Há três anos resolvi anotar os livros lidos no ano. Sempre
fui rato de bibliotecas, livrarias e sebos e maníaco por comprar livros.
Adoro a textura do papel e o cheiro do exemplar
novo. Após o Kindle, passei a consumir avidamente livros
digitais que têm a vantagem da leveza e por não ter mais espaço na minha casa para livros que passaram
de mil.
Em 2018 li 40. Em 2019 foram 68
exemplares e em 2020, 61 livros. Publiquei todos no blog.
Aqui estão os 17 que li de Outubro a
Dezembro. Foram 20 de Janeiro a Maio e 18 de Junho a Setembro. Total: 55 livros em 2021.
CRÔNICA DA CASA
ASSASSINADA- Há anos tentava ler este livro de Lúcio
Cardoso, escrito em 1958 e fora de catálogo há anos. Em 2021 a Companhia das Letras
relançou a obra que se tornou o melhor livro brasileiro que li na minha vida,
empatado com Grande Serão, Veredas e desbancando Dom Casmurro e Memórias Póstumas
de Brás Cubas. Escrevi uma elogiosa resenha no blog sobre a história que gira
em torno de uma família decadente no interior de Minas com ecos do romance gótico norte-americano O Som e a
Fúria, de William Faulkner e de O Morro dos Ventos Uivantes, de
Emily Brontë.
BILLY SUMMERS –
A história de um matador de aluguel decidido a encerra sua carreira foi o
último romance lançado pelo mestre do terror Stephen King. Dos 34
livros que li do autor, este é o mais fraco. Escrevi uma resenha no
meu blog. O livro se arrasta com inúmeros detalhes
desnecessários que em literatura tem o horrível nome de reiteração, um pecado a ser evitado pelo mais primário dos escritores, o que dirá de um
mestre. Até a tradução foi lamentável. Publiquei num grupo de fãs
de King no Facebook e recebi elogios (privados) e críticas raivosas
(públicas) dos fãs que disseram não ver diferença entre as
palavras fãs e fanáticos.
O HOMEM BICENTENÁRIO – Baixei
todos os livros que pude de Isaac Asimov, conhecido como “O Bom Doutor”. Tenho planos de ler o máximo de obras dele, o que é
impossível já que o autor publicou quase 500 livros de vários gêneros. Ainda
não li sua obra máxima, Fundação,
composta de sete volumes, mas já li Eu,
Robô, coletânea de 10 contos. Este é composto de 12 contos, incluindo o que
dá título ao livro, e também adaptado para o cinema que conta a história de um
robô que deseja ser um ser humano e utiliza-se de todos os recursos da
psicologia robótica e das brechas das 3 Leis da Robótica, criações do próprio
Asimov.
O ESPELHO E A LUZ –
Terceiro livro da britânica Hillary Mantel sobre o sombrio Thomas Cromwell, homem de confiança máxima do
rei Henrique VIII. Já havia lido as duas primeiras obras dessa série (Wolf Hall e Tragam os
Corpos). A autora conquistou o prêmio mais importante da
língua inglesa, o Booker Prize, a única mulher a
ganhá-lo duas vezes e com romances históricos. Acompanhamos a vida de Cromwell desde a infância miserável até ser o segundo homem mais influente do reinado de Henrique VIII.
Poucos personagens históricos foram tão astuciosos e enigmáticos. Este volume tem 768 páginas (os outros têm, juntos 890).
ESTE LADO DO PARAÍSO – Romance
de estreia de F. Scott Fitzgerald. A obra fez enorme sucesso ao ser publicado em 1920 e retrata uma geração
jovem desiludida. O personagem principal é um jovem
bem-nascido cercado de privilégios, mas com uma obsessão por
prestígio. O livro tem forte tom autobiográfico com
a fina ironia, marca registrada de Fitzgerald. Já havia lido dele o
livro de contos O Diamante do Tamanho do
Ritz e a edição que reúne 24 dos seus melhores contos. A melhor leitura foi a do seu romance O Grande Gatsby,
adaptada para o cinema duas vezes (com Robert Redford e Leonardo Di Caprio no
papel-título).
