O que você pensaria se
daqui a 60 anos, as pessoas estampassem camisetas com a foto de Suzane Von
Richthofen, lembra-se dela, aquela moça que matou os pais? Imagine que ela se
tornasse um exemplo de virtude e amor filial? Ou então imagine as madrastas da
menina Izabella Nardone ou do menino Bernardo Boldrini, daqui a meio século,
estampando pôsteres como exemplos de amor maternal.
Então você sabe o que
aconteceu com Che Guevara. Você que, como eu, vestiu camisetas ou decorou as
paredes do quarto com a efígie do guerrilheiro argentino que sacrificara sua
vida pela luta pelos oprimidos, que combateu os poderosos em Cuba, na África e
nas selvas da Bolívia. Pois saiba que o mito heróico do Che equivale exatamente
ao de uma maternal madrasta da menina Nardone ou uma Richthofen vendida como
filha modelo. Exatamente isso!
Novamente estou no Guia
Politicamente Incorreto da America Latina. No capítulo inicial do livro,
descobri estarrecido, que a imagem de Ernesto Che Guevara pilotando sua moto
pela América Latina, sua experiência com a revolução cubana e sua vida como um
todo foi uma construção ideológica.
O livro mostra, com
inúmeras fontes bibliográficas, que a Cuba pré-revolução, sempre apresentada
como o bordel dos americanos repleto de miseráveis e prostitutas, na verdade
tinha qualidade de vida muito superior à média latino-americana.
Nos anos 50, após a 2ª
Guerra Mundial os EUA viviam um surto de crescimento e otimismo e a economia se
recuperava. O turismo em Cuba viveu um apogeu pela posição estratégica da ilha
há 150 quilômetros
de Miami. Havia 28 voos diários entre Havana e cidades norte-americanas e até
ferryboats levavam americanos de carro da Flórida até Cuba. Isso garantia
emprego para garçons, guias de turismo, cozinheiros, motoristas, camareiras,
donos de restaurantes e inúmeros trabalhadores ligados ao turismo. E também às
prostitutas, é claro. O crescimento impulsionava a classe média e a construção
civil. O alto preço internacional da cana de açúcar atraía muito dinheiro para
o país.
Ocorre que no seu
segundo mandato, o presidente Fulgêncio Batista impôs uma ditadura e tornou-se
comum a tortura e o desaparecimento de opositores. Nessa cena de protestos e
greves, Fidel teve apoio de todas as classes e chegou a receber entre inúmeras
doações, 50 mil dólares do maior barão do açúcar cubano e 38 mil dólares da destilaria
Bacardi. Quando Fidel tomou o poder, tanto empresários quanto trabalhadores
comemoraram por vislumbrar a democracia no horizonte, mas logo a verdadeira
face da revolução mostrou-se. Os aliados mais moderados e democráticos foram
presos ou expulsos de Cuba.
Uma grande ironia é que
Batista, antes de se tornar ditador, era simpatizante do comunismo e Fidel,
antes de também se tornar ditador, era anti-comunista. Batista, ao derrubar o
governo anterior, realizou muitas reformas trabalhistas como férias, seguro e
outras vantagens além de legalizar o Partido Comunista em Cuba. O principal
jornal comunista no país defendia o governo de Batista.
Já Fidel fizera o
caminho oposto e acusava Batista justamente de ser comunista. Escreveu Fidel em
1956: “Qual é o direito moral que o
senhor Batista tem de falar em comunismo, quando ele era o candidato
presidencial do Partido Comunista e seus
ministros e colaboradores são importantes membros do Partido Comunista?” E
numa entrevista ao New York Times o hoje Fidel vermelho dizia: “Não concordo com o comunismo. Nós somos
democráticos e contra todo tipo de ditadores e por isso somos contra o
comunismo”. Após se aliar a Che Guevara é que Fidel percebeu que se
travestir do vermelho comunista era uma boa maneira de controlar o poder em
Cuba e eliminar os adversários.
Logo, o regime
castrista começou a banir roqueiros e hippies como ameaças do imperialismo.
Bandas não podiam comprar instrumentos, artistas eram perseguidos, campos de
trabalhos forçados eram criados para gays, católicos, testemunhas de Jeová,
alcoólatras, portadores de HIV e sacerdotes do candomblé para libertar o país
da influência do capitalismo. Homofóbicos, os castristas pregavam em jornais
que o homossexualismo logo terminaria em Cuba como uma das vantagens do
socialismo: “curar comportamentos e
doenças sociais”. Uma lei proibia qualquer homossexual de ocupar cargos
públicos pelo risco de converter a juventude.
Tornou-se comum ler
sobre Che Guevara palavras de ternura. Leia as palavras seguintes, do mesmo homem:
“O ódio como fator de luta, o ódio
intransigente ao inimigo, que converte o ser humano em uma violenta, seletiva e
fria máquina de matar. Nossos soldados têm de ser assim; um povo sem ódio não
pode triunfar sobre um inimigo brutal. Há que se levar a guerra até onde o
inimigo a leve: à sua casa, a seus lugares de diversão, torná-la total. Há que
impedi-lo de ter um minuto de tranquilidade, fazê-lo sentir-se uma fera
acossada onde quer que esteja”. Terno, não?
O meiguíssimo Che
Guevara foi responsável direto pela morte de 144 cubanos entre colegas
guerrilheiros, menores de idade, policiais executados na frente dos filhos e
opositores políticos. Che escreve em seus diários detalhes das execuções
perpetradas por ele próprio com tiros nas têmporas das vítimas e como roubou o
relógio de um dos homens que ele mesmo matou. Relatório da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos mostra que de cada preso a ser executado
eram extraídos três litros de sangue vendidos por cerca de 300 dólares. Os
condenados eram fuzilados desmaiados e inconscientes.
Em um discurso em 1964,
nas Nações Unidas, Che declarou: “Fuzilamentos?
Sim, temos fuzilado. Fuzilamos e seguiremos fazendo isso enquanto for
necessário. Nossa luta é uma luta de morte”
O Guia Politicamente
Correto da América Latina está repleto de relatos dos horrores perpetrados
pelos revolucionários cubanos. Che Guevara tem um capítulo dedicado somente a
ele. Aqui está apenas 1% do que o livro relata. Convido você a se enojar um
pouco. Você vai sair daquelas páginas com outra visão do mito Che Guevara.
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