27.4.09

Primavera em Nova Yorque - IV

4º DIA
QUARTA FEIRA

Hoje foi outro dia produtivo. Não choveu, mas fez um frio bem grande. Aproveitei para comprar finalmente luvas e um gorro. Ainda não comprei um cachecol, mas será o próximo. Hoje fiz uma coisa que minha amiga Beth me recomendou que fizesse e que há tempos queria ter feito que foi um passeio de barco pelo Rio East.

Dizendo assim parece uma coisa boba mas trata-se de um super-passeio. Peguei um metrô aqui mesmo na porta da casa do Allan e com uma troca numa estação cheguei no Seaport que fica no lado do Rio East numa área de NY onde eram as antigas docas no século 19 que foi toda reformada. Ali alguns barcos param para esses passeios que é uma experiência incrível. Só teria sido melhor se o dia não estivesse tão frio.

O barco tem 3 andares e o barato é ficar no topo mas tem que se aguentar o frio e o vento. Ele passeia por uma hora pela área sul de Manhattan. Passa sob a ponte do Brooklin que separa NY do Brooklin e que tem mais de 1 km de comprimento. Essa é a largura do East River nesse lugar que acho que é um dos lugares onde o rio é mais estreito. Passamos ainda sob as pontes Wiliamsburg e Manhattan, pelo porto de NY onde o Rio East (que de fato não é um rio, mas uma parte do mar que avança ao lado da ilha de Manhattan) se encontra com o Rio Hudson, pela Ellis Island, onde os antigos imigrantes chegaram em NY, pertinho da Estátua da Liberdade e o tempo todo havia um narrador contando toda a história nos alto falantes.

Esses americanos são mesmo muito orgulhoso. O tal do narrador do barco deve ter passado uma hora só elogiando NY. Dizendo que aqui esta toda a riqueza, que nos estamos com uma grande oportunidade de conhecer uma cidade tão poderosa, que aqui tem muito dinheiro, ouro, construções de prédios e navios e indústrias, fábricas etc. E ia descrevendo as paisagens que víamos dos dois lados do rio. Ele realmente demonstrava muito conhecimento, pois afinal faz isso o dia todo mas é muito instrutivo pois ele conta toda a história de como as coisas foram feitas, a ponte do Brooklin, o Empire States e um monte de detalhes interessantes.

Mas veja que coisa ridícula: esqueci de levar minha máquina fotográfica e tive que perder essa oportunidade de registrar. Pelo menos não precisei ficar pedindo o tempo todo “please mister or miss, take me a picture”. Há males que vem para o bem. Após o passeio almocei no Pier 17, um complexo de 3 andares com inúmeras lojas legais e restaurantes de todo tipo onde comprei um relógio para finalmente não ter que perguntar as horas a todo mundo a todo momento. Estava pensando em passar as férias sem precisar me preocupar com relógio, mas algumas coisas tem horário, mesmo nas férias.

Caminhei bastante à tarde depois desse passeio de barco. Fui ate o City Park Hall, que é um parque em frente a prefeitura e pertinho do WTC que hoje é um canteiro de obras. Seguindo o meu inseparável e utilíssimo guia ilustrado da Folha de São Paulo, passei por tudo que era indicação interessante do guia.

Ahh..não posso me esquecer dos cemitérios, coisa que adoro. Perto daquele lugar tem uma igreja bem charmosa St. Paul`s Church, da época da independência americana, onde há um cemitério muito antigo com túmulos interessantes. Essa igreja fica ao lado do Word Trade Center e eles exibem centenas de objetos que as pessoas deixaram para os bombeiros e as vitimas do atentado às duas torres: fotos, emblemas etc. Além de relíquias que eles preservam lá como a cadeira onde se sentava George Washington quando NY era a capital dos EUA…essas coisas…

Depois segui o conselho de Allan e fui ver a festa anual da primavera que a Macy`s faz. Ocorre uma vez por ano e segundo Allan era imperdível. A Macy`s da Herald Square é simplesmente a maior loja de departamentos do mundo. Eles fazem vitrines incríveis e nesse período as enormes vitrines estão todas repletas de flores e a loja inteira esta cheia de arranjos floridos de todos os tipos com desenhos de flamingos e outros arranjos delicadíssimos de flores naturais.

O perfume do lugar é inebriante. Fiquei um bocado ansioso porque não gosto muito de lugares com muitas opções de compras como esse. São vários andares com milhões de artigos. Tinha mil descontos e ainda 10% de cupons para turistas. Quer dizer, descontos sobre descontos, todos os tipos de roupas, perfumes.... Saí de lá agoniado. Volto depois com calma, pois o cartãozinho que eles dão vale por vários dias.

Bem, a última parte do dia foi outro ponto alto. Lá mesmo no Seaport tem uma loja da TKTS que e onde eles vendem ingressos para as peças e shows da Broadway com descontos. Tem uma igual em Times Square, mais famosa, mas Allan me sugeriu que eu comprasse no Seaport pois quase não tem fila. Eram muitas as opções de shows e comprei uma revista-guia que explicava tudo com indicações dos críticos. Já havia assistido uma vez a Cabaret e a O Fantasma da Opera e dessa vez não queria ver um musical. Optei por Mary Stuart que está em cartaz no Brasil também, mas aqui é com duas atrizes famosas inglesas. Paguei 51 dólares, o que é metade do preço da bilheteria, mas descobri que dava para comprar na própria bilheteria do teatro por 30 dólares com carteira de estudante arriscando o teatro não estar lotado. Vou aprender isso para os próximos shows.

A peça dura 3 horas com um intervalo curto e confesso que perdi muitos diálogos que ainda por cima tinham sotaque britânico. Mas como já conheço a história da disputa das rainhas Elizabeth I da Inglaterra e sua prima Mary Stuart da Escócia, foi tudo bem.

O texto original e de Friedrich Schiller, de 1800 e as duas atrizes dão uma verdadeira lavagem de interpretação. Não tem música na peça e ela se sustenta quase toda com as duas atrizes. Um embate indescritível entre a força protestante de Elizabeth e a fé católica de Mary Stuart que ficou 19 anos presa pela prima antes de ser condenada à morte. Detalhes: quanto mais silêncio, mais contagiosas são as tosses. Tosse-se demais. No meio de uma cena primorosa, quando a atriz esta dizendo aquela fala importantíssima tosses espocam por todos os lados.

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