Dos 34 livros que li do mestre do terror Stephen King, este foi o mais fraco. E digo isso com alguma tristeza, pois um fã sempre espera o melhor de um escritor querido quando lê o seu livro mais novo.
São vários os problemas do livro e a premissa não é um deles,
pelo contrário, a história de Billy Summers, um matador de aluguel com passagem
pela guerra do Afeganistão e prestes a realizar o seu último trabalho antes de
se aposentar, aparenta render um bom enredo, principalmente quando se sabe que
tudo pode dar errado.
Billy Summers tem uma regra: só mata quem merece. Daí que o mestre Stephen King viajou numa caracterização do personagem como alguém de quem vamos ter que gostar de qualquer modo. Toda a construção parece forçada para impor códigos morais e altruísmo ao protagonista.
O fato de ele já ser um matador e só matar pedófilos
e outros assassinos em si já impõe uma camada dupla à sua persona, mas King exagerou
ao ponto de, em certas passagens, a gente se perguntar como alguém com tantas regras
morais e que sobreviveu ao Afeganistão consegue deixar alguns bandidos perigosos
vivos, mesmo intuindo que isso poderia cobrar-lhe um preço. Ah,
sem esquecer que Billy teve uma infância barra pesadíssima e que levaria qualquer moleque nas mesmíssimas circunstâncias a uma juventude desajustada e
traumas. Mas não o perfeito Billy Summers.
Vamos falar com todas as letras: o livro se arrasta com tantos
detalhes desnecessários que isso tem um nome, um nome feio em literatura:
reiteração. Qual a necessidade, por exemplo, de a gente ler várias e várias
vezes o que foi que fulano ou beltrana comeram no café da manhã?
O livro tem um rumo e um ritmo razoáveis até a metade, quando a história de Billy se mistura com outra história (não vou dar spoiler) ficando ainda mais arrastado. E tem o final mais previsível de todos os livros de King.
Um comentário sobre a tradução de Regiane Winarski,
responsável por ao menos 14 livros do mestre King no Brasil. Irritou-me a repetição
do adjetivo “arrombado”, um termo da gíria carioca (terra da
tradutora) e não frequente em outras regiões. O termo aparece ao menos seis vezes
no livro como tradução para palavras como “fuckwith” ou para frases como “worthless
piece os shit” e “fucking fuck”. No original, as palavras têm conotações sexuais ou escatológicas, assim como em “arrombado”, mas para ser inclusiva
ao leitor de outras partes do Brasil, em vez da regional “arrombado”, poderiam ser usados termos amplamente conhecidos como “seu escroto do caralho” ou “seu pedaço de merda”
ou “vacilão fudido”, até porque ela usou o mesmo termo para expressões diferentes.
No baianês (linguagem da minha terra), há a expressão “sua disgraça” corruptela de “sua desgraça”, frequentemente usada com as mesmas conotações
de "seu arrombado" (inclusive, pasmem, com uma acepção carinhosa). Mas um bom tradutor jamais optaria por tal terminologia fora da Bahia.
1 comment:
Obrigada pelas suas dicas.
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