Duas fotos separadas por 12 anos e muitos quilos
Pauta é aquele termo usado em imprensa significando a orientação dada a jornalistas pelos editores para que escrevam sobre determinado assunto. Assim, aqui estou eu, como bom jornalista, sem diploma, obedecendo ao meu editor ad hoc Dida Santiago.
Pauta é aquele termo usado em imprensa significando a orientação dada a jornalistas pelos editores para que escrevam sobre determinado assunto. Assim, aqui estou eu, como bom jornalista, sem diploma, obedecendo ao meu editor ad hoc Dida Santiago.
Dida sacou a última coluna cifrada de
Caetano Veloso para me perguntar: “Você não acabou de chegar de Las Vegas? Não
escreveu nada a respeito! Veja só: Caetano escreveu!”
Dida sabe que Caetano é uma das minhas
pautas preferidas (E a favorita do próprio Dida). Sinto-me desafiado. Se Caetano
falou de Las Vegas eu preciso também falar sobre Las Vegas e sobre o que
Caetano falou de Las Vegas mesmo que as frases randômicas de Caê, atiradas a
esmo sobre o jornal, necessitem de algum tipo de decodificação do caetanês para
o português.
Caetano foi homenageado no último Grammy
Latino (com direito a um beijo caliente de Sonia Braga). O evento ocorreu justamente na Cidade do Pecado, mais conhecida como Las
Vegas. E lá foi Caê pela primeira vez para Vegas e retornou tecendo comparações
entre ela e Santo Amaro.
Os Velosos adoram essas comparações extremas.
Outro dia, Maria Bethânia, dizia que a primeira vez que conheceu Paris achou
igualzinha a Santo Amaro. O que será que tinha no leite do peito de Canô que
fez isso com a cabeça dos filhos? Bethânia acha Paris igual a Santo Amaro;
Caetano acha a mesma coisa de Las Vegas....o que será que Mabel ou Rodrigo Veloso
pensam de Viena? Não soltem Mabel ou Rodrigo nas ruas de Viena ou Budapeste que
eles vão achar iguaizinhas a Santo Amaro e o Danúbio, o Subaé dedivivo.
Mas já estou divagando. Basta falar de
Caetano para eu entrar também no modo randômico.
Caetano
conhece Los Angeles e eu não. Em seu artigo ele compara Vegas a Los Angeles e diz: “Tudo em Los Angeles parece um precário esboço de
concentração urbana aberto para o céu, o vazio, a rodovia expressa, o deserto,
os olhos do coiote”. L.A. já servira de inspiração para Caetano na bela canção “Minhas
Lágrimas”, do disco Cê, que diz: “Desolação de Los Angeles,/ a Baixa
Califórnia e uns desertos ilhados por um pacífico turvo/ a asa do
avião/ o tapete cor de poeira de dentro do avião/a lembrança do
branco de uma página/ nada serve de chão onde caiam minhas
lágrimas.”
Finíssima poesia. Pérola bruta.
Caetano sabe o que é uma cidade e Los Angeles não se enquadraria nesses critérios. Assim define uma cidade: “o lugar onde a gente entra e se
vê rodeado de sólidas paredes de alvenaria”. Assim seriam Paris, Las Vegas e
Santo Amaro.
Minha cidade natal tem semelhanças com
o berço dos Veloso, uma cidadezinha cortada por ruas estreitas, casas coloridas
ou sem reboco, pracinhas, igrejinha, coreto na praça, um rio...Então assimilo o
que Caetano chama de cidade: “território urbano, com calçamento de
paralelepípedo e casas coladas umas às outras: o mundo selvagem das matas, dos
mangues, dos braços de mar ficando fora dos muros”.
A moça do
balcão da Delta no aeroporto de Nova Iorque olhou para o meu bilhete e abriu um
enorme sorriso. Lá estava escrito: Las Vegas. Ela me perguntou com um simpático
inglês novaiorquino, quase uma contradição entre termos: “Vai para Las Vegas?
Me leve junto na mala!” E continuou em
tom amistoso: “Vai lá apostar hein?” Meu acompanhante completou: “Não, vamos
ver um show de Madonna”. Foi a senha para que a mulher arregalasse os olhos: “Uau!
Madonna! Dê a ela um beijo por mim. Eu A-do-ro Madonna!!!”.