O ADULTO – Livro
com o conto vencedor do disputado prêmio
Edgar Alan Poe Award em 2015
da autora Gillian Flynn, de quem já li os excelentes A Garota Genial e Objetos Cortantes, o primeiro adaptado para o
cinema com grande sucesso e o segundo uma série premiada da HBO. Conta a história de uma
jovem que ganha a vida com pequenos roubos até migrar para o trabalho como vidente quando se envolve com uma família
estranhíssima em uma casa supostamente assombrada. Quem gosta da Gillian Flynn
romancista tem a chance de conhecê-la como contista.
Pretendo ler da autora o livro Lugares Escuros, que já foi adaptado para as
telas.
A MORTE DE IVAN ILITCH –
Novela de Liev Tolstói publicada em 1886 e considerada uma obra-prima da
literatura, conta a história de um juiz na Rússia e seus sofrimentos e morte
por uma doença dolorosa. Uma poderosa reflexão sobre a morte. Já havia lido
esta novela, mas não me lembrava de muita coisa e foi um dos raros livros
relidos na vida ao lado de O Perfume e
Memórias de Adriano. Só havia lido de Tolstói o seu clássico Anna Karenina, várias vezes adaptado para o cinema e ainda tenho planos de ler o tijolaço Guerra e Paz num dia em que tiver coragem suficiente.
SONATA A KREUZTER - Depois
de reler A Morte de Ivan Ilitch, peguei o embalo de ler Tolstói e emendei com outra novela célebre,
homenagem à Sonata para Violino e Piano
de Beethoven. Um curto romance focado no diálogo de dois homens numa viagem de trem abordando
as relações entre homem e mulher. Uma das obras mais controversas do autor, em
que um personagem homicida e absolutamente repugnante é usado para dar voz
aos sentimentos misóginos de Tolstói que considerava as mulheres como criaturas
superficiais e manipuladoras.
SENHOR E SERVO – Não
sei o que aconteceu comigo que esqueci os contos de Tolstói. Reli este terceira
novela que se passa na Rússia czarista. Um rico e avarento proprietário de terras parte
numa curta viagem de trenó com um servo altamente submisso durante uma fortíssima nevasca. Ambos de perdem no
caminho e desorientados veem-se à beira da morte por hipotermia e neste momento
as relações sociais são expostas no limite.
A FELICIDADE CONJUGAL -
A
quarta novela de Tolstói que reli. Na primeira parte, uma
rica jovem de 17 anos descreve sua descoberta do amor por um homem vinte anos
mais velho e na segunda parte, casados, percebem que as diferenças entre eles ganham
força e começam a prejudicar a relação com a esposa querendo frequentar a corte e a metrópole e o marido preferindo uma vida simples no campo. Lembra a história de Madame
Bovary de Flaubert, publicada poucos anos antes, mas Tolstói dá outro rumo à
sua “heroína”.
ONDE ESTÁ O AMOR DEUS
AI ESTÁ – Uma história curta de Tolstói que não havia lido
ainda. Um conto sobre Martyn Avdeitch, um sapateiro velhinho conhecido por sua
honestidade e que, ao perder esposa e todos os seus filhos, vê-se sem vontade de viver e começa a reclamar contra Deus e a perder o pouco de fé que tinha até
descobrir o valor da caridade e da Bíblia. Um contraponto extremo ao conto de
outro autor russo, Dostoévski: A Árvore
de Natal de Cristo.
