27.4.09

Primavera em Nova Yorque - V

5º DIA-QUINTA FEIRA

Hoje fez um dia lindo, diferente dos dois últimos. Não choveu e o céu ficou azul claro e sem nuvens todo o dia. Seguindo mais uma vez os sábios conselhos da minha amiga Beth (o primeiro foi o passeio pelo East River), fui a um lugar que não dá para descrever facilmente: o The Cloisters.

Trata-se de um maravilhoso museu que fica bem no finalzinho da ilha de Manhattan. Peguei o metrô próximo da Rua 50 e fui nele até a Rua 190, que fica quase no fim da cidade. Quase 140 ruas de distância e umas 10 estações de metrô. Mas foi bem rápido.

Eu fico pensando que ser católico deve ser muito bom mesmo. A pessoa tem fé, acredita em Deus, céu e santos etc e, se gostar de arte e história, ainda pode aproveitar a sensação indescritível que é esse lugar. Vou tentar explicar o que não dá para explicar, pois é uma experiência única em um edifício que reproduz um mosteiro medieval em todos os detalhes.

Simplesmente não se chega direto na frente do The Cloisters que, traduzindo, quer dizer claustro. O metrô te deixa na Rua 190 e entra-se por um parque lindo, um bosque repleto de árvores, caminhos bem cuidados, ao lado do Rio Hudson e com a ponte George Washington ao fundo, separando a ilha da cidade de New Jersey. Esse parque, o Fort Tryon Park, tem uma história também, como tudo aqui que eles preservam e cuidam tão bem.

Nesse parque que foi restaurado e doado à cidade por David Rockfeller Jr., junto com o museu, George Washington preparou a defesa da cidade na Guerra da Independência americana. O mosteiro, na verdade, foi construído da década de 1930 mas todo ele é feito com restos de mosteiros medievais da Europa. As salas, pátios, escadarias e claustros, além de receberem os nomes dos lugares de onde originalmente vieram os objetos, têm colunas originais dos séculos 12, 13, 14 e 15. Tapeçarias preciosas, vitrais incríveis, tudo belíssimo, crucifixos e esculturas de mármore, bronze, ouro, prata e marfim. Eles têm colunas inteiras trazidas de mosteiros europeus da idade média, ou o que sobrou deles. Na verdade, trouxeram os mosteiros completos. Desmontaram e montaram tudo de novo.

Tudo é extremamente bem explicado, com guias, roteiros, instrutores, legendas...há muitos objetos que foram usados pelos reis, rainhas, duques, abades, bispos....como livros de orações com gravuras em ouro, trípticos, dípticos e polípticos que são pinturas que se dividem em duas, três ou mais pinturas que se dobram. Tem várias capelas e pátios, um pátio interno com fonte cercado de colunas e salões, túmulos de cavaleiros templários medievais e cruzados verdadeiros e algumas salas com tesouros indescritíveis.

Minha amiga Beth, que além de católica é amante de arte e história, deve ter realmente ficado encantada. Nos guias a gente fica sabendo que grande parte das relíquias que foram trazidas para cá sofreram muito durante a história. Muitas delas foram quase destruídas em guerras religiosas. Durante a Revolução Francesa, muitas foram totalmente destruídas, outras serviram de estábulos, estátuas foram usadas como ponte para cavalos atravessarem rios.

Rockfeller, que era judeu, pagou uma bela grana para comprar e trazer para cá tudo isso. Havia um senso histórico muito importante nesses caras que era raro naquela época e ainda é hoje em dia. Se bem que também dizem que muita coisa foi roubada. Mas penso se não fossem trazidas para cá de algum modo estariam destruídas como aconteceu com os Budas gigantes destruídos pelos talibãs do Afeganistão e o museu de Bagdá, destruído por bombardeios e depois saqueado.

Tem um jardim inteiro ao ar livre onde eles plantam ervas que eram usadas na Idade Média. Tem até receita de comida que era feita naquela época. Um jardim bem grande e conservado com plaquinhas explicando o nome de cada planta, muitas nem se usa mais hoje.

Esse é um lugar realmente mágico, repleto de arte românica, gótica, católica, florentina... Fiquei realmente fascinado com tudo. Depois de horas ali, onde almocei num café num pátio interno ao lado de uma fonte medieval com passarinhos, comprei algumas miniaturas na loja do museu (sempre tem uma loja assim nesses lugares).

Seguindo o conselho de Allan, em vez de voltar de metrô peguei o ônibus que para na frente do museu e, das 17:30 ate as 19:30, apreciei uma viagem interessantíssima por centenas de ruas e avenidas, onde se aprecia a região norte de Manhattan, o Harlem e suas construções, passando pela frente da Columbia University, a parte superior do Central Park, atravessando as avenidas Columbia, Amsterdam, Broadway e a 5ª Avenida, ao lado do Central Park, até a Penn Station.

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