26.11.11

Balada do Amor e do Ódio


A figura do palhaço sempre foi um arquétipo poderoso no cinema (assim como no teatro, na ópera e na arte em geral). Foi com essa espécie de obsessão em mente que o diretor espanhol Alex de La Iglesia dirigiu Balada do Amor e do Ódio, levando os prêmios de direção e roteiro no Festival de Veneza de 2010. O filme é o típico exemplo de cinema fantástico (no sentido do grotesco).


A história tem início na década de 30, durante a guerra civil espanhola, num ambiente de uma família circense cujo elenco é forçado pela milícia a lutar contra o governo. Logo a seguir vemos uma sequência ao mesmo tempo plasticamente bela, mas de uma estética bruta e suja, em que um palhaço, vestido de mulher, com cachos dourados e nariz vermelho empunha um facão e destroça os atacantes munidos de fuzis até ser dominado. Preso e condenado a trabalhos forçados, ele vê seu filho, o garoto Javier (o ator mirim é muito fraco) tentar seguir seus passos já que sonha ser também palhaço, como todos na sua família. Mas o pai, na cadeia, o aconselha a assumir o papel do palhaço triste já que jamais seria engraçado pois não tivera infância. Para ser feliz deveria buscar a vingança.

O filme dá um salto de mais de 30 anos e, sob a ditadura de Franco, vemos o garoto Javier, já um homem adulto, buscando um papel de palhaço triste num circo vagabundo, num ambiente semelhante àquele da sua infância, dominado pelo personagem grotesco, viril e violento do palhaço Sérgio, amante extremamente ciumento da trapezista Natália.

O título desse filme bem poderia ser: “Mulher de malandro é chave de cadeia!” Desde o momento em que Javier vê a moça, que é belíssima, notamos que dali não vai sair coisa boa. Os críticos identificam no amor dividido de Natália (paixão por um Sérgio violento e amor pelo calmo Javiercomo metáfora da própria Espanha, dividida entre fascistas e republicanos.

Impossível não se lembrar de Quentin Tarantino e Guillermo Del Toro em seus filmes mais trash (Pulp Fiction, Bastardos Inglórios e O Labirinto do Fauno). Em certo momento da narrativa percebe-se que o filme rompe todos os rótulos e o diretor claramente viaja na maionese. Passa de uma narrativa política a alegórica e em seguida ao cômico, ao grotesco puro e simples, ao gótico fantástico e termina em um anunciado final trágico. Nunca mais vou ver um palhaço sem esquecer das cenas desse filme.

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