Vamos falar claro. Há apenas uma razão para
um filme ser feito: ganhar dinheiro! Tudo bem que existem uns poucos gatos
pingados, diretores e roteiristas, que ainda têm um resquício de ilusão de que
se pode utilizar a selva do cinema para transmitir um conceito, projetar uma
ideia, criar uma obra de arte em plena era da reprodutibilidade globalizada.
Estamos falando de uma indústria, bem entendidos?
Ideias? Bem, reciclagem é mais barato e tem
retorno garantido. Exemplos
desse raciocínio de mercado: “O Código da Vinci”, “X-Men 3” e “A Profecia”. O
primeiro, adaptação para o cinema de um best
seller arrasa-quarteirão; o segundo, uma coisa que no cinema quase sempre
dá certo, continuação; o terceiro uma praga chamada remake. Nos três casos,
vemos o enorme poder da mídia na divulgação de um filme. O que se gasta em
publicidade tem retorno praticamente garantido na bilheteria. O público é muito
previsível e os estúdios sabem disso muito bem. É como tirar pirulito de
criança e por isso investem maciçamente em divulgação. Ou seria lavagem
cerebral? A estratégia de marketing deste remake foi muito criativa. O estúdio
lançou o filme, internacionalmente, no dia 06/06/06, a marca que o filho da
besta traz no corpo. Boa sacada!
A Profecia segue a mesma básica trilha batida
dos remakes, quase um gênero à parte. Pergunta inocente: por que ver a copia se
o original, melhor, está à nossa disposição? A Profecia, o filme original de
Richard Donner, de 1976, não envelheceu nada, conseguiu manter o mesmo frescor
de quando foi feito e isso não é pouca coisa para um filme de qualquer gênero.
No original havia uma trilha sonora
espetacular ganhadora do Oscar. A canção “Ave Satani”, arrepiante, praticamente
fica gravado no inconsciente de quem alguma vez viu o filme. No papel do Damien
original tínhamos o garotinho Harvey Stephens, assustador e que até recebeu uma
indicação ao Globo de Ouro, como Revelação Masculina.
A história é muito boa, um dos melhores
filmes de terror já feitos. Um diplomata adota um bebê após a esposa perder o
filho no parto, ele esconde o fato dela até que seis anos depois o menino passa
a se revelar o Anti-Cristo. Liev Schieber (“Pânico 1, 2 e 3”) e Julia Stiles
(“A Supremacia Bourne”) substituem os grandes Gregory Peck e Lee Remick no
papel dos pais do diabólico Damien, mas eles não são páreo para os originais.
No papel-chave da babá do filho da besta, está a ótima Mia Farrow, que antes já
havia estrelado o cult “O Bebê de Rosemary”, onde interpretava, justamente, a
mãe do filho do diabo.
O ator mirim Seamus Davey-Fitzpatrick, fica
no chulé do pequeno e elogiadíssimo menino do filme de 76. O olhar gélido,
misterioso e sombrio do garoto original nem de longe são atingidos por esse segundo
Damien que se limita a franzir o cenho e piscar os olhinhos. Isso não assusta
nem uma freira.
O elenco de apoio é um luxo, mas,
infelizmente, não consegue carregar o peso do filme inteiro. Os três mais
importantes são Pete Postlethwhaite (Oscar por “Em Nome do Pai”), no papel do
atormentado padre Brennan, David Thewlis (de “Harry Potter e o Prisioneiro de
Azkaban”), como o fotógrafo, e Michael Gambon, o arqueólogo (você o viu como
Dumbledore em “Harry Potter e o Cálice de Fogo”).
Os efeitos especiais dessa segunda filmagem
se limitam mesmo a dois bons sustos (a plateia grita nos dois), mas que são
devidos muito mais ao som altíssimo da sala de cinema nas duas cenas do que
propriamente pela criatividade delas.
Mas uma coisa não se
poder negar nesse tipo de filme, o público gosta mesmo de levar uns sustos e
está disposto a pagar tem por velhas novidades requentadas. O original, de 30
anos atrás, é 30 vezes melhor, mas quem está interessado nisso?
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