A franquia de filmes do espião 007 é sempre uma garantia de ótimas sequências de ação em países e paisagens exóticas, trilha sonora de primeira e reviravoltas surpreendentes, com o Bem (estropiado, machucado e baleado) vencendo o Mal, ao menos até a próxima missão do eternamente jovem, charmoso e atlético Bond: James Bond!
De poucas coisas se podem ter garantias nessa vida e uma delas é ser eletrizado pelos filmes do agente do serviço secreto de sua majestade. Desta vez, no 23º filme da série, acompanhamos o roubo de um arquivo criptografado com a lista de todos os espiões britânicos infiltrados em organizações terroristas do planeta.
Já na primeira sequência vemos James Bond (o ótimo Daniel Craig) no encalço do ladrão do precioso arquivo pelas ruas de Istambul. A sequência é atordoante, com direito a uma perseguição de motocicleta por dentro de becos e bazares turcos, em cima de telhados e em um trem em movimento. Quase não vemos o rosto do ladrão, tamanho frenesi de imagens, brigas, socos, correria e tiroteios, mas sabemos que é o ator Javier Bardem, ganhador do Oscar, do Globo de Ouro e do Bafta (o Oscar inglês) pelo papel de um psicopata no filme dos irmãos Coen: Onde Os Fracos Não Têm Vez.
Poucas vezes Javier Bardem me decepcionou (exceção feita ao equivocado O Amor Nos Tempos do Cólera). Acompanho sua carreira desde o começo dos anos 90, quando ele protagonizou os desconcertantes filmes do diretor Bigas Luna (Jamon, Jamon, Ovos de Ouro e As Idades de Lulu). Em seguida, Bardem foi visto em frente às câmeras de outros diretores espanhóis como Vicente Aranda (O Amante Bilíngue), Álex de la Iglesia (Perdita Durango), Alejandro Amenábar (Mar Adentro, Oscar de filme estrangeiro) e Pedro Almodóvar com quem realizou os marcantes De Salto Alto e Carne Trêmula. Do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, Bardem protagonizou o dramático e dolorosamente belo filme Biutiful, que lhe rendeu novamente uma indicação ao Oscar, Globo de Ouro e Bafta e pelo qual foi laureado em Cannes com a Palma de melhor ator.
Isto tudo é apenas para registrar que Bardem é um ator com mais experiência, versatilidade e bagagem do que Daniel Craig. Enquanto antagonista, ele tinha tudo para roubar a cena. No entanto, lamentavelmente, a interpretação excessivamente caricatural do personagem arrancou do ator o que ele tem de melhor, as nuances de dor e angústia contida, exibidas exatamente nos dois papéis que mais lhe renderam prêmios: os filmes dos Coen e de Iñárritu.
Sam Mendes, diretor de Operação Skyfall, assumidamente utilizou como referência para seu vilão, Raoul Silva, o trabalho do australiano Heath Ledger como o Coringa no Batman, de Christopher Nolan. Ledger levou o Oscar póstumo pelo seu trabalho mas não creio que Bardem chegue nem perto disso. Discordo dos que dizem que Silva entrará para a história dos vilões icônicos da série 007.
E se Bardem não está tão bem, porque tantas linhas escritas sobre ele e tão poucas sobre Craig? Não tenho a resposta, mas não posso deixar de lembrar um comentário que um amigo postou no Facebook adiantando a cena homoerótica entre Craig e Bardem. Esse amigo afirmou que saiu do cinema com a libido nas alturas. E lá vou eu, curioso pela cena e o que vi me deixou perplexo. O vilão (que meteu uma bala no mocinho após errar centenas delas), afaga com carinho (?!?) as clavículas de Bond, insinuando-se para o inimigo.
A legendária virilidade de James Bond é de conhecimento até das pedras do calçamento de Londres e a química entre os dois antagonistas é a mesma que encontramos entre um leão e uma ameba. Então, o que, afinal de contas, viram de erótico nessa cena? Alguém me explique pois, do contrário, vou achar que não sei mais o que é excitante e o que é o oposto disso.
Chama a atenção que personagens homossexuais são sempre retratados como caricaturais, traiçoeiros ou psicopatas. A cena que dá ao vilão trejeitos afeminados é nada menos do que oportunista e essa opção do roteiro é simplesmente uma velhacaria. Ao contrário das inúmeras possibilidades de leituras psicológicas de conflitos edipianos envolvendo a relação — esta sim, bastante complexa —, entre o vilão e a personagem de Judi Dench, como a antológica M. Uma bela sacada!
Os fanáticos por 007 encontrarão milhares de razões para se deliciar com as inúmeras referências aos detalhes que os fãs adoram prestar atenção. Para as pessoas normais, um ótimo filme de ação como todos os demais do agente mais charmoso do cinema. E olhe que isso não é pouca coisa, quando concorrem no mesmo páreo Ethan Hunt (Tom Cruise) na série Missão Impossível e Jason Bourne (Matt Damon) na série original de Robert Ludlum.
Outro ponto alto inegável é a fantástica sequência de abertura com destaque para a cantora Adele que compôs e interpreta a canção tema Skyfall, juntando seu nome ao de ícones como Shirley Bassey, que interpretou as canções em Goldfinger, Os Diamentes São Eternos e 007 Contra o Foguete da Morte; Carly Simon, com Nobody Does It Better, tema de O Espião que Me Amava; Tina Turner com Goldeneye; Paul McCartney em Viva e Deixe Morrer; Sheena Easton com Somente Para Seus Olhos; Duran Duran com Na Mira dos Assassinos; e A-ha com Marcado para a Morte. E, logicamente, Madonna, que interpretou a canção em Um Novo Dia Para Morrer, além de Alicia Keys em Another Way to Die, canção do filme Quantum of Solace.
1 comment:
Não gosto do personagem James Bond, mas sou capaz de assistir o filme só para conferir o Bardem atuando mal,o que para mim seria inédito. Em "O Amor..." ele fez o que pôde, coitado.
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