11.10.21

O CULPADO X CULPA

          

   O Culpado, da Netflix, é um remake do filme dinamarquês Culpa, disponível na Amazon Prime. Assisti ao filme original em 2018 na 42ª Mostra Internacional de São Paulo (algo que não perco há 18 anos) e das 38 películas que vi naquele ano, foi a melhor, como escrevi no meu blog.

     A versão de Hollywood tem direção de Antoine Fuquae e Jake Gyllenhaal como protagonista, um policial obrigado a atender ligações de emergência enquanto aguarda o julgamento por uma grave falta. Na véspera da sessão que irá julgá-lo, ele atende a ligação de uma mulher que pede socorro. Todo o filme decorre durante esta chamada, interrompida e retomada, num crescendo gigantesco de tensão.

        Antoine Fuqua é um diretor irregular amante do clichê e conhecido pela falta de sutileza e de refinamento narrativo, vide o seu fraquíssimo Rei Arthur e o previsível Nocaute, este último com o mesmo Gyllenhaal, aqui ligado no modo turbo de atuação, fazendo o oposto do que aconselhava um dos maiores atores de todos os tempos: Marlon Brando, para quem um ator deveria sempre dar 50% da sua atuação máxima. Gyllenhaal não seguiu esses conselhos e tem uma interpretação de exagero constrangedor.    

      O filme original, com ator e diretor praticamente desconhecidos, tem toda a carga dramática no potente roteiro e prende o expectador à cadeira numa ansiedade lancinante com pouco mais do que um cenário, direção de arte minimalista e interpretação contida. O remake dá pouquíssimo espaço para que o expectador tire suas conclusões, referendando a máxima de que ninguém jamais perdeu dinheiro em Hollywood por subestimar a inteligência da plateia.

       O Culpado põe o ator em conflitos adicionais e dá-lhe uma muleta na forma de uma bombinha para asma que não estão no original simplesmente porque desnecessários. A inserção no ramake das cenas de incêndio nas florestas da Califórnia são mais um recurso dramático que foge do original. São inserções legítimas mas também são dispensáveis e só estão ali para distrair. As cenas em que Gyllenhaal exerce seu histrionismo no banheiro, com direito até a vômito, deveriam estar num eventual “Manual de Canastrice”.

     A frase da supervisora do protagonista quase no fim do remake acrescentou uma ruindade que extrapolou meu nível de cortisol: “Broken people save broken people”. O sentimento é que alguém me serviu um prato não apenas requentado e já mastigado mas, não confiando na minha capacidade, aproveitou para digeri-lo para mim.

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