2.9.12

"Carnaval" no Sul do Chile - Parte 1






Escrevi alguns capítulos sobre minha  viagem para Paris onde enfrentei duas semanas de frio de rachar. O que não contei é que emendei aquela viagem com outra para o Chile, que me livrou, pelo menos neste ano, do mais grotesco espetáculo da Terra: o Carnaval baiano.

No voo da Air France que me trouxe para São Paulo, e onde fiquei apenas uma noite antes de embarcar para Santiago, me sentei numa daquelas cadeiras do corredor da fileira do meio. Do outro lado do corredor, sentados em duas das três poltronas disponíveis, um baiano na janela e uma uruguaia no corredor com um assento vazio entre eles. 

A partir de um determinado tempo comecei a ouvir a voz grave, metálica, alta e irritante do baiano que puxava conversa com a uruguaia. Ela teve que parar de ver o filme a que assistia para dar atenção ao baiano que falava como uma matraca. Até eu estava incomodado com aquela voz chatíssima, mesmo com meus fones de ouvido no volume máximo, imagino a moça. Ela demonstrava que queria ver o filme, mas o chato não notava e contava detalhes da sua vida, histórias intermináveis das suas viagens, minúcias de fatos tão banais que precisavam de muito para beirar o irrelevante.

Fiquei pensando como ajudar a moça e me poupar daquele incômodo. Ele tinha uma expressão de cachorro, um rosto inexpressivo e a moça era bela e educada. Como é que algumas mulheres são capazes de suportar homens assim? Como é que homens desses acham que podem ser sedutores falando sobre si mesmos sem parar, sem demonstrar qualquer interesse verdadeiro sobre a mulher com quem conversam e sem o mínimo desconfiômetro sobre sua própria falta de graça e chatice? 

Ele não tinha interesse em nenhuma das dúzias de filmes disponíveis no avião, pois ficava o tempo todo checando o mapa do voo na tela da sua frente, como se houvesse algo muito interessante no meio do Atlântico. Olhava dados de altura e tempo de voo com extrema atenção, acompanhando a mudança ínfima do nada para coisa alguma.

Quando ele fez silêncio por alguns segundos bati no ombro da moça e disse alto para que ele ouvisse: “Esse filme é muito bom!” Ela pareceu sacar meu intento em ajudá-la. Repeti:. “É muito bom mesmo. Assista!” Foi quando o tagarela percebeu que ela queria ver o filme e a partir dali não se falaram mais e ele se deitou e dormiu de modo deselegante, em posição fetal, usando a cadeira vazia entre os dois, empurrando a moça com os pés ou virando-se com as nádegas voltadas para ela. Ao acordar, tomou várias cervejas, ficou semi-bêbado e teve uma crise de espirros durante uma turbulência. Perdi a conta depois do vigésimo espirro.

1 comment:

Unknown said...

Em vôo de Buenos Aires a São Paulo, tivemos a companhia de uma alemã radicada em Sampa que, embriagada, não nos permitiu o mínimo descanso. De igual modo, em outra ocasião, de Porto Alegre a Brasília, foi a vez de um palestino matracar durante todo o percurso. Ser inconveniente não é exclusividade de baiano, amigo...