Há dois meses venho frequentando um ambiente que sempre me causou estupor e, porque não dizer, certa repulsa. Não, caro leitor, não estou falando de festas de pagode ou aniversários de criança, muito menos de jogos do Ba-Vi. O lugar em que me vejo imerso seis vezes por semana é a academia.
Minha resignação a esta nova realidade se deveu a uma brutal repreensão da minha médica, escandalizada diante do resultado do meu exame de sangue, no qual o mau colesterol aparentemente tinha tomado Viagra e o colesterol bom se mandou para Caixa Pregos. Desaforos atirados na minha cara e alusões sinistras a uma morte precoce me levaram à sinvastatina, à aveia, às frutas e, enfim, à academia.
Uma coisa não se pode negar: a academia de ginástica é um ambiente perfeito para a perda de peso, o ganho de músculos e a exibição de egos inflacionados. Ah, os corpões que essas mentezinhas exibem. Quanto de psicologia caberia entre supinos e esteiras, halteres e bicicletas ergométricas; quanta análise antropológica está se esvaindo junto com litros de suor e de gordura.
Ali do alto da minha esteira divago: onde eu estava que não fui avisado que as panturrilhas masculinas passaram a exibir, obrigatoriamente, todo tipo de tatuagem? Há uma verdadeira poluição visual formada por símbolos tribais e grafismos aborígenes ou polinésios. Este pode ser um grande filão para arrecadação de imposto se as tatuagens nas panturrilhas forem incluídas entre os fatos geradores de tributos. Eu poderia, por exemplo, tatuar o símbolo da Petrobrás ou da Nike na minha panturrilha, ganharia um dinheiro dos anunciantes e assim estaria configurada a hipótese de incidência do tributo. Se é para exibir as panturrilhas e poluir o visual, que pelo menos se pague por isso.
Aliás, a academia que frequento pertence ao prefeito de Salvador. Estou me acostumando a correr com o alcaide na esteira vizinha. Pretendo apresentar a Neto esta sugestão: cobrar uma taxa dos tatuados e caso isto seja visto como discriminação ele pode dar exemplo e reduzir as mensalidades dos não-tatuados, repassando a diferença para os cofres da Prefeitura. Já pensou no impacto midiático? Ave, Neto!
Outra coisa que me chama a atenção é que as pessoas não largam seus smartphones para nada. A cada série de flexões ou abdominais, param para conferir quem postou o quê no Facebook ou quem curtiu o post de quem. Andam a esmo, sem olhar para frente, quase trombando uns nos outros com o olhar preso às suas telinhas portáteis. Parece que se se separarem demais dos telefones, vão definhar ou explodir, como naquele filme em que prisioneiros usam uma coleira e, ao se afastarem de certo ponto, a cabeça explode.
Aliás, essa obsessão das pessoas por estarem ininterruptamente plugadas ou eternamente online já beira o caso clínico. Outro dia, um amigo me ligou pedindo que entrasse imediatamente no Facebook para curtir um post que ele publicou. Informei que não dispunha de um computador e que estava no agradável café do Cine Glauber Rocha batendo papo com amigos, ao que ele retrucou que achava inadmissível (usou essa palavra) que eu não tivesse um celular com acesso à internet.
Pois eu resistirei enquanto puder a essa detestável pressão. Em casa ou no trabalho estou sempre com um computador à mão com acesso à internet. Será que no intervalo entra esses dois lugares eu preciso estar hiper-conectado como esses malucos? Minha maluquice é reservada para outras coisas. Tenho que me dar certo luxo e, hoje, o maior luxo é não permitir a invasão inoportuna por informações irrelevantes durante um bate-papo com amigos, nos minutos antes de começar o filme no cinema ou mesmo entre um aparelho e outro na academia.
A academia é uma terra de malucos funcionais. Os egos estão eternamente inflados e se houver cinco espelhos no espaço de 10 metros , o indivíduo se olhará em cada um deles, checando e re-checando os gomos do abdômen, a largura do peitoral ou a circunferência dos glúteos. Isso tudo sem largar o celular numa mão e a garrafinha de água na outra. Não importa que a academia tenha cinco bebedouros com água geladinha à disposição, o indivíduo não dispensará sua maldita garrafinha e sorve a água a cada 5 minutos enquanto confere as últimas do “Face” como se, ao não repetir o ritual, fosse morrer subitamente: desidratado e offline.
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