Não pretendia retornar a Vegas depois
de 12 anos. Lá estive no ano 2000 com a desculpa esfarrapada de conhecer o
Grand Canyon. Madonna novamente serviu de desculpa perfeita, já que nem fui ao
Grand Canyon no ano 2000 tampouco no show de Madonna no mês passado.
Procurava algum sinal de vida e poucas
vezes vi tanta pulsação de vida num lugar só como Las Vegas, uma cidade
improvável construída no meio do deserto. No meio do nada surgindo um oásis de
vida, calor e seres humanos. Nunca vi tantas fontes jorrando água, incluindo a
maior e mais famosa fonte do mundo, com incríveis e gigantescos jatos d’água que
dançam acompanhados de músicas famosas e luzes coloridas.
Difícil, quase impossível descrever o
que é Las Vegas. Uma vez tentei fazê-lo num texto caretéssimo que publiquei quando
de lá retornei chamando-a de cidade de plástico. Como sempre, Oscar Wilde tinha
razão quando disse que “Definir é limitar”. Uma página não dá conta de definir
Las Vegas como Caetano não conseguiu nas poucas palavras que usou.
Também não conseguirei, mas não é
somente plástico que define Vegas. Vida é mais adequado. Não é por outra razão
que existem inúmeros prédios gigantescos, restaurantes deslumbrantes, cassinos
fervilhantes, shows diversos acontecendo todos ao mesmo tempo, não é senão por
conta da presença das pessoas, de nós, animais humanos, bípedes implumes que
tudo aquilo foi construído. Não é por conta de outra coisa que não a imensa
fome e sede de luxo, de sexo, de emoções que tantas mulheres e homens se exibem,
que se apostam fortunas, que se come demais e se bebe tonéis de álcool, que se
fuma e se droga. Frenesi feérico de luzes e excessos de tudo, do mais brega ao
mais chique, do mais sofisticado ao mais grotesco convivendo lado a lado.
Fiquei tentando apreender nos olhos
tantos signos e sinais, observei o vai e vem interminável de pessoas pela sua avenida
principal, a larguíssima Las Vegas Strip que tem cerca de 8 km ladeada por
gigantescos hotéis-casino, alguns moderníssimos, de um luxo atordoante: Ária, Bellagio,
Mandarin, Encore, Wynn, Trump, Hilton, Venetian, Monte Carlo, Ceasar, Paris,
MGM, Escalibur, Vdara, Luxor, Mirage...cada um com uma decoração mais
exuberante e um show diferente (pelo menos 5 grupos do Cirque Du Soleil se
apresentam diariamente com espetáculos variados). Outros hotéis mais antigos
convivendo harmonicamente, mas com evidente inclinação para certa baixaria e um
tanto de exagero, exibindo mulheres seminuas: o Flamingo, o Harra’s, O Ilha do
Tesouro e outros que assustam um pouco. Parece que algo vai subitamente fugir
do controle...
Ou o brilho nos olhos vinha de alguma chama interna, um desejo vívido de estar bebendo a vida, de estar saboreando todas as possibilidades, de saber que apesar de a cidade oferecer diversões caríssimas, há muito para fazer com alguns dólares no bolso, um pouco de criatividade, a companhia certa dos amigos mais divertidos e dispostos a tudo.
A cidade é inexplicável. Onde tanta
alegria vai parar quando o sol nasce? Onde eu encontro amigos suficientemente
loucos, insanos, queridos e divertidos para dividir comigo o prazer de uma
noitada em Las Vegas?
Caetano disse no seu artigo que vai levar os filhos
e netos para verem com ele o show “Love” dos Beatles, um dos vários espetáculos
do Cirque du Soleil.
Eu não vi “Love”, preferi o “Zumanity”, num hotel-cassino diferente, show do mesmo grupo, mas impróprio para menores de 18 anos que mostra o lado sexual e sensual do Cirque du Soleil. Uma dica para quem deseja ser eletrificado e vibrar no ritmo alucinado de Las Vegas.
Eu não vi “Love”, preferi o “Zumanity”, num hotel-cassino diferente, show do mesmo grupo, mas impróprio para menores de 18 anos que mostra o lado sexual e sensual do Cirque du Soleil. Uma dica para quem deseja ser eletrificado e vibrar no ritmo alucinado de Las Vegas.
Enquanto isso, minha mãe assistia a Madonna
no hotel-cassino em frente.
1 comment:
Dida Santiago precisa continuar te provocando. Adorei seu texto.
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