O velho doktor Freud, entre uma baforada e outra de charuto, se perguntava “Afinal o que querem as mulheres?” Danuza Leão escreveu num artigo da Folha : “Ah, as mulheres”.
Danuza ecoa as questões do criador da Psicanálise e relata casos frequentes de homens que tratam bem e amam suas mulheres, as valorizam, são ótimos pais, puxam conversas para assuntos de que elas gostam, reparam em sua aparência, as elogiam sempre, não se esquecem de todos os aniversários etc. No entanto, são desprezados como objeto de desejo e paixão.
Danuza dá uma pista do complexo labirinto da psique feminina: “o homem com quem se sonha não tem nada a ver com o homem que se ama. Nenhuma mulher vai se apaixonar por um homem que esteja de quatro por ela, adivinhando seus pensamentos, realizando seus desejos, antes mesmo de ela saber que desejos são esses. Ela pode gostar, sim, mas durante 24 horas, 48, enquanto existir aquela dúvida fundamental: que talvez não seja para sempre. É insuportável ser amada acima de todas as coisas o tempo todo, e pior ainda ter uma pessoa ao lado que nos tem como sua prioridade”.
Eis uma coisa que as mulheres deveriam ter coragem de dizer. No entanto, estão sempre reclamando que não são compreendidas, que os homens não lhes dão atenção e que falta homem no mercado. O sonho do príncipe encantado é ou não é uma constante no imaginário das nossas plebeias desde a adolescência? O “Eles foram felizes para sempre” ainda não anima os desejos da mulherada e os roteiros de todos os folhetins, novelas e filmes românticos para os quais elas tanto adoram arrastar os namorados?
O amor não tem manual de instruções, mas Danuza Leão é uma símia idosa (para quem não entendeu a ironia, é só um equivalente ao epíteto valorativo: “macaca velha). E ela reflete: “Para que o amor dure, é preciso que exista a dúvida se ele vai sobreviver, até mesmo àquela noite; não saber se ele vai ligar, não saber em que está pensando quando está calado, e sobretudo -sobretudo- saber que ele jamais vai lembrar de nenhuma das datas fatídicas, de quando se conheceram etc. etc., e jantar num restaurante especial e tomar um vinho no Dia dos Namorados. Para um homem ser amado é preciso que ele tenha um mundo particular --ou vários-- só dele, e no qual ela não consiga, jamais, penetrar”
Três grandes heroínas trágicas da literatura mostram o mesmo viés para com seus maridos. Emma Bovary, de Gustave Flaubert; Ana Karenina, de Liev Tolstoi; e Therese Desqueyroux, de François Mauriac. As três já foram retratadas em inúmeros filmes. Em comum, o fato de que todas trocam seus excelentes e bondosos maridos (bondosos e entediantes, é claro), por amantes reais ou potenciais. Como foram textos escritos por homens, as três protagonistas passam por belas enrascadas, mas deixam os maridos com o mesmo sentimento de: “o que eu fiz de errado?”.
Dona Flor, de Jorge Amado, quando teve a chance de um amor tranquilo, quando Teodoro, trouxe a paz de que o cafajeste Vadinho nunca foi capaz, não hesita em ficar com ambos.
Afinal, elas gostam é dos cafajestes?
No comments:
Post a Comment