foi inspiração para o personagem Jim, do livro, mas ao contrário de Jim, Bachardy não morreu. Ele até faz uma ponta no filme Direito de Amar. A motivação da história foi uma breve separação que Isherwood e Bachardy tiveram. Mas a relação foi retomada até a morte de Isherwood em 1986, aos 82 anos.

      A leitura de Um Homem Só é quase pedagógica para quem deseja compreender a marginalização da solidão de um gay mais velho, não fosse pela humanidade da questão em si, pela relevância dela para jovens e adultos LGBT que, graças ao hedonismo de uma geração que recém descobriu uma importante e duramente conquistada liberdade e um intrigante culto ao corpo belo e jovem, não concebem as questões inerentes à velhice e à solidão.



31.5.22

ÚLTIMAS LEITURAS

 

LIVROS LIDOS DE JANEIRO A MAIO DE 2022

Há 4 anos publico uma breve resenha dos livros lidos no ano. Para alguns deles, quando me animo, dedico resenhas maiores. Nos últimos quatro anos, minha média anual de leituras está em 56 livros. Foram 40 em 2018; 68 em 2019; 61 em 2020; e 55 em 2021.

Divido as postagens sempre em três blocos Aqui estão os 21 livros que li de Janeiro a Maio deste ano. Foram 8 em papel e 13 em e-book, hábito que pensei que jamais fosse me acostumar de tanto que adoro os livros físicos, mas a praticidade do digital me fez capitular.

1-O COLAR DA RAINHA – Primeiro livro que li de Alexandre Dumas. Uma intrincada história cheia de reviravoltas sobre uma ambiciosa criada da rainha francesa Maria Antonieta, fisicamente muito parecida com a patroa, que aproveita disso para participar de uma trama para minar a já fragilizada reputação da realeza. O livro é um romance histórico que trata das excentricidades da alta nobreza francesa e do declínio da monarquia naquele país mesclando história e ficção numa trama deliciosa e breve.



2 e 3- OS CAÇADORES DE DUNA e OS VERMES DE AREIA DE DUNA- Após os seis primeiros e excelentes livros da saga original de Duna, o filho do autor, Brian Herbert, escreveu novas histórias. Esses dois novos livros deram sequência à série. Aqui, núcleos separados irão se encontrar no último livro num final apoteótico, mas um tanto anticlimático. São muitos personagens que vamos reencontrar e também novos, muitas tramas impossíveis de acompanhar para quem não leu ao menos o último livro da hexalogia original. Foram publicados também livros cujas narrativas cronologicamente antecedem a saga original: desses eu já havia lido A Casa Atreides e A Casa Harkonnen, faltando o terceiro volume, A Casa Corrino.

4-O OUTONO DA IDADE MÉDIA- Publicado em 1919, este livro é considerado um dos mais importantes já escritos sobre a Idade Média. Escrito pelo historiador holandês Johan Huizinga, tem mais de 550 páginas com um texto deliciosamente fluido, apesar de tratar de um tema aparentemente complexo que é o período final da Idade Média, o autor, sabiamente, utilizou métodos e fontes que não eram usuais na época, aproximando-se do que tempos depois seria batizado de História das Mentalidades.  Aqui, a vida medieval é retratada cultura e artisticamente com seus profundos aspectos religiosos e políticos além dos seus modos cotidianos de lidar com a felicidade, os lutos, as guerras, os medos e os afetos. Já escrevi uma resenha completa sobre ele no blog.

5-O CREPÚSCULO E A AURORA- Este livro do autor britânico Ken Follett é o quarto volume da história que começa no monumental Os Pilares da Terra, continua com Mundo Sem Fim e segue com Coluna de Fogo, na chamada Saga Kingsbridge. Se nos três livros anteriores a história acontecia numa sequência temporal, aqui os fatos acontecem cronologicamente antes dos demais, perto do ano 1.000 na Inglaterra, com ataques de vikings e tramas que seguem o mesmo ritmo dos outros livros com personagens carismáticos sofrendo, enfrentando nobres poderosos, religiosos inescrupulosos e tramas cheias de traição e um tanto de final feliz. Vale muito a leitura das quatro obras, pois o autor é mestre nas reconstituições históricas.

6-ASCENSÃOEste foi o 36º livro de Stephen King que li (abaixo, os outros três que completam os 38 dele que li). Uma história que lembra a do seu livro A Maldição do Cigano. Aqui temos um homem que de repente começa a perder muito peso, mas sem alterar sua aparência. Um livro curto (apenas 144 páginas) para os padrões verborrágicos do autor e não se trata de um livro de terror como alguns dos mais conhecidos de King. Quem dera o autor conseguisse ser objetivo e retirar tanta gordura desnecessária de outros filmes como fez nesse ótimo livro Ascensão.

