26.4.09

Primavera em Nova Yorque - II

2º DIA
SEGUNDA FEIRA

Não consegui descrever corretamente a Parada da Páscoa de ontem. Na verdade foi uma experiência muito estranha e meio bizarra. A polícia fechou umas 8 ruas na quinta avenida e os americanos que passeavam com os chapéus loucos realmente incorporavam a ideia. Concordo que é uma coisa um tanto brega mas é muito divertida. Tinha de tudo. Lembrei de uma velhinha usando um maiô naquele frio de 3 graus como se estivesse tomando um banho de sol. Ela trazia um cartaz escrito paz e amor e as pessoas se aglomeravam em torno dela para fotografá-la. Fico imaginando que essa velhinha deve ter aprontado muito nos seus anos mais jovens.

Nova Yorque é mesmo uma babel multicultural. Aqui há uma profusão de tipos diferentes e não só de turistas. Encontram-se toneladas de judeus, famílias inteiras deles usando aqueles quipás e aquelas trancinhas, muito asiáticos de todos os lugares. Asiáticos, latinos e africanos são vistos em pencas.

Hoje foi um dia capitalista. Resolvi fazer uma turnê pelos grandes prédios importantes da quinta avenida e, meio deslumbrado, passei pelo esplêndido Trump Tower onde Donald Trump expôs toda a sua breguice de mármore cor de rosa em um lobby que sozinho ocupa 6 andares com muitas lojas caríssimas. Depois passei pelo hotel The Plaza, onde me deslumbrei mais um pouco com os muito ricos. Um outro lobby riquíssimo onde madames plastificadas tomavam champanhe às 5 da tarde e jogavam conversa fora. Tudo muito caro e folheado a ouro e coberto de veludo e esses tecidos finos que não sei o nome.

Hoje andei igual a um condenado e, para não perder o hábito, me perdi inúmeras vezes com o mapa na mão. Tenho um sentido de orientação pior do que um morcego surdo mudo e cego. Aproveitei que hoje era o dia das coisas esquisitas e fui ao Rockfeller Center onde tem aquele ringue de patinação famoso onde as pessoas ficam desfilando na pista de gelo. Depois, agnosticamente, fui na Igreja de San Patrick, um desbunde católico. Imensa e cheia de turistas.

Também tentei tirar uma foto em frente à Tiffany`s, exatamente naquela vitrine onde Audray Hepburn toma café chiquérrima no filme Bonequinha de Luxo, cujo titulo original é exatamente Breakfast on Tiffany`s. Lá estava eu tentando uma foto para parecer cult em frente à vitrine da joalheria mais famosa do cinema, mas não consegui um ângulo bom com aquele monte de gente passando na minha frente. Desisti. Que pena. Consegui tirar uma foto em frente ao Rockfeller Center, mas não em frente à Tiffany’s...uma oportunidade perdida de não parecer vulgar e dar uma de cult.. Acontece.

Outra coisa que não consegui descrever bem foi a experiência na Frick Collecion de ontem. Não dá muito para descrever o que é aquilo. Só mesmo quem gosta de arte para entender e mesmo assim não se descreve. O tal do Frick, segundo soube, foi um dos homens mais ricos e odiados dos Estados Unidos e explorava o aço. Ele é da mesma época em que os milionários Rockfeller explorava o petróleo e Vanderbilt explorava a navegação.

Estava pensando que esses americanos sabem mesmo como enriquecer e como enriquecer muito além dos demais. O estranho é que este país é o mais capitalista selvagem do mundo, mas também é onde os sindicatos são mais fortes e poderosos. No passado, era mais fácil enriquecer quando não havia sindicatos e os industriais exploravam os trabalhadores aos milhares e em altíssimo grau sem respeitar todos esses direitos trabalhistas que existem hoje.

Hoje eles exploram os países pobres do 3º mundo. Imagino que é a única maneira de continuarem enriquecendo. Mas acho que ainda é uma avaliação um pouco simplista pois hoje em dia é uma coisa muito difícil explicar como as pessoas enriquecem assim. Outra coisa interessante é essa história da crise que eles estão passando aqui. Muitas pessoas estão sendo demitidas e o dinheiro aparentemente anda escasso, mas as coisas ainda não são tão baratas. Eles têm esse negócio de falarem deles mesmos como: "Estamos sem dinheiro". E têm uma noção muito clara de que estão no mesmo barco. Mas isso deve ser outra avaliação simplificadora.

Hoje também fui a Biblioteca Publica de NY. Fica em um prédio monumental e gigantesco com milhões de livros, corredores larguíssimos e compridíssimos, salas de leitura imensas com pé direito altíssimo, candelabros e claraboias enormes que deixam a luz de fora entrar, na porta uma escadaria grande com leões de concreto dos dois lados e o povo tomando um solzinho do lado de fora. Já foi cenário de vários filmes.

Hoje estava um dia menos frio, mas tem que se aproveitar o sol que da para aproveitar. Já li e ouvi falarem que NY não tem luz e que os prédios gigantes não deixam o sol penetrar. Não é verdade. Sem contar o Central Park, que é uma imensidão de luz, há vários parques pela cidade, muito bem conservados e áreas onde se aproveita o sol no frio. Havia dezenas de pessoas por ali em frente da biblioteca, descansando, tomando café naqueles copos gigantes...

Aliás essa é outra característica que eu tinha esquecido. As porções de comida são muito grandes. Na frente da casa onde estou hospedado tem um dinner, um daqueles cafés que ficam abertos 24 horas que a gente vê nos filmes, o que e muito conveniente. Tirei uma foto do lugar. Ontem à noite jantei lá uma sopa e uma omelete, mas não consegui comer tudo, pois é muita comida. Além disso, eles ficam te servindo café o tempo todo. Basta a sua xícara ir esvaziando que eles completam sem perguntar nada. Exatamente como a gente vê nos filmes e seriados americanos.

Meu almoço de hoje foi num daqueles restaurantes mexicanos. Pedi um burrito e um suco de maçã e, como sempre, porções imensas. Mas como eu estava com muita fome aproveitei. Além do mais não dá para comer burrito no Brasil e aqui eles são bem comuns.

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