Li que O Vingador
do Futuro (Total Recall) superou o terceiro "Batman", levando a
bilheteria do morcego para a segunda posição. Isto não seria suficiente para me
levar ao cinema e assistir a este remake, mas tenho uma grande simpatia pelo filme
original de 1990, de Paul Verhoven, em que Arnold Schwarzenegger encarna muito
bem o papel do protagonista do excelente conto de ficção científica
"Lembramos para você a preço de atacado" de Phillip K.Dick, autor,
entre outros, dos contos que deram origem a filmes como Minority Report, Blade
Runner e O Pagamento.
Então, que graça teria ver uma
refilmagem já sabendo dos segredos que o roteiro guardava para apresentar como
surpresa no desenrolar da trama?
Então lá estava eu na sala 8 do
Cinemark. Lotada de adolescentes se empanturrando de pipoca e casais...por que
não fazem uma sala onde adolescentes sejam barrados e só entrem pessoas
sozinhas....se um dia eu me candidatar a algum cargo, vou defender essa plataforma:
cinema deveria ser um outro prazer solitário.
Bem, mas voltando ao Cinemark.
Eis que o diabo do filme começa a dar problema. O som teimava em, subitamente,
se mostrar abafado e quase só se ouviam os diálogos dos atores e nada dos
efeitos sonoros, um dos pontos mais importantes de uma boa ficção. Os ruídos de
fundo, os barulhos dos carros espaciais e os efeitos vinham, ficavam alguns
minutos e sumiam. Depois ficavam indo e voltando sem parar.
Isso me irritou de tal modo que
me levantei da cadeira e fui procurar algum responsável para exigir meu
dinheiro de volta, afinal havia perdido a vontade de assistir ao filme àquela
altura. Felizmente, o gerente foi muito educado, devolveu o valor do ingresso,
disse que ia providenciar o conserto e afirmou que o que importava não era o
dinheiro, mas minha satisfação. Mas o que me irritou mesmo foi que ninguém
naquela sala lotada se dispôs a reclamar. Por eles, o som podia ficar assim até
o fim do filme que ninguém se incomodaria.
Dias depois, me dirijo ao cinema
do shopping Barra para tentar terminar de ver o filme que tinha deixado na
metade e fiquei impressionado com a imundície da sala. A vigilância sanitária
precisava fazer uma visita urgente lá. Além de um cheiro insuportável de mofo
no carpete das paredes, as cadeiras são sujas e velhas e o chão, cascudo de
cimento, parece que nunca viu uma vassoura. Trata-se de uma sala antiga, com
sistema de som defasado e nem sequer a projeção presta.A imagem é fosca e o
som, abafado.
Para completar, havia uma criança
de uns dois anos na sala com um casal que, suponho, fossem os seus pais. A
criança, obviamente, não devia estar ali, pois o filme tem censura de 14 anos.
Vira e mexe um dos pais tinha que sair da sala com a menina que fazia barulho e
isso me perturbava. Como ainda estava na parte do filme que eu já tinha visto,
me submeti a ir até a portaria para saber do responsável pelo cinema se não era
proibido manter uma criança na sala. Parecia que eu estava vivendo um flash
back, mas, desta vez, cinco moças fardadas do cinema me olharam como se eu
fosse um doido. A resposta que ouvi foi
que se a criança estava com os pais elas não podiam proibir a entrada.
Eu perguntei se a censura não era
de 14 anos e elas ficaram se olhando como se eu estivesse fazendo uma pergunta
de trigonometria ou propondo discutir o Bóson de Higgs. Decidi apelar para a respiração
Sudarshan Kriya, como me ensinaram no
curso de respiração da Arte de Viver para reduzir o estresse e a ansiedade.
Mas e o filme mesmo? Afinal era
para isso que eu estava ali
Sinto dizer, mas esta refilmagem
perde bastante para o original apesar de ser um bom entretenimento com
emocionantes sequências de perseguição e ótimos efeitos visuais. Diferentemente
do primeiro filme, aqui toda a ação se passa na Terra e não mais em Marte.
Apesar de passados mais de 20 anos da primeira versão, ela jamais envelheceu,
como acontece com filmes de ficção que contam com boas direções e bons
roteiros.
Paul Verhoven, diretor do
primeiro filme, não gostou do remake e menos ainda de ouvir os novos produtores
tacharam o original de brega e Colin Farrell chamá-lo de kitsch. Aí é que está o busílis. Porque
ser kitsch é ser necessariamente ruim? Um filme pode ser adoravelmente kitsch e
ser ótimo. E isso é uma das melhores coisas do Vingador do Futuro original.
O crítico Érico Borgo,
sabiamente, lembra que “Colin Farrell é bom ator, mas não tem o carisma
necessário para segurar um filme assim. Enquanto Schwarzenegger fazia caras e
bocas e gritava com seu sotaque carregado, Farrell se esforça para parecer
perdido e aflito, o que ajuda a dar a impressão que este O Vingador do Futuro
se leva a sério demais. É mais sombrio, mais realista, mas muito menos
divertido. A versão genérica tira do clássico tudo o que o tornou memorável”
O protagonista Doug Quaid deixou
a pele de Schwarzenegger e agora encarna em Colin Farrell como o mesmo operário
com rotina frustrante que procura a tal companhia Recall ou Rekall (não entendi
porque a mudança do nome), para viver memórias alheias. Tudo igual ao original,
nada de novo sob o céu. É uma pena que falte a Colin Farrell o que sobra a
Schwarzenegger: um porte poderoso que justifique levar tantas porradas e tombos
sem fraturar várias costelas e vértebras.
Outra pena é a falta enorme que
faz Sharon Stone que, no original, interpretou a esposa do protagonista. No seu
lugar está Kate Beckinsale. Sinceramente, Stone, mesmo com mais de 50 anos,
está inteiraça para repetir o papel, além de ser muito melhor atriz do que
Beckinsale, esposa do diretor Len Wiseman desde que filmaram juntos os bobos
Anjos da Noite. Se Stone não conseguisse a mesma agilidade física da quase
quarentona Beckinsale, sobra, à louraça, carisma e talento. E para cenas de
ação já inventaram uma coisa bem moderna chamada dublê!
Enfim, vale a pipoca. E nada
mais.
2 comments:
Você é demais! Viver em Salvador nos submete a experiências surreais.
A ficção científica sempre foi um dos meus gêneros favoritos e acredito que tem que ser muito boa ou muito divertida. Nesse ponto, a presença de Schwarzenegger sempre ofereceu alguma coisa de sobre-humano que o gênero cobra. Ou você imagina alguém melhor do que Rutger Hauer para ser um replicante?
Para finalizar, com o perdão de De Niro, compartilho um sonho: ver o velho Schwaza como a criatura de Frankenstein.
Fiquei mais interessada no primeiro filme: aquele protagonizado por um cinéfilo em duas salas de cinema de Salvador-Ba (rs). A sala do Shopping Barra nunca prestou: dá para ouvir o som da praça de alimentação e o tilintar dos talheres, copos e pratos.
Post a Comment