11.11.16

O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN

É difícil selecionar as imagens mais marcantes desse filme transbordante de silêncios eloquentes em planos abertos, diálogos densos e bela fotografia. Há muitas cenas fortes, como o embate sexual rude e brutal entre os homens em uma barraca ou quando o personagem-ilha-do-mar, Ennis Del Mar, vê seu mundo solitário ruir, ao se separar do companheiro após a descoberta do idílio de Brokeback Mountain e literalmente desabar, esmurrando uma parede, em desespero e abandono. Jamais o amor aparecera em sua vida e quando surge vem rompendo seu coração e entranhas. A dor, insuportável e desconhecida, até então, é tão real que ele precisa gritar.

Marcante também a sequência em que o personagem, Jack Twist, dirige a camionete com um radiante sorriso para, em seguida, encher a tela do cinema de tristeza com lágrimas sufocadas e partir em busca de uma autoestima esquecida e dar satisfação a um desejo físico, urgente, simulacro do amor.

A cena em que o pai leva os filhos para ver um homem castrado por ter um companheiro revela o cuidado do sensível diretor Ang Lee em contextualizar a atmosfera psicológica asfixiante que dominava o personagem-ilha, o que o levara a viver numa prisão de palavras. Ang Lee, utilizando-se de um econômico e bem sacado flash back, introduz na narrativa linear, um recurso que será, adiante, fundamental, em um segundo flash back, para a compreensão do destino do outro personagem.

Atordoante é a cena final, de uma desoladora promessa de redenção impossível. Um filme  divisor de águas, com uma mensagem de sutil desesperança. Ou talvez não! Um dos filmes mais políticos dentro de uma safra que tem uma marca não-alienante, como Crash, Capote, Munique, O Jardineiro Fiel, Marcas da Violência, Siriana, Boa Noite, Boa Sorte, Transamérica, Paradise Now.

Brokeback Mountain é um tapa na cara de uma América conservadora, de uma região de cowboys com preconceitos arraigados e que votou em massa em um presidente que luta de modo desigual contra todos os direitos das minoras. Não é a toa que o filme se passa no estado do Wyoming, onde o jovem Matthew Sheppard, foi espancado até morrer por ser gay, o que inspirou Annie Proulx, a autora do conto original.

Tratar, com sutileza, do embate entre o amor de dois homens – em que a única cúmplice é a montanha – e a vigilância severa da moral conservadora, mostrando, em uma obra prima, a derrota desse amor, deixa a todos nós também um pouco derrotados.

Ao final, o homem-ilha, insulado em seu trailler, solitário american white trash, sem futuro e perspectiva e que guardará apenas a memória de poucos momentos passados em uma bela montanha. Pouco, muito pouco para o que lhe fora oferecido e recusado. O destino não reserva beleza ou alegria para quem o teme. Não há redenção para quem tenta escapar da felicidade possível.

Isto, além de arte, também é política!

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