26.4.09

Primavera em Nova Yorque - III

3º DIA
TERÇA FEIRA

Falei muito cedo sobre o sol de NY. Hoje, terça feira, meu terceiro dia nesta cidade fez um dia nublado e chuvoso. Não era uma chuva forte, mas era incomodamente úmida e fria. E o frio estava quase a zero grau, além de um vento chato.

Abriguei-me com todas as roupas possíveis, mas não tinha um gorro nem um cachecol e por isso sofri um pouco. Aproveitei a calça de capoeira que uso para dormir como se fosse um pijama e vesti por baixo do jeans. Mas ainda assim fez frio. Porém, como na casa do Allan, onde estou hospédado, tem duas estações de metrô praticamente em frente, não tive problemas para chegar em Manhattan.

Estar hospedado no Queens pode parecer à primeira vista, um inconveniente, mas não é mesmo, pois apesar de estar separado de Manhattan pelo Rio East, bastam duas paradas do metrô e já estou na Times Square. Além disso, tem vários restaurantes e delicatessens em volta da casa do Alan. Aqui também tem um dobermann enorme chamado Rolland, mas que pensa que é um coelho, pois se comporta como um.

Bem, como hoje estava este dia úmido, resolvi passar a tarde em um lugar quente. Passei mais de 4 horas no Museu de História Natural que fica em um prédio imenso que ocupa três quarteirões ao lado do Central Park. É um dos maiores museu de História Natural do mundo, com mais de 36 milhões de artefatos de todos os tipos que se possa imaginar. São quatro andares, além de um nível abaixo da rua. O metrô pára exatamente do lado do Museu e tem uma entrada diretamente no nível do metrô. Nem se precisa sair para a rua para entrar nele.

Só as joias que o museu tem valem mais de 50 milhões de dólares. Tem salões enormes, com pés direitos altíssimos, colunas de mármore rosa na entrada, além de paredes de mármores negro e branco, tetos trabalhados em todos os salões e corredores enormes. Eles não perdem obviamente a oportunidade de lembrar que são um país capitalista, pois em todos os andares tem lojas de souvenires que vendem de tudo, livros, bonecos, roupas, pedras...E tem também cafés e restaurantes dentro do museu, o que e bem conveniente, pois depois de andar horas por aquelas salas dá um cansaço e uma fome danada e dá para comer de tudo nos restaurantes de lá.

Nem sei por onde começar a descrever o Museu de História Natural. Estive lá em 1998, 11 anos atrás, mas desta vez fiz do jeito que gosto. Da primeira vez não estava sozinho e quando se vai num lugar desses com outra pessoa a gente tem que limitar-se bastante. Desta vez fiz tudo com muita calma.

Hoje o museu estava lotado e com muitas crianças. Eu fico imaginando se quando eu era criança eu tivesse a oportunidade que essas crianças daqui têm de ver tantos dinossauros, reproduções dos meio ambientes dos animais de todo o planeta. Eles têm até mesmo a réplica de uma baleia azul enorme que quando foi capturada originalmente pesava mais de 150 toneladas. Esta baleia fêmea fica como que flutuando numa sala gigante e em volta dela se vê todos os tipos de animais marinhos. Golfinhos, tartarugas, tubarões, leões marinhos e peixes de todo tipo, lulas gigantes...uma profusão luxuriante com requintes e cuidados na reconstrução dos ambientes. São umas vitrines grandes chamados de dioramas que reproduzem um ambiente com réplicas de plantas e solo, em 3 dimensões com um fundo que se confunde com o primeiro plano. Têm de tudo. Todos os animais marinhos possíveis, os animais africanos, mamíferos, felinos, répteis, primatas... Um grupo de 5 elefantes enormes, uma manada capturada inteira. Tudo empalhado em alta qualidade. Não tem onde acabar...Estão todos ali.

Há salas com cinemas passando documentários o tempo todo, salas sobre os dinossauros com todos os tipos.. As crianças adoram. E tudo com explicações, textos muito informativos. Todo tipo de pássaros com seus ambientes reproduzidos e tem também a história do ser humano. Essa foi uma das partes de que mais gostei. A origem do homem na África, os povos africanos em todos os seus ambientes e épocas, desde a pré-história com milhares de artefatos religiosos, de caça, pesca, comércio e indumentárias. Centenas de máscaras de todos os povos, estátuas dos deuses.

Tinha toda a história dos judeus, dos europeus e dos povos asiáticos. Tudo. Beduínos no deserto, a história do Islã, de Maomé, da Índia, Tibet, China, Japão, Mongólia e até de Troia. Réplicas de navios e a história do comércio de especiarias do oriente para o ocidente. Réplicas dos portos de Alexandria e Calcutá...Um espetáculo atordoante de bem feito.

No andar dedicado a América do Norte e Américas Central e do Sul eles trouxeram de tudo, réplicas de túmulos astecas, incas, maias, florestas inteiras replicadas e tudo em 3 dimensões. Ídolos de pedra, prata e ouro... Coisas que foram roubadas pelos espanhóis durante as conquistas da América e que foram recuperadas. Tinha uma pedra redonda imensa de mais de 20 toneladas e 12 pés de diâmetro, toda cheia de desenhos em baixo e alto relevo. Era a Pedra do Sol que veio do México e era originalmente um calendário asteca com previsões de eclipses e catástrofes.

A crise chegou também nos museus daqui e tinha algumas alas temporariamente fechadas por conta disso. Eles só abrem em alguns dias. Parece que demitiram muitos empregados.

Tem uma ala inteira dedicada a origem do universo. Um teatro reproduz o Big Bang e a gente desce uma enorme passarela em espiral e vai sabendo dos 13 bilhões de anos desde o Big Bang. A origem dos quasares, das galáxias, dos buracos negros. Tem um meteoro enorme todo de ferro que está em exibição, um negocio raríssimo. Tudo muito explicado, de modo ultra didático. Apaixonante.

Uma ala que achei muito legal foi a que trata da Biodiversidade onde eles mostram o que acontece com o planeta com as mudanças climáticas, o que faz com que mude o ph dos oceanos e a destruição dos ecossistemas. Mostram que a extinção, por exemplo, de uma cultura indígena, afeta a perda de conhecimento, língua e até de remédios naturais importantes.

Fico impressionado que os EUA sejam o país que mais polui no mundo, que quando teve a ECO 92 no Rio, se recusaram a assinar tratados de respeito a biodiversidade e que não ratificaram o Tratado de Kioto sobre poluição....Vendo pelo museu de história natural nem parece que estamos nos EUA.

Depois de horas de História Natural ainda chovia e fazia frio. Mas os pés estavam latejando de dor de tanto andar. Voltei para casa para um banho e descanso.

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