É difícil selecionar as imagens mais
marcantes desse filme transbordante de silêncios eloquentes em planos abertos,
diálogos densos e bela fotografia. Há muitas cenas fortes, como o embate sexual
rude e brutal entre os homens em uma barraca ou quando o
personagem-ilha-do-mar, Ennis Del Mar, vê seu mundo solitário
ruir, ao se separar do companheiro após a descoberta do idílio de Brokeback
Mountain e literalmente desabar, esmurrando uma parede, em desespero e
abandono. Jamais o amor aparecera em sua vida e quando surge vem rompendo seu
coração e entranhas. A dor, insuportável e desconhecida, até então, é tão real
que ele precisa gritar.
Marcante também a sequência em que o personagem,
Jack Twist, dirige a camionete com um radiante sorriso para, em
seguida, encher a tela do cinema de tristeza com lágrimas sufocadas e
partir em busca de uma autoestima esquecida e dar satisfação a um desejo
físico, urgente, simulacro do amor.
A cena em que o pai leva os filhos para ver
um homem castrado por ter um companheiro revela o cuidado do sensível diretor
Ang Lee em contextualizar a atmosfera psicológica asfixiante que dominava o
personagem-ilha, o que o levara a viver numa prisão de palavras.
Ang Lee, utilizando-se de um econômico e bem sacado flash back, introduz na
narrativa linear, um recurso que será, adiante, fundamental, em um segundo
flash back, para a compreensão do destino do outro personagem.
Atordoante é a cena final, de uma desoladora
promessa de redenção impossível. Um filme divisor de águas, com
uma mensagem de sutil desesperança. Ou talvez não! Um dos filmes mais políticos
dentro de uma safra que tem uma marca não-alienante, como Crash, Capote,
Munique, O Jardineiro Fiel, Marcas da Violência, Siriana, Boa Noite, Boa Sorte,
Transamérica, Paradise Now.
Brokeback Mountain é um tapa na cara de uma
América conservadora, de uma região de cowboys com preconceitos arraigados e
que votou em massa em um presidente que luta de modo desigual contra todos os
direitos das minoras. Não é a toa que o filme se passa no estado do
Wyoming, onde o jovem Matthew Sheppard, foi espancado até morrer por ser
gay, o que inspirou Annie Proulx, a autora do conto original.
Tratar, com sutileza, do embate entre o amor
de dois homens – em que a única cúmplice é a montanha – e a vigilância severa
da moral conservadora, mostrando, em uma obra prima, a derrota desse amor,
deixa a todos nós também um pouco derrotados.
Ao final, o homem-ilha, insulado em seu
trailler, solitário american white trash, sem futuro e perspectiva e que guardará apenas a memória de poucos momentos passados em uma
bela montanha. Pouco, muito pouco para o
que lhe fora oferecido e recusado. O destino não reserva beleza ou alegria para
quem o teme. Não há redenção para quem tenta escapar da felicidade possível.
Isto, além de arte, também é política!
No comments:
Post a Comment