17.5.14

Cuba e Che Guevara: uma história de revirar o estômago

O que você pensaria se daqui a 60 anos, as pessoas estampassem camisetas com a foto de Suzane Von Richthofen, lembra-se dela, aquela moça que matou os pais? Imagine que ela se tornasse um exemplo de virtude e amor filial? Ou então imagine as madrastas da menina Izabella Nardone ou do menino Bernardo Boldrini, daqui a meio século, estampando pôsteres como exemplos de amor maternal.

Então você sabe o que aconteceu com Che Guevara. Você que, como eu, vestiu camisetas ou decorou as paredes do quarto com a efígie do guerrilheiro argentino que sacrificara sua vida pela luta pelos oprimidos, que combateu os poderosos em Cuba, na África e nas selvas da Bolívia. Pois saiba que o mito heróico do Che equivale exatamente ao de uma maternal madrasta da menina Nardone ou uma Richthofen vendida como filha modelo. Exatamente isso!

Novamente estou no Guia Politicamente Incorreto da America Latina. No capítulo inicial do livro, descobri estarrecido, que a imagem de Ernesto Che Guevara pilotando sua moto pela América Latina, sua experiência com a revolução cubana e sua vida como um todo foi uma construção ideológica.

O livro mostra, com inúmeras fontes bibliográficas, que a Cuba pré-revolução, sempre apresentada como o bordel dos americanos repleto de miseráveis e prostitutas, na verdade tinha qualidade de vida muito superior à média latino-americana.

Nos anos 50, após a 2ª Guerra Mundial os EUA viviam um surto de crescimento e otimismo e a economia se recuperava. O turismo em Cuba viveu um apogeu pela posição estratégica da ilha há 150 quilômetros de Miami. Havia 28 voos diários entre Havana e cidades norte-americanas e até ferryboats levavam americanos de carro da Flórida até Cuba. Isso garantia emprego para garçons, guias de turismo, cozinheiros, motoristas, camareiras, donos de restaurantes e inúmeros trabalhadores ligados ao turismo. E também às prostitutas, é claro. O crescimento impulsionava a classe média e a construção civil. O alto preço internacional da cana de açúcar atraía muito dinheiro para o país.

Ocorre que no seu segundo mandato, o presidente Fulgêncio Batista impôs uma ditadura e tornou-se comum a tortura e o desaparecimento de opositores. Nessa cena de protestos e greves, Fidel teve apoio de todas as classes e chegou a receber entre inúmeras doações, 50 mil dólares do maior barão do açúcar cubano e 38 mil dólares da destilaria Bacardi. Quando Fidel tomou o poder, tanto empresários quanto trabalhadores comemoraram por vislumbrar a democracia no horizonte, mas logo a verdadeira face da revolução mostrou-se. Os aliados mais moderados e democráticos foram presos ou expulsos de Cuba.

Uma grande ironia é que Batista, antes de se tornar ditador, era simpatizante do comunismo e Fidel, antes de também se tornar ditador, era anti-comunista. Batista, ao derrubar o governo anterior, realizou muitas reformas trabalhistas como férias, seguro e outras vantagens além de legalizar o Partido Comunista em Cuba. O principal jornal comunista no país defendia o governo de Batista.

Já Fidel fizera o caminho oposto e acusava Batista justamente de ser comunista. Escreveu Fidel em 1956: “Qual é o direito moral que o senhor Batista tem de falar em comunismo, quando ele era o candidato presidencial do Partido Comunista  e seus ministros e colaboradores são importantes membros do Partido Comunista?” E numa entrevista ao New York Times o hoje Fidel vermelho dizia: “Não concordo com o comunismo. Nós somos democráticos e contra todo tipo de ditadores e por isso somos contra o comunismo”. Após se aliar a Che Guevara é que Fidel percebeu que se travestir do vermelho comunista era uma boa maneira de controlar o poder em Cuba e eliminar os adversários.

Logo, o regime castrista começou a banir roqueiros e hippies como ameaças do imperialismo. Bandas não podiam comprar instrumentos, artistas eram perseguidos, campos de trabalhos forçados eram criados para gays, católicos, testemunhas de Jeová, alcoólatras, portadores de HIV e sacerdotes do candomblé para libertar o país da influência do capitalismo. Homofóbicos, os castristas pregavam em jornais que o homossexualismo logo terminaria em Cuba como uma das vantagens do socialismo: “curar comportamentos e doenças sociais”. Uma lei proibia qualquer homossexual de ocupar cargos públicos pelo risco de converter a juventude.

Tornou-se comum ler sobre Che Guevara palavras de ternura. Leia as palavras seguintes, do mesmo homem: “O ódio como fator de luta, o ódio intransigente ao inimigo, que converte o ser humano em uma violenta, seletiva e fria máquina de matar. Nossos soldados têm de ser assim; um povo sem ódio não pode triunfar sobre um inimigo brutal. Há que se levar a guerra até onde o inimigo a leve: à sua casa, a seus lugares de diversão, torná-la total. Há que impedi-lo de ter um minuto de tranquilidade, fazê-lo sentir-se uma fera acossada onde quer que esteja”. Terno, não?

O meiguíssimo Che Guevara foi responsável direto pela morte de 144 cubanos entre colegas guerrilheiros, menores de idade, policiais executados na frente dos filhos e opositores políticos. Che escreve em seus diários detalhes das execuções perpetradas por ele próprio com tiros nas têmporas das vítimas e como roubou o relógio de um dos homens que ele mesmo matou. Relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos mostra que de cada preso a ser executado eram extraídos três litros de sangue vendidos por cerca de 300 dólares. Os condenados eram fuzilados desmaiados e inconscientes.

Em um discurso em 1964, nas Nações Unidas, Che declarou: “Fuzilamentos? Sim, temos fuzilado. Fuzilamos e seguiremos fazendo isso enquanto for necessário. Nossa luta é uma luta de morte”

O Guia Politicamente Correto da América Latina está repleto de relatos dos horrores perpetrados pelos revolucionários cubanos. Che Guevara tem um capítulo dedicado somente a ele. Aqui está apenas 1% do que o livro relata. Convido você a se enojar um pouco. Você vai sair daquelas páginas com outra visão do mito Che Guevara.

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