Há algum tempo escrevi um texto
com o nome de Leituras Abandonadas, sobre cinco livros cuja leitura não
conclui. Não são muitos os que abandonei, não somente porque
resisto em largar uma obra pelo meio, acreditando que a leitura
vai me seduzir em certo momento, mas por um faro para identificar bons livros a
partir de autores ou temas que me interessam.
Há tempos meu ritmo de leitura
tem sido intenso. Há quatro anos leio, em média, quatro
livros por mês. Mas no meio do caminho.... Como disse, no primeiro texto,
havia Ulisses (de James Joyce), O
Pêndulo de Foucault (de Umberto Eco), Carol (de Patricia Highsmith), O Som e a Fúria (de William Faulkner) e Orientalismo (de Edward Said). Falei dos motivos pelos quais abandonei cada um naquele post.
Mas, à medida que o número de
livros lidos aumentou, também aumentaram os abandonos. Eis os cinco novos abandonados. Quatro viraram filmes e dois dos filmes me fizeram largar os respectivos livros.
ENTREVISTA COM O VAMPIRO -
Primeiro e único livro que tentei ler da autora Anne Rice que tem uma série de
livros sobre vampiros, algo que em si já me agrada. O filme é
excelente (com Tom Cruise, Brad Pitt, Christian Slater, Antonio Banderas e direção do genial Neil Jordan) e tive o privilégio de assistir no
cinema pela primeira vez em São Francisco, onde foi filmado. A tradução é de
ninguém menos do que da divina Clarice Lispector. Tinha como ser ruim? Não tinha. Mas detestei. Dei uma segunda chance e retomei a leitura depois, mas a linguagem excessivamente barroca me deu até enjoo. Se depender de mim, Anne Rice não passa na minha porta!
BUTCHER BOY – INFÂNCIA SANGRENTA
– Primeiro livro e único que tentei ler do irlandês Patrick McCabe. Ao
contrário do barroco Entrevista com o Vampiro, aqui a linguagem é crua
e experimental, girando em torno do crescimento disfuncional de uma criança na
tradicional Irlanda, com generosas doses
de violência, alcoolismo e doença mental. Tinha tudo para ser um ótimo livro,
mas a narrativa construída como se estivéssemos dentro da cabeça da criança,
com erros de concordância, tiques e repetições, me irritou. Talvez eu dê uma
segunda chance ao livro que tem muitos admiradores, como Neil
Jordan (diretor de Entrevista com o Vampiro), que o adaptou para o cinema
no excelente Nó na Garganta.
CLUBE DA LUTA – Outro livro que
virou filme e que não consegui gostar da leitura, abandonada antes da
metade, conta a história de um homem com insônia crônica e que finge ser alguém com enfermidades graves em diversos grupos de apoio. De autoria do americano Chuck Palahniuk,
talvez já saber o “segredo” da história através do ótimo filme com
Brad Pitt e Edward Norton e direção de David Fincher (dos filmes consagrados Seven e Garota Exemplar) tenha me desestimulado. Já soube que há diferenças
entre livro e filme e como tenho outros livros do autor talvez dê uma segunda
chance no futuro, já que quero me aventurar mais pela sua escrita muito criativa
com temas ousados.
GONE, BABY, GONE – O quarto livro
desta série que também virou filme que foi dirigido por Ben Affleck, com Morgan
Freeman e Ed Harris no elenco e com subtítulo no
cinema de Medo da Verdade. Gosto muito do estilo do autor Dennis Lehane de quem
já li o excelente Sobre Meninos de Lobos (também adaptado para as telas, assim
como Ilha do Medo). Saber do final da história pelo filme me fez desistir da leitura logo no começo. O filme tem um final muito
anticlimático e frustrante e imaginei que iria ler mais de 450 páginas para me
irritar no fim. Ok, as histórias dos livros de Dennis Lehane não são exatamente chá com bolinho, mas já vi o
filme. Então me basta de sofrer.
PORQUE LER OS
CLÁSSICOS – Adoro os livros do cubano Ítalo Calvino e dois deles estão na minha
lista de favoritos da vida (As Cidades Invisíveis e Se um Viajante Numa Noite
de Inverno). Este aqui não é um livro de ficção, não virou filme e jamais
viraria, por ser um livro que trata de outros livros clássicos. Apesar do bom humor do autor que diz que a razão definitiva para ler os clássicos
é tão simples como as grandes verdades: lê-los é melhor do que não os
ler", ainda não me sinto preparado para usufruir devidamente desta
obra. Farei isso quando crescer. Doei meu exemplar para minha
amiga Márcia Magalhães, que na primeira oportunidade, exibindo sua sapiência,
jogou na minha cara: “Ah eu estou adorando, não sei por que você não gostou”!
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