Há alguns dias, escrevi sobre minha enorme surpresa ao ler o Guia
Politicamente Incorreto da História do Brasil, impressionadíssimo pela
constatação de que sempre fui um perfeito imbecil por acreditar em tantas
lorotas construídas ideologicamente ao longo dos anos pelas aulas de História.
Mas qual a minha
surpresa, lendo o volume seguinte da série, ao perceber que a matriz ideológica
que servia para nos venderem um peixe estragado sobre nossa história não é
exclusividade da narrativa brasileira, mas se dissemina pelas veias abertas da
nossa América Latina, irresistível alusão a um livro muito apreciado por onze
em cada dez militantes de esquerda.
Esqueça tudo
aquilo que você aprendeu (e eu também) sobre como os malvados espanhóis
chegaram à America Latina tocando o terror. A coisa foi feia, mas se foi feia
por parte dos europeus que aqui chegaram, o horror aqui encontrado não foi
menos horrendo.
Entre os
políticos populistas que chegam ao poder no nosso continente como os
bolivarianos Morales, Chaves e Maduro...os peronistas argentinos e os filhos de
la revolunción cubana, tornou-se comum exaltar o caráter de explorado dos
nossos antepassados: espoliados, humilhados, massacrados, roubados...
Novamente, é a ideologia contaminando a narrativa histórica.
Um século antes
de os espanhóis chegarem aqui, incas, maias, astecas e outros povos locais
praticavam alegremente a arte do extermínio mútuo. As cidades-estados lutavam
umas contra as outras ou faziam alianças para derrotar a mais forte. Os
vencidos pagavam altos tributos, eram obrigados a migrar para regiões inóspitas
ou eram usados em sangrentos rituais de sacrifício.
Há inúmeras
fontes bibliográficas no Guia para que não pensem que se trata de uma obra de
viés revisionista e aventureira. O livro, assim como o anterior, ficou muito
tempo na lista dos mais vendidos e é uma obra de grande credibilidade.
Claro que os
espanhóis não são santos e muito mal fizeram quando aqui chegaram, mas sob uma
perspectiva com menos contaminação ideológica, os europeus, a princípio, eram
apenas um novo povo que chegava e com quem algumas tribos locais faziam acordos
para derrotar os adversários do império vizinho. Mesmo sem conhecerem a
escrita, foram deixados inúmeros registros de pactos entre os europeus e os
índios, como grandes tapeçarias e pinturas mostrando a união em prol de
conquistas comuns.
Claro que os
primeiros relatos da conquista eram assustadores e muito disso se atribui ao
interesse dos colonizadores de aumentar o grau das suas façanhas em cartas ao
rei repletas de detalhes sangrentos de batalhas épicas e descobertas
surpreendentes com o objetivo de receber pensões, cargos, títulos de nobreza e
de propriedade dos soberanos.
Muitas dessas
cartas acabaram por ser publicadas por editoras europeias e, sabendo desse
interesse extra, os conquistadores exageravam nas façanhas para atender a um
público leitor ávido de aventuras. Eu mesmo, na adolescência, li, cheio de
profunda revolta, o livro “A Conquista do México”, de autoria do próprio Hernán
Córtez, que passou para a história como um dos maiores sanguinários de todos os
tempos, o mais brutal conquistador espanhol na América, um grandessíssimo fdp
responsável pela morte de Montezuma...Lembro-me de ler esse relato e como tomei
profundo nojo dos colonizadores....qualquer colonizador... Ninguém me disse o
que vem à frente.
A prisão e
execução de índios inimigos era fato corriqueiro. Inúmeros líderes mandavam
matar os irmãos, sobrinhos e cunhadas para não serem destronados por estes.
Quando os europeus por aqui aportaram os incas haviam dominado dezenas de povos
vizinhos, escravizando os derrotados e enforcando os chefes em praças públicas.
Muito se acusa os espanhóis de impor sua religião aos dominados, mas ninguém
lembra que os incas fizeram o mesmo. Houve uma imposição cultural violenta e os
derrotados eram obrigados a abandonar sua cultura, falar a língua quéchua e
adotar a religião inca que adorava o sol e a lua e a figura do próprio
imperador inca como um semideus.
Mas o mais
grotesco eram os rituais sagrados de sacrifício de incas, astecas e maias. Você
sabe aquelas belas pirâmides que vemos nos programas do National Geografic?
Nelas, eram realizadas cerimônias diárias de matança de jovens e crianças. Sacerdotes
usavam afiadas facas de sílex e, com a vítima ainda viva, imobilizada e de
barriga para cima, faziam um corte profundo no osso externo, nas costelas ou
abaixo do diafragma. Enfiavam a mão no espaço aberto e arrancavam o coração
ainda pulsante. Aparentemente, havia uma regra de que a coisa tinha que seguir
esse rito macabro.
A plateia desses
sacrifícios não faltava ao holocausto que, como se tornava comum, perdia a
graça. Então, para incrementar a coisa, os sacerdotes aumentavam cada vez mais
o número de vítimas, reduziam as idades dos escolhidos, ofereciam belas virgens
à matança ou arrancavam os corações de inimigos poderosos.
Tudo era motivo
para a carnificina. Para o sol nascer todo dia, matavam crianças. Para o sol se
pôr, idem. Matavam se havia chuva demais ou se chovera de menos, extraiam
corações aos montes se tinha terremoto ou furacão. Arqueólogos encontraram em
escavações inúmeras valas com esqueletos de crianças incas com as costelas
arrebentadas. As pirâmides tinham uma constante mancha marrom escura pela
quantidade de sangue que manchava os seus degraus.
O Códice
Telleriano-Remensis, uma reunião de pinturas narrativas dos astecas criada no
século XVI fala da matança de 4 mil pessoas sacrificadas em honra dos deuses
para a inauguração do Templo Maior de Tenochitilán. A arma usada pelos astecas
era o macauitl, um tacape com cacos de vidro vulcânico incrustados. Era usado
para matar ou ferir os inimigos usados nos sacrifícios.
A antropóloga
austríaca Estela Weiss-Krejci resume: “Cenas de decaptação e desentranhamento,
a retirada das vísceras das vítimas ainda vivas, em cerâmicas funerárias,
totens, altares e murais parecem complementar alguns corpos encontrados sem
cabeça e membros em tumbas individuais e coletivas”.
Este é apenas um
dos capítulos do livro. Encerro essa “linda e edificante” história da América
Pré-Colombiana para, no próximo relato, falar da também horrorosa e real
história politicamente incorreta de Cuba, Fidel e Che Guevara.
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