7-LOVE A HISTÓRIA DE LISEY Aqui King nos empurra 680 desnecessárias páginas (podia ter cortado metade) de uma história de amor entremeada de um tipo de viagem por psicotrópico. Temos aqui um escritor dominado pelos seus demônios e cujo amor da esposa é um tipo de salvação. Após ler o livro, assisti à série da Apple TV com Julianne Moore e Clive Owen com cenas violentíssimas e chega a ser mais “doida” do que o livro. Os vilões, o psicopata Dooley e o fantasmagórico Rapaz Espichado não são assustadores ou carismáticos suficientes para carregar o antagonismo da história. Lembrando tantos personagens assustadores já criados por King, o mestre aqui ficou devendo. Dois vilões que não valem meio.

 

8-SACO DE OSSOS O pior livro de Stephen King que já li, com suas infinitas 568 páginas, que mereciam uma machadada ao meio. Vi o filme homônimo e achei tão fraco quanto, com a vantagem de ter eliminado a gordura desnecessária. Outro livro sobre um escritor que aqui sofre de bloqueio criativo após a morte da esposa. Ainda em luto, ele resolve voltar à casa de veraneio à beira de um lago para se inspirar (no filme ele segue para a casa do lago pouco tempo após a morte da mulher, mas no livro King o arrasta por mais de cem páginas até decidir leva-lo à tal casa) onde ele vai se envolver numa história de custódia de criança e atormentados fantasmas do passado. 

 

9-STEPHEN KING VAI AO CINEMA- Livro que reúne cinco contos já publicados em outros livros de King com comentários novos do autor sobre cada conto e suas adaptações cinematográficas. Dos cinco contos eu já havia lido dois (Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank e As Crianças do Milharal) então valeu muito a leitura dos outros três (1408; A Máquina de Passar Roupas e Low Men in Yellow Coats), o último deles ainda não publicado no Brasil já que pertence ao livro Hearts in Atlantis e que traz personagens do multiverso de King com muitas referências à excelente série A Torre Negra. Recomendo muito aos fãs do autor.

10- FRANKENSTEIN – De tanto que essa história está presente no nosso imaginário, fico até surpreso de somente este ano, aos 58, eu ter lido esse clássico da inglesa Mary Shelley. Com o subtítulo de O Prometeu Moderno, conta a conhecida história do médico de Victor Frankenstein que conseguiu dar vida a um ser morto e assustador. A partir do “nascimento” então, criador e criatura vivem num jogo de perseguição repleto de horror. É o primeiro livro de ficção científica da literatura mundial a se tornar um clássico do terror e é importante lembrar que se trata de uma obra escrita por uma mulher, e no começo dos anos 1800, o que não é pouca coisa.

11-AS SOMBRAS DO MAL - AS FITAS DE BLACKWOOD-  Primeiro livro que li da dupla Guillermo del Toro e Chuck Hogan, apesar de já ter comprado há tempos e ainda não ter lido seus três primeiros livros: Noturno, A Queda e Noite Eterna. Aqui temos o trabalho conjunto de uma agente do FBI com o enigmático Hugo Blackwoood. A agente testemunha um crime brutal e inexplicável e começa a questionar sua própria sanidade. Ela encontra fitas antigas que a levarão até um fascinante homem que é a chave para desvendar o que aconteceu com o seu parceiro e ainda defender a humanidade de uma ameaça sem rosto: os incorpóreos, espíritos que se alimentam de emoções e que só buscam o êxtase da morte e do caos. Excelente.

12-A CASA SOTURNA- De Charles Dickens. Foi o primeiro livro de Dickens que li e escrevi no blog uma resenha inteira. Em suas 800 páginas, o autor discorre sobre temas sempre presentes nos seus livros, como o sofrimento das crianças pobres nas ruas inglesas. Infelizmente o livro, que estava esgotado há anos, foi relançado com graves problemas na tradução e erros de revisão. Descuido pela tradução de termos de uso lusitano no lugar de brasileiros, como “quinta”, para terreno; “miúdo”, para criança; “gira”, para maluco e “algibeira”, para bolso. Dickens tece críticas ácidas ao Judiciário por meio do motor da história: um processo que se arrasta por gerações sem jamais chegar perto de uma solução.

13-MANSFIELD PARK– Segundo livro que li da inglesa Jane Austen (após A Abadia de Nothanger) Com 608 páginas, acompanhamos a inesperada heroína Fanny Price, que não é uma protagonista óbvia já que não é vigorosa, aventureira ou audaz mas sim uma moça frágil, insegura tímida que deixa a casa dos pais pobres para morar com os tios ricos onde convive com parentes muito diferentes e complicados. Este é o romance da maturidade de Jane Austen e contido em comparação aos seus livros anteriores Orgulho e Preconceito e Razão e Sensibilidade (que ainda não li). A excelente edição da ‎ Penguin-Companhia das Letras traz ainda textos adicionais de análises de críticos e notas explicativas sobre a obra, a autora e o contexto histórico.


