25.7.10

O Dia da Toalha


Escrevi no Google o título deste artigo: “O Dia da Toalha” e encontrei mais de 600 mil referências. Perde feio para os nomes “Neymar” com quase 25 milhões de citações e “Anitta” com mais de 5 milhões de resultados, só para ficar em dois exemplos.
 
Mas que diabos é esse tal Dia da Toalha. Ninguém é obrigado a saber, já que também não somos constantemente bombardeados com notícias a seu respeito, como acontece com Neymar e em grau menor com Anitta. Então, para não ser injusto, joguei no Google os nomes: “Douglas Adams” e “O Guia do Mochileiro das Galáxias” e encontrei, respectivamente, 1,4 milhões e 800 mil resultados. Credito a superação do número de referências à obra em relação ao nome do seu autor à existência dos homônimos.

Pois Douglas Adams é o autor da série de livros mais hilária que já li. São 5 volumes: “O Guia do Mochileiro das Galáxias” e as continuações: “O Restaurante no Fim do Universo”; “A Vida, o Universo e Tudo Mais”; “Até Mais, e Obrigado pelos Peixes” e “Praticamente Inofensiva”. Os livros venderam milhões de exemplares pelo mundo todo, já tendo sido adaptados para o cinema. O filme, aliás, é até muito bom.
 
Adams tem uma legião de fãs tão grande (o renomado cientista Richard Dawkins, autor de Deus é um Delírio, dedicou a ele seu livro), que o Dia da Toalha, uma homenagem a ele, é comemorado pelos aficionados no mundo inteiro no dia 25 de maio desde 2001 quando Adams morreu precocemente aos 49 anos. No Facebook, há diversas comunidades relacionadas sempre com milhares de membros. Uma pesquisa na internet mostra fotos de “mochileiros das galáxias” usando toalhas no metrô de Tókio, na Times Square de Nova Yorque; na Trafalgar Square de Londres, na Torre Eiffel de Paris, no Cristo Redentor....
 
Nesta data, fãs de Adams passam o dia inteiro carregando uma toalha, seja como turbante, seja pendurada no ombro, como capa, amarrada da cintura, seja de qualquer modo, essa é uma forma que encontraram de homenagear o criador da divertida série. 25 de maio é considerado como Dia do Orgulho Nerd, pois muitos nerds são fãs de Douglas Adams e muitos tatuam o número 42 no corpo, uma referência aparentemente boba, mas que todos os fãs entendem como uma das peças fundamentais da obra. Fã que é fã se reconhece assim.
 
Recentemente, na Alemanha, hospedado na casa de um casal amigo, vi no seu banheiro um exemplar da série em alemão (Einmal Rupert und zurück­). Passaria despercebido se o nome do autor não estivesse lá, no original: Douglas Adams. Corri para perguntar se os meus anfitriões eram fãs e ficamos um bom tempo nos divertindo lembrando partes loucas dos livros.
 
O Guia diz: “A toalha é um dos objetos mais úteis para um mochileiro interestelar. Em parte devido a seu valor prático: você pode usar a toalha como agasalho quando atravessar as frias luas de Beta de Jagla; pode deitar-se sobre ela nas reluzentes praias de areia marmórea de Santragino V, respirando os inebriantes vapores marítimos; você pode dormir debaixo dela sob as estrelas que brilham avermelhadas no mundo desértico de Kakrafoon; Pode usá-la como vela para descer numa minijangada as águas lentas do rio Moth; Pode umedecê-la e utilizá-la para lutar em combate corpo a corpo; enrolá-la em torno da cabeça para proteger-se de emanações tóxicas ou para evitar o olhar da Terrível Besta Voraz de Traal (um animal estonteantemente burro, que acha que, se você não pode vê-lo, ele também não pode ver você – estúpido feito uma anta, mas muito, muito voraz); Você pode agitar a toalha em situações de emergência para pedir socorro; E naturalmente pode usá-la para enxugar-se com ela se ainda estiver razoavelmente limpa. Porém o mais importante é o imenso valor psicológico da toalha. Por algum motivo, quando um não-mochileiro descobre que um mochileiro tem uma toalha, ele automaticamente conclui que ele tem também escova de dentes, esponja, sabonete, lata de biscoitos, garrafinha de aguardente, bússola, mapa, barbante, repelente, capa de chuva, traje espacial, etc., etc. O que o não mochileiro vai pensar é que, se um sujeito é capaz de rodar por toda a Galáxia, acampar, pedir carona, lutar contra terríveis obstáculos, dar a volta por cima e ainda assim saber onde está sua toalha, esse sujeito claramente merece respeito.”

Caso você não seja nerd o suficiente para usar uma toalha no próximo 25 de maio, espero que já tenha dado uma chance para Douglas Adams entrar na sua vida e você vai me agradecer por conhecer o atrapalhado terráqueo Artur Dent; o extraterrestre Ford Perfect, cujo nome verdadeiro é impronunciável inclusive para ele próprio; Marvin, o robô depressivo que tem um QI 30 bilhões de vezes maior que o de um ser humano, mas só é designado para funções banais como abrir portas, escoltar visitantes e sentar num canto e ser ignorado, o que o deixa em completo desprezo pela vida.
 
A galeria de personagens é exuberante, como os atrapalhados e terríveis vogons; o peixe babel que introduzido no ouvido traduz qualquer língua para qualquer outra; o gerador de probabilidades infinitas e muito mais. Cada página é uma surpresa delirante de uma mente divertidíssima, uma torrente interminável de histórias surreais e loucas. Difícil dizer qual dos cinco livros é mais engraçado, mas você pode comprar os cinco de uma vez numa promoção do site Submarino esta semana por apenas R$ 30,00.
 
Reproduzo aqui dois trechos inspiradíssimos: “Nada viaja mais rápido do que a velocidade da luz, exceto, talvez, as más notícias, mas estas obedecem a leis especiais. Tentaram construir naves espaciais movidas a más notícias mas elas não funcionavam bem e eram extremamente mal recebidas sempre que chegavam a algum lugar” e “Uma das coisas mais extraordinárias da vida é o tipo de lugares nos quais ela está preparada para sobreviver como entocada no intestino grosso de um rato pela mais pura diversão, a vida encontra uma maneira de ir levando as coisas em qualquer lugar”.

Então, se você permitir que Adams e seus personagens entrem em sua vida, talvez você não tatue 42 no corpo nem use uma toalha por todo o dia no próximo 25 de maio, mas se divertirá tanto quanto como aqueles que o fazem. Por Zarquon, que falta faz Douglas Adams...

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