24.11.16

KILL BILL - VOLUME 2

O cineasta Quentin Tarantino é mesmo um cara de talento indiscutível. O homem tem a cultura pop que beira as raias do absurdo. Acompanhar o ritmo do seu talento nas telas é um exercício constante de admiração e deleite.

Em Pulp Fiction, um dos seus primeiros longas, contou com um baita de um elenco e inovou a maneira de contar uma história, filmar e editar em cinema, um feito até para quem já havia detonado no ótimo Cães de Aluguel, onde Tarantino continuou a nos surpreender com diálogos aparentemente banais, mas que ficavam realmente interessantes na boca de um grupo de assassinos. Já é clássica a cena em que os bandidos discutem a letra de Like a Virgin antes de partirem para um assalto de resultado trágico.

           Tragédia e comédia se inserem em doses extremamente equilibradas nos filmes de Tarantino. Outro elemento que surpreende é a enorme cultura musical do homem. Seus filmes tem trilhas sonoras que são verdadeiros achados. Comprar um CD com a trilha sonora é quase um gesto automático dos fãs que saem de um dos seus filmes.

            Kill Bill - Volumes 1 e 2 são mais uma prova do fôlego indiscutível de Tarantino. Os dois filmes foram feitos como se fossem um só e depois divididos a pedido da produtora e com o aval do diretor. Essa foi uma decisão mais do que certa, pois os dois são como duas peças complementares.  Em Kill Bill volume 1 vemos uma feérica demonstração de agilidade, violência extrema (um dos elementos mais caros ao diretor) e trilha sonora arrebatadora.

            A continuação traz a noiva: Uma Thurman, continuando a sua vingança. Alguém já disse que se você sai para uma vingança deve abrir duas covas (obviamente uma para si própria). Tarantino, como sempre, subverte essa ideia e as covas são abertas (literalmente) para muito mais gente.

            Em Kill Bill, Tarantino faz uma verdadeiro épico e também uma declaração de amor à sua estrela favorita, a bela e talentosa Uma Thurman. A ideia do filme surgiu de uma conversa do diretor com a atriz quando ainda estavam no set de Pulp Fiction: uma assassina decide largar a vida de crimes para se casar e o s seus cúmplices revoltados decidem matá-la no dia do casamento.

            Uma Thurman é A Noiva. Após sair de um coma prolongado, no volume 1, ela parte de cara para a sua vendetta pessoal, viaja para o Japão, aprende diversas lutas como um samurai de verdade, produz uma carnificina maravilhosamente filmada com uma trilha sonora arrebatadoramente coreografada como uma homenagem magistral aos grandes e antigos filmes japoneses de lutas marciais (outra paixão declarada do diretor) e ainda se dá ao luxo supremo de contar parte da história em animação, no estilo mesmo das animes, historias de desenhos japoneses para adultos, mas que são adoradas por adolescentes também (se continuar a enumerar mais paixões do diretor não paro mais).

            O filme não é contado em um único formato de película, nem com o mesmo tipo de fotografia e nem com narrativa linear convencional, ora, estamos falando do gênio Tarantino. Há uma sequência claustrofóbica dentro de um caixão enterrado, uma outra genial com a participação de um dos autores mais lendários do cinema oriental (Gordon Liu Jia-hui no papel de Pei Mei).

            A mitologia de Kill Bill conta que Tarantino chegou ao requinte de esperar dois anos para filmá-lo, pois não o faria sem Uma Thurman e como ela estava grávida de verdade (a gravidez da atriz no filme é falsa), ele aguardou a estrela estar pronta.

            A atriz conta que foi o trabalho mais difícil de sua carreira pela necessidade de tremendo preparo físico para as lutas. Nesse volume 2, a Noiva ainda precisa matar três membros da antiga quadrilha.  No volume 1 ela já fez uma carnificina mas só matou duas das antigas colegas (Lucy Liu e Vivica A. Fox). Nesse segundo filme, a Noiva precisa se vingar dos personagens de Michael Madsen (Budd) e de Daryl Hannah, interpretada por uma ameaçadora e ao mesmo tempo sensual Hannah com tapa-olho. Há duas cenas já antológicas da atriz: a primeira quando ela, calmamente, lê num papel as consequências de um envenenamento por uma cobra enquanto um dos personagens agoniza. A outra cena é ultra-hiper-cool luta com a Noiva dentro de um trailer.

            E, finalmente, faltava a Noiva matar Bill, o chefão interpretado por David Caradine. Não dá para não torcer pela bela Thurman um minuto sequer. É emocionante o seu encontro com a filha que ela julgava morta ao som de Malagueña Salerosa.  Um filme belo, rico, violento, pop, cult, épico, moderno, clássico, enfim, mais um Tarantino para a nossa coleção.



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