14, 15 e 16-FUNDAÇÃO, FUNDAÇÃO E IMPÉRIO e SEGUNDA FUNDAÇÃO – Escrevi no blog uma resenha completa sobre esses três livros de Isaac Asimov, de quem só havia lido dois livros (Eu Robô e O Homem Bicentenário). Há mais quatro livros que completam a saga mas ainda não os li. Confesso a minha decepção com a leitura pois a saga carece de fôlego narrativo, pois no fundo são contos encadeados para virarem livros, e nem são livros grandes. Nenhum dos três tem mais de 230 páginas cada, com personagens importantes desaparecendo em pouco tempo com os saltos temporais. A primeira temporada da série da Apple TV, adaptação da saga tem inegável riqueza da superprodução mas não segue fielmente a trama dos livros, sendo uma história dos vácuos deixados pelos originais. Achei até melhor do que o original, o que é raro de acontecer.

 

17-O LIVRO DO DESASSOSSEGO O livro considerado a obra máxima de Fernando Pessoa. Assinado pelo semi-heterônimo Bernardo Soares. Um livro clássico para ser lido, relido com calma, como verdadeira obra de consulta e referência. Uma obra existencialista, repleta de reflexões e questões filosóficas que merecem ser degustadas com paciência e sem pressa pelos leitores. O meu exemplar praticamente não tinha mais espaço para marcações. É tudo perfeito. Não sei como alguém pode ser tão genial como Fernando Pessoa na literatura. Tudo é perfeito. Ainda irei reler o livro muitas vezes, eu sei.

18-SANGUE NA NEVE Há mais de um ano não lia outro livro de um dos meus escritores favoritos, o autor norueguês Jo Nesbo, de quem já havia devorado nove obras. Neste romance não temos o protagonista de vários dos livros do autor, o atormentado policial Harry Hole, mas, temos outro atormentado, Olav, cujo único talento é matar. Mas, apesar de ser um exímio matador de aluguel, Olav tem uma natureza sensível e seu último trabalho será matar a esposa do chefão das drogas de Oslo que estaria traindo o marido. Com elementos noir, Olav se apaixona pela mulher do chefe e decide que pela primeira vez não vai cumprir um trabalho, erro que lhe cobrará um preço emocional e psicologicamente altíssimo. Nesbo sempre afiado como uma navalha.

19-SERIAL KILLERS - ANATOMIA DO MAL- Livro de 480 páginas do estudioso Harold Schrechter, anunciado como: “O dossiê definitivo sobre assassinos em série”, tem uma edição em capa dura ilustrada da editora Dark Side. Infelizmente, a versão digital que li não corresponde exatamente ao original devido aos erros de tradução e falhas primárias como traduzir o grupo The Police como “Polícia” ou a canção Psycho-Killer do Talking Heads como Psico-assassino. Apesar disso, é uma leitura interessante que relaciona psicopatas em série da história que inspiraram filmes, livros e canções como Norman Bates (Psicose), Hannibal Lecter (O Silêncio dos Inocentes), Jack, o Estripador e inúmeros outros com estatísticas intrigantes: 76% dos serial-killers são dos EUA onde 84% são brancos, 90% são homens e 65% das vítimas são mulheres.

 

20-ELIZABETH I- UMA BIOGRAFIA-Escrito pela jornalista inglesa Lisa Hilton e com 416 páginas é anunciado como um retrato definitivo da Rainha Virgem. Filha de Henrique VIII e Ana Bolena, Elizabeth reinou por 45 anos e foi considerada uma das maiores governante da história da Inglaterra. O livro mostra que o país sob seu comando se tornou a grande potência política, econômica e cultural do Ocidente e recria não apenas o cenário da era elizabetana, mas a complexidade da personalidade da rainha que a vida toda lutou contra os fantasmas da decapitação da mãe por ordem do pai, a permanente suspeita de bastardia e o "fantasma" de Maria Stuart, prima e rainha que mandou decapitar.

21-GUIA DE LEITURA: 100 AUTORES QUE VOCE PRECISA LER- Coleção de breves resenhas de diversos autores, sob a organização de Léa Messina, guia que apresenta, de modo sucinto, cem escritores que se destacam no ramo da ficção e que, através dos séculos, deixaram sua marca na imaginação humana. Traz ensaios de críticos literários, jornalistas, escritores e professores apaixonados pela leitura. A lista tem autores de todo o mundo, atuais e da antiguidade. Valioso como obra de referência. Dos 100 listados, já havia lido mais da metade, outros estavam esperando na minha estante para serem lidos. Agora, tenho como meta, incluir na minha lista de leituras obras de outros autores deste guia. Alguns deles, confesso, ainda não conhecia.