13.5.14

Guia Politicamente Incorreto da América Latina

Há alguns dias, escrevi sobre minha enorme surpresa ao ler o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, impressionadíssimo pela constatação de que sempre fui um perfeito imbecil por acreditar em tantas lorotas construídas ideologicamente ao longo dos anos pelas aulas de História.

Mas qual a minha surpresa, lendo o volume seguinte da série, ao perceber que a matriz ideológica que servia para nos venderem um peixe estragado sobre nossa história não é exclusividade da narrativa brasileira, mas se dissemina pelas veias abertas da nossa América Latina, irresistível alusão a um livro muito apreciado por onze em cada dez militantes de esquerda.

Esqueça tudo aquilo que você aprendeu (e eu também) sobre como os malvados espanhóis chegaram à America Latina tocando o terror. A coisa foi feia, mas se foi feia por parte dos europeus que aqui chegaram, o horror aqui encontrado não foi menos horrendo.

Entre os políticos populistas que chegam ao poder no nosso continente como os bolivarianos Morales, Chaves e Maduro...os peronistas argentinos e os filhos de la revolunción cubana, tornou-se comum exaltar o caráter de explorado dos nossos antepassados: espoliados, humilhados, massacrados, roubados... Novamente, é a ideologia contaminando a narrativa histórica.

Um século antes de os espanhóis chegarem aqui, incas, maias, astecas e outros povos locais praticavam alegremente a arte do extermínio mútuo. As cidades-estados lutavam umas contra as outras ou faziam alianças para derrotar a mais forte. Os vencidos pagavam altos tributos, eram obrigados a migrar para regiões inóspitas ou eram usados em sangrentos rituais de sacrifício.

Há inúmeras fontes bibliográficas no Guia para que não pensem que se trata de uma obra de viés revisionista e aventureira. O livro, assim como o anterior, ficou muito tempo na lista dos mais vendidos e é uma obra de grande credibilidade.

Claro que os espanhóis não são santos e muito mal fizeram quando aqui chegaram, mas sob uma perspectiva com menos contaminação ideológica, os europeus, a princípio, eram apenas um novo povo que chegava e com quem algumas tribos locais faziam acordos para derrotar os adversários do império vizinho. Mesmo sem conhecerem a escrita, foram deixados inúmeros registros de pactos entre os europeus e os índios, como grandes tapeçarias e pinturas mostrando a união em prol de conquistas comuns.

Claro que os primeiros relatos da conquista eram assustadores e muito disso se atribui ao interesse dos colonizadores de aumentar o grau das suas façanhas em cartas ao rei repletas de detalhes sangrentos de batalhas épicas e descobertas surpreendentes com o objetivo de receber pensões, cargos, títulos de nobreza e de propriedade dos soberanos.

Muitas dessas cartas acabaram por ser publicadas por editoras europeias e, sabendo desse interesse extra, os conquistadores exageravam nas façanhas para atender a um público leitor ávido de aventuras. Eu mesmo, na adolescência, li, cheio de profunda revolta, o livro “A Conquista do México”, de autoria do próprio Hernán Córtez, que passou para a história como um dos maiores sanguinários de todos os tempos, o mais brutal conquistador espanhol na América, um grandessíssimo fdp responsável pela morte de Montezuma...Lembro-me de ler esse relato e como tomei profundo nojo dos colonizadores....qualquer colonizador... Ninguém me disse o que vem à frente.

A prisão e execução de índios inimigos era fato corriqueiro. Inúmeros líderes mandavam matar os irmãos, sobrinhos e cunhadas para não serem destronados por estes. Quando os europeus por aqui aportaram os incas haviam dominado dezenas de povos vizinhos, escravizando os derrotados e enforcando os chefes em praças públicas. Muito se acusa os espanhóis de impor sua religião aos dominados, mas ninguém lembra que os incas fizeram o mesmo. Houve uma imposição cultural violenta e os derrotados eram obrigados a abandonar sua cultura, falar a língua quéchua e adotar a religião inca que adorava o sol e a lua e a figura do próprio imperador inca como um semideus.

Mas o mais grotesco eram os rituais sagrados de sacrifício de incas, astecas e maias. Você sabe aquelas belas pirâmides que vemos nos programas do National Geografic? Nelas, eram realizadas cerimônias diárias de matança de jovens e crianças. Sacerdotes usavam afiadas facas de sílex e, com a vítima ainda viva, imobilizada e de barriga para cima, faziam um corte profundo no osso externo, nas costelas ou abaixo do diafragma. Enfiavam a mão no espaço aberto e arrancavam o coração ainda pulsante. Aparentemente, havia uma regra de que a coisa tinha que seguir esse rito macabro.

A plateia desses sacrifícios não faltava ao holocausto que, como se tornava comum, perdia a graça. Então, para incrementar a coisa, os sacerdotes aumentavam cada vez mais o número de vítimas, reduziam as idades dos escolhidos, ofereciam belas virgens à matança ou arrancavam os corações de inimigos poderosos.

Tudo era motivo para a carnificina. Para o sol nascer todo dia, matavam crianças. Para o sol se pôr, idem. Matavam se havia chuva demais ou se chovera de menos, extraiam corações aos montes se tinha terremoto ou furacão. Arqueólogos encontraram em escavações inúmeras valas com esqueletos de crianças incas com as costelas arrebentadas. As pirâmides tinham uma constante mancha marrom escura pela quantidade de sangue que manchava os seus degraus.

O Códice Telleriano-Remensis, uma reunião de pinturas narrativas dos astecas criada no século XVI fala da matança de 4 mil pessoas sacrificadas em honra dos deuses para a inauguração do Templo Maior de Tenochitilán. A arma usada pelos astecas era o macauitl, um tacape com cacos de vidro vulcânico incrustados. Era usado para matar ou ferir os inimigos usados nos sacrifícios.

A antropóloga austríaca Estela Weiss-Krejci resume: “Cenas de decaptação e desentranhamento, a retirada das vísceras das vítimas ainda vivas, em cerâmicas funerárias, totens, altares e murais parecem complementar alguns corpos encontrados sem cabeça e membros em tumbas individuais e coletivas”.

Este é apenas um dos capítulos do livro. Encerro essa “linda e edificante” história da América Pré-Colombiana para, no próximo relato, falar da também horrorosa e real história politicamente incorreta de Cuba, Fidel e Che Guevara.

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