20.11.12

CAETANO (E EU TAMBÉM) EM LAS VEGAS






Duas fotos separadas por 12 anos e muitos quilos.
Caetano Veloso foi homenageado em 2012 durante o Grammy Latino na Cidade do Pecado, mais conhecida como Las Vegas. Caê escreveu, então, que estava pela primeira vez em Vegas quando, admirado, a comparou com sua Santo Amaro natal.

Os Velosos adoram essas comparações. Há algum tempo, Maria Bethânia, ao chegar pela primeira vez em Paris, declarou que a achou igualzinha a Santo Amaro da Purificação, onde os Velosos reinam como semideuses ao lado do rio Subaé.

O que será que tinha no leite do peito de dona Canô que fez isso com a mente dos filhos? Bethânia acha Paris igual a Santo Amaro; Caetano acha o mesmo de Las Vegas. 

Em seu artigo escrito assim que retornou da viagem, Caetano compara Vegas a Los Angeles: "Tudo em Los Angeles parece um precário esboço de concentração urbana aberto para o céu, o vazio, a rodovia expressa, o deserto, os olhos do coiote”. A cidade já servira de inspiração para Caetano na bela canção “Minhas Lágrimas”, do disco Cê, que diz: “Desolação de Los Angeles,/ a Baixa Califórnia e uns desertos ilhados por um pacífico turvo/ a asa do avião/ o tapete cor de poeira de dentro do avião/a lembrança do branco de uma página/ nada serve de chão onde caiam minhas lágrimas.” 

Finíssima poesia. Pérola bruta. 

Para Caetano, Los Angeles não se enquadra no critério de cidade. Assim ele define uma cidade: “Lugar onde a gente entra e se vê rodeado de sólidas paredes de alvenaria”. Assim seriam Paris, Las Vegas e Santo Amaro, mas não Los Angeles.

Minha cidade natal tem semelhanças com o berço dos Veloso, cidadezinha cortada por ruas estreitas, casas coloridas ou sem reboco, pracinhas, igrejinha, coreto na praça, um rio...Então assimilo o que Caetano chama de cidade: “território urbano, com calçamento de paralelepípedo e casas coladas umas às outras: o mundo selvagem das matas, dos mangues, dos braços de mar ficando fora dos muros”.

A moça do balcão da Delta no aeroporto de Nova Iorque havia olhado para o meu bilhete e abriu um enorme sorriso: “Vai para Las Vegas? Me leve na mala!” E  continuou: “Vai lá apostar hein?” Meu acompanhante completou: “Não, nós vamos para um show de Madonna”.  Foi a senha para a mulher arregalar os olhos azuis e exclamar: “I Loooo-ve Madonna!!!”. Minha mãe, ao meu lado, não perdeu a deixa e decidiu expor seus vastos conhecimentos da língua de Shakespeare e tascou: "Me too" Ela também ia assistir Madona no imenso cassino MGM. 


Eu não pretendia retornar a Vegas após 12 anos da primeira viagem no ano 2000, quando usei a desculpa de conhecer o Grand Canyon. Desta segunda vez, Madonna serviu de desculpa perfeita, já que nem fui ao Grand Canyon no ano 2000, tampouco fui no show de Madonna.

Poucas vezes vi tanta pulsação de vida num lugar só como Las Vegas. Uma cidade improvável construída no meio do deserto. No meio do nada, surgindo um oásis de vida, calor e seres humanos. Nunca vi tantas fontes jorrando água ao mesmo tempo, incluindo a maior do mundo, com gigantescos jatos d’água que dançam acompanhados de músicas famosas e luzes coloridas.

É quase impossível descrever Las Vegas. Uma vez tentei fazê-lo num texto caretíssimo, chamando-a de cidade de plástico. Como sempre, Oscar Wilde tinha razão quando disse que “Definir é limitar”. 

Não é somente plástico que define Vegas. Vida é mais adequado. Não é por outra razão que, nos prédios gigantescos, restaurantes e cassinos fervilhantes, tantos shows ocorrendo ao mesmo tempo,  a vida pulsa.

Não é senão por conta dos bípedes implumes que tudo aquilo foi construído, pela nossa infinita fome de luxo, sexo e emoções baratas e caras, que inúmeros homens e mulheres se exibem, apostam fortunas, comem demais, bebem tonéis de álcool, exageram nas muitas drogas. Frenesi de luzes e excessos, do mais brega ao mais chique; do mais sofisticado ao mais grotesco lado a lado. Parece que algo vai subitamente fugir do controle...

A sensação é de que absolutamente tudo pode acontecer em Las Vegas. Encontrei um traço comum no meio daquele quase caos: em todos os rostos olhos brilhavam com um tipo urgente de vida, seja pelo reflexo dos milhões de lâmpadas dos painéis luminosos de neon, dos semáforos, dos faróis dos carros e limusines, das placas reluzentes de lojas de grife com roupas que custam fortunas bem na frente a lojinhas que vendem 5 camisetas made in China por U$ 9,99. 

Apesar de a cidade oferecer diversões caríssimas, há muito a se fazer com apenas alguns dólares no bolso, bastando um pouco de criatividade e a companhia certa dos amigos mais divertidos e dispostos a tudo. Mas para onde tanta alegria vai quando o sol nasce mas, sobretudo, onde encontro amigos insanamente divertidos para dividir uma noitada em Las Vegas?

Caetano disse no seu artigo que vai levar os filhos e netos para verem com ele o show “Love” dos Beatles, um dos vários espetáculos do Cirque du Soleil. 

Não vi “Love”. Preferi “Zumanity”, no hotel-cassino New York, show do mesmo grupo, mas impróprio para menores de 18 anos que mostra o lado sexual e sensual do Cirque du Soleil. Uma dica para quem deseja ser eletrificado e vibrar no ritmo alucinado de Las Vegas.

Enquanto isso, minha mãe assistia Madonna no MGM, hotel-cassino em frente.

1 comment:

Unknown said...

Dida Santiago precisa continuar te provocando. Adorei seu texto.