11.11.16

A PROFECIA

Vamos falar claro. Há apenas uma razão para um filme ser feito: ganhar dinheiro! Tudo bem que existem uns poucos gatos pingados, diretores e roteiristas, que ainda têm um resquício de ilusão de que se pode utilizar a selva do cinema para transmitir um conceito, projetar uma ideia, criar uma obra de arte em plena era da reprodutibilidade globalizada. Estamos falando de uma indústria, bem entendidos?

Ideias? Bem, reciclagem é mais barato e tem retorno garantido. Exemplos desse raciocínio de mercado: “O Código da Vinci”, “X-Men 3” e “A Profecia”. O primeiro, adaptação para o cinema de um best seller arrasa-quarteirão; o segundo, uma coisa que no cinema quase sempre dá certo, continuação; o terceiro uma praga chamada remake. Nos três casos, vemos o enorme poder da mídia na divulgação de um filme. O que se gasta em publicidade tem retorno praticamente garantido na bilheteria. O público é muito previsível e os estúdios sabem disso muito bem. É como tirar pirulito de criança e por isso investem maciçamente em divulgação. Ou seria lavagem cerebral? A estratégia de marketing deste remake foi muito criativa. O estúdio lançou o filme, internacionalmente, no dia 06/06/06, a marca que o filho da besta traz no corpo. Boa sacada!

A Profecia segue a mesma básica trilha batida dos remakes, quase um gênero à parte. Pergunta inocente: por que ver a copia se o original, melhor, está à nossa disposição? A Profecia, o filme original de Richard Donner, de 1976, não envelheceu nada, conseguiu manter o mesmo frescor de quando foi feito e isso não é pouca coisa para um filme de qualquer gênero.

No original havia uma trilha sonora espetacular ganhadora do Oscar. A canção “Ave Satani”, arrepiante, praticamente fica gravado no inconsciente de quem alguma vez viu o filme. No papel do Damien original tínhamos o garotinho Harvey Stephens, assustador e que até recebeu uma indicação ao Globo de Ouro, como Revelação Masculina.

A história é muito boa, um dos melhores filmes de terror já feitos. Um diplomata adota um bebê após a esposa perder o filho no parto, ele esconde o fato dela até que seis anos depois o menino passa a se revelar o Anti-Cristo. Liev Schieber (“Pânico 1, 2 e 3”) e Julia Stiles (“A Supremacia Bourne”) substituem os grandes Gregory Peck e Lee Remick no papel dos pais do diabólico Damien, mas eles não são páreo para os originais. No papel-chave da babá do filho da besta, está a ótima Mia Farrow, que antes já havia estrelado o cult “O Bebê de Rosemary”, onde interpretava, justamente, a mãe do filho do diabo.

O ator mirim Seamus Davey-Fitzpatrick, fica no chulé do pequeno e elogiadíssimo menino do filme de 76. O olhar gélido, misterioso e sombrio do garoto original nem de longe são atingidos por esse segundo Damien que se limita a franzir o cenho e piscar os olhinhos. Isso não assusta nem uma freira.

O elenco de apoio é um luxo, mas, infelizmente, não consegue carregar o peso do filme inteiro. Os três mais importantes são Pete Postlethwhaite (Oscar por “Em Nome do Pai”), no papel do atormentado padre Brennan, David Thewlis (de “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”), como o fotógrafo, e Michael Gambon, o arqueólogo (você o viu como Dumbledore em “Harry Potter e o Cálice de Fogo”).

Os efeitos especiais dessa segunda filmagem se limitam mesmo a dois bons sustos (a plateia grita nos dois), mas que são devidos muito mais ao som altíssimo da sala de cinema nas duas cenas do que propriamente pela criatividade delas. 

Mas uma coisa não se poder negar nesse tipo de filme, o público gosta mesmo de levar uns sustos e está disposto a pagar tem por velhas novidades requentadas. O original, de 30 anos atrás, é 30 vezes melhor, mas quem está interessado nisso?

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