21.7.10

A Realidade, essa Desconhecida


Uma das maiores ilusões que existem é o que se entende por Realidade. Seu conceito é algo tão vago que há milênios filósofos têm se debruçado sobre esta verdadeira desconhecida. Seria Realidade o mesmo que Verdade? A crer nisso a mentira ou a ilusão não seriam reais. De fato, por mais estranho que pareça, o real não existe, ou ao menos não existe numa escala de entendimento “realmente” compreensível.

Realidade significaria a propriedade do que é tangível e que existe fora da mente. Mas, o que existe dentro da mente também é real e muitas vezes pode parecer (e ser) mais real do que o que existe fora dela pois a ilusão, a imaginação, embora realidades intangíveis, podem criar objetos tangíveis a partir da idealização e da ideia pura. Do ireal nasce o real, sendo o primeiro tão verdadeiro quanto o último. Da ideia, por mais paradoxal que seja, surge mesmo o oposto do ideal.

Toda essa longa introdução apenas para falar de dois livros que acabei de ler, ambos do mesmo autor, o jornalista e físico inglês Nigel Cawthorne: “A Vida Sexual dos Ídolos de Hollywood” e “A Vida Sexual dos Papas”.

O que mais me chamou a atenção nessas duas obras é o fato de que poucas áreas da atuação humana, desse grande palco de sombras que é a nossa existência, são tão ilusórias quanto o cinema e a religião. O fato de alguém lançar luzes sobre a vida sexual de papas e ídolos de cinema é uma tentação. E, como dizia o jamais suficientemente louvado escritor irlandês Oscar Wilde, resisto a tudo menos às tentações.

A fonte de pesquisa dos dois livros é colossal. Cawthorne, que já publicou mais de 60 obras, utilizou na elaboração desses dois volumes simplesmente 82 livros (sobre os atores e atrizes de Hollywood) e 49 obras (para o livro dos papas, incluindo documentos oficiais do Vaticano).

O que é uma pena é que a maioria dos astros, cujas saborosíssimas histórias sexuais são contadas, já estejam mortos há tempos e muita gente não tem muito interesse em saber detalhes de como os grandes estúdios como Paramount, Warner ou MGM se descabelavam para esconder as peripécias sexuais das suas estrelas. O livro narra detalhadamente a promiscuidade nas festas de Hollywood e não poupa Charlie Chaplin, Rodolfo Valentino, Greta Garbo, Marlene Dietrich, Clark Gable, James Dean, Rock Hudson, Ava Gardner, Rita Hayworth, Cary Grant, Grace Kelly, Errol Flynt, Marilyn Monroe e dezenas de outros.

Outra pena é que as histórias sobre as orgias, torturas, massacres e crimes perpetrados por centenas de papas (já tivemos mais de 300 deles) seja algo que tão convenientemente fica perdido nas brumas do passado e hoje em dia a Igreja Católica consiga manter uma aura de pureza e ainda por cima impor um código de conduta moral quando sua própria história não seria adequada para menores de 18 anos, aliás, é abaixo dessa idade que os padres preferem suas imberbes e impúberes presas.

Mas, voltando ao início e antes de continuar, cinema e religião vivem de vender imagens de um ideal. A Igreja nos vende o mais sofisticado produto de todos os criados: o Paraíso, a vida eterna após a morte, bastando que lhe entreguemos em troca nossas almas e consciências. Também somos tentados todo o tempo a buscar uma realidade mais satisfatória e a telona nos mostra ídolos perfeitos, maquiados, glamourosos, vivendo a vida que queríamos ter. E quando descobrimos (quando descobrimos) que um desses ídolos não é o que imaginamos o resultado nunca é bom para os negócios. Por isso os chefões dos grandes estúdios gastavam tanta energia protegendo os astros da realidade para o grande público.

Charlie Chaplin será eternamente lembrado pelo seu Carlitos e jamais como o ator que gostava de garotinhas de 14 anos, que engravidou aos 16 uma jovem atriz com quem foi obrigado a se casar e que a traía com inúmeras aspirantes a atrizes. Chaplin, que se gabava do seu insuperável desempenho sexual, chegou a ser preso por estupro e por pouco escapou de uma pena de 23 anos de cadeia.

Seria cansativo listar todas as barbaridades constantes de um livro de 350 páginas, mas garanto que a leitura será saborosa, principalmente os capítulos dedicados às grandes lésbicas do cinema e os galãs que os estúdios vendiam ao público como exemplos de virilidade e que participavam em festas privês de grandes orgias gays.

Já a leitura do livro sobre a vida sexual dos papas pode ser revoltante quando sabemos como a Igreja Católica prega outra coisa em seus altares. Este livro também tem 350 páginas e recomendo especialmente a leitura de alguns capítulos como os da história dos infames e assassinos Bórgias (família devassa que deu ao mundo Lucrécia Borgia e seu pai o papa Alexandre VI). Leia também a história do celibato na Igreja, do comércio de indulgências, dos crimes dos papas, da homossexualidade reinante entre cardeais e bispos, do comércio do perdão, dos lucros da Igreja com a taxação da prostituição em Roma, das torturas macabras nos calabouços da Basílica de São Pedro, dos anti-papas, da papisa Joana, da loucura coletiva que foi a Inquisição e muito mais.

Para encerrar, volto ao terceiro parágrafo onde digo que o autor Nigel Cawthorne é também físico e recomendo o filme Quem Somos Nós, um documentário interessantíssimo sobre física quântica que trata do que convencionamos chamar de real. Cada vez me convenço mais de que a realidade não passa de uma grande e duradoura ilusão.

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