A ESTRADA DA NOITE – O
segundo livro que li do autor Joe Hill (após NOS4A2,
código de Nosferatu, já adaptado para série) e que tem a carga de tensão
dos livros do pai Stephen King. História de um roqueiro decadente que
coleciona objetos ligados a mortes violentas. Um assessor compra um paletó que vem acompanhado de um fantasma. A
partir dessa premissa aparentemente boba, o livro se desenvolve numa tensão de
perseguição frenética recheada de mortes e assombro. A descoberta do passado
brutal do fantasma, aos poucos mostra que a história é muito mais perigosa do
que pensávamos. Excelente enredo que também merece virar série.
A PALAVRA QUE RESTA – Romance
de estreia do cearense Stênio Gardel
de uma sensibilidade acachapante História do amor proibido de dois
rapazes no interior do Brasil. No começo do livro, conhecemos Raimundo,
analfabeto, aos 71 anos, que carrega por décadas, a carta do seu único
amor, o amigo de infância Cícero, de quem teve que se separar de forma abrupta
e violenta quando os pais descobrem o romance. Acompanhamos o que levou
Raimundo a aprender a ler para descobrir as últimas palavras do seu amor. Belo e tristíssimo, um libelo contra
o preconceito.
A ABADIA DE NORTHANGER
– Primeiro livro que li de Jane Austen, autora que é uma unanimidade, vide o
belíssimo filme “O Clube da Leitura de
Jane Austen”. Não sei por que não li ainda suas obras primas como Orgulho e Preconceito, Mansfield Park, Razão
e Sensibilidade, Emma e Persuasão, todos adaptados para o
cinema. Uma sátira sutil inspirada
na aristocracia inglesa. O enredo gira em torno da ingênua jovem Catherine, apaixonada
por romances góticos. O livro é considerado o “Dom Quixote da literatura
inglesa”, pela obsessão lunática do personagem de Cervantes pelos romances de
cavalaria.
O MÉDICO E O MONSTRO
– Clássico livro de mistério do escocês Robert
Louis Stevenson publicado em 1886, está entre os maiores exemplos de literatura
vitoriana. O puritano Dr. Jekyll busca experimentar o que a sociedade conservadora
não permitia e cria o Sr. Hide, até não conseguir se livrar do monstro, como se viver o proibido incapacitasse
alguém de voltar ao armário do puritanismo (há uma avaliação sobre
a possível homossexualidade do Dr. Jekyll. O livro gira em torno da figura do duplo, tema
abordado por Freud e visto em obras com referências na
cultura pop como O Clube da Luta, O Homem Duplicado (de José Saramago), O
Retrato de Dorian Gray (de Oscar Wilde) e até O
Incrível Hulk.
JOGO PERIGOSO
- O 35º livro de Stephen King que li e está entre os mais angustiantes
que já li na vida, ao lado de Quando os
Adams Saíram de Férias e Johnny Vai à Guerra. Originou filme homônimo com a história de Jessie, que durante uma brincadeira
sexual com o marido Gerald é algemada à cama. Subitamente, ele morre de
ataque cardíaco deixando Jessie presa sem qualquer esperança de liberdade. São
mais de 300 páginas de pura aflição em que Jessie sente sede, terror e todas as
dores possíveis de câimbras devido à longa imobilidade — quem já teve câimbras
sabe a dor que causam. Não é um livro para estômagos fracos.
SEREI SEMPRE O TEU
ABRIGO – O primeiro livro que li do premiado autor português
Valter Hugo Mãe. Publicado num belíssimo projeto gráfico, papel de qualidade e lindas ilustrações . Com extrema sensibilidade,
Valter Hugo Mãe nos faz acompanhar o amor dos avós pelo neto e um pelo outro.
Um belo trecho diz: “Alguém disse que, em
segredo, exatamente deitada para dormir, a avó chorou uma lágrima apenas, e de
imediato floriu em seu olhar. Uma flor azul que se levantou do rosto, como a
própria lua em redor da cabeça. Tanta coisa era mágica na sua vida. Até a
tristeza. Eu nunca duvidei”.
1 comment:
Melhor lista que já vi. Conseguiu me trazer de volta para a ficção. Amei.
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