6.12.22

OS BÓRGIAS

Há alguns dias, li essa série de quarto volumes de arte erótica criada pelo desenhista italiano Milo Manara, conhecido pelo seu traço voluptuoso, e que teve roteiro de um dos artistas multitalentos mais reconhecidos, o cineasta e poeta chileno Alejandro Jodorowsky.

A série tem excelente qualidade em papel couchê e aborda política religiosa, intrigas palacianas, conspiração pelo poder, luxúria e incesto, um fiel panorama da Igreja Católica durante a renascença italiana do final século XV.

Os quatro volumes são ricos em arte pornográfica e heresia, com diálogos crus  que devem causar calafrios em religiosos, mas não há nada nas imagens que não tenha acontecido nos quartos e salões nem tão secretos do Vaticano.

O volume 1: "Sangue Para o Papa" mostra o futuro papa Alexandre VI, ainda o poderoso cardeal espanhol Rodrigo Bórgia, tramando, subornando e matando seus adversários no conclave que ocorreu após a morte do seu predecessor, o Papa Inocêncio VIII, já famoso pela luxúria.

Os quatro filhos de Rodrigo Bórgia: Lucrécia, César, Giovanni e Jofre são cada um mais devasso e perigoso do que o outro e os desenhos dos corpos em combates físicos ou em relações sexuais em detalhes e cores vivas, são a marca registrada do desenhista Milo. 

A história dos Bórgias já foi adaptada para tv pelo diretor Neil Jordan (de Entrevista com o Vampiro, Fim de Caso e Traídos Pelo Desejo, este último que lhe rendeu dois Oscars como diretor e roteirista) com o ator Jeremy Irons interpretando o papa Alexandre VI. O escritor Victor Hugo também escreveu uma peça adaptada para a Ópera de Donizetti: Lucrezia Borgia

É chocante acompanhar o frenesi de violência de Rodrigo Bórgia que manda cortar os pênis de 150 frades amantes do belo cardeal Júlio Rovere, seu concorrente ao papado, além de matar o filho de outro cardeal arrancando-lhe os olhos com uma colher. Rodrigo não hesita em entregar sua própria amante a um velho em troca de voto.

Os volumes seguintes são: “Poder e Incesto”, “As Chamas da Fogueira” e “Tudo é Vaidade”, onde acompanhamos personagens como Leonardo da Vinci, seduzido por César Bórgia com seu próprio corpo para projetar suas máquinas de batalha e o filósofo e político Nicolau Maquiavel aconselhando César na guerra contra a França liderada pelo rei Carlos VIII. 

Uma das história que sempre me impressionaram e que está contemplada na série é a guerra aberta do icônico padre dominicano Girolamo Savonarola, inimigo do papa, que levou Florença ao que ficou conhecido como A Fogueira das Vaidades, que levou centenas de fiéis a queimarem, em um verdadeiro frenesi, todos os seus objetos de arte e de luxo, terminando por levar o próprio Savonarola a ser condenado pelo papa à fogueira. É curioso que o termo Savonarola passou a ser utilizado como adjetivo para qualificar pessoas fanáticas, já tendo sido usado para designar o presidente Jair Bolsonaro.

Fiquei fã da arte de Milo Manara, que não conhecia. Agora já quero muito ler sua biografia ilustrada do pintor italiano Caravaggio, mestre supremo do chiaroscuro renascentista. Também me interessei pelo jogo Assassin's Creed em que Lucrécia é uma antagonista ao lado de César e do pai Rodrigo. O jogo retratada abertamente a relação incestuosa entre os irmãos César e Lucrécia. 



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