Há tempos quero escrever sobre livros cuja
leitura não conclui. Não são muitos, já que resisto em abandonar uma obra pelo
meio, sempre imaginando que em algum momento ela vai me agarrar e me encantar
sua leitura e também graças a certo faro de identificar bons livros a partir de
autores cujas obras já conheço ou por temas que me interessam.
De uns anos para cá, ao deixar um trabalho em que
obrigatoriamente tinha de ler e escrever diariamente, passei a sentir um prazer
maior em ler e escrever por puro deleite. Há tempo não lia tanto, o ritmo atual
está em quatro livros a cada mês.
Mas no meio do caminho....
Umberto Eco |
O PÊNDULO DE FOUCAULT - Costumo encarar os
clássicos com prazer e não costumo errar, mas há as lacunas. Apesar de já ter
lido e apreciado várias obras do italiano Umberto Eco, como O Nome da Rosa, A
Ilha do Dia Anterior, Baldolino e O Cemitério de Praga, não consegui avançar no
seu quase intransponível O Pêndulo de Foucault. Tentei três vezes, mas não passei da página 40 em
grande parte por conta da sua vasta erudição, citações ocultistas, densidade e
trama excessivamente complexa. Sentia vergonha por admiti-lo, mas me acalmei ao
saber que esse livro está entre os mais abandonados pelos leitores, mesmo por
aqueles com uma cultura média.
Patricia Highsmith |
CAROL - A escritora Patrícia Highsmith é uma fera
do thriller policial, mas abandonei duas vezes a leitura do seu romance
Carol, adaptado para o cinema com as talentosas Cate Blanchett e Rooney Mara no
elenco. O filme conseguiu ser tão xarope quanto o livro, o que é raro, já que
Highsmith deu muita sorte nas diversas adaptações dos seus thrillers para a
tela grande, como em Pacto Sinistro, dirigido por Hitchcock (como Strangers on a Train), e as diversas
adaptações em torno do personagem escroque Tom Ripley, protagonista de cinco
romances da autora: O Talentoso Ripley, Ripley Debaixo d’Água, O Garoto Que
Seguiu Ripley, Ripley Subterrâneo e O Jogo de Ripley. Todos eles li com prazer,
mas Carol me derrotou.
William Faulkner |
O SOM E A FÚRIA- Eu já sabia que o prêmio Nobel
William Faulkner era famoso por ser de leitura difícil. Deixei para enfrentar o
seu O Som e a Fúria após a leitura da sua “Trilogia Snopes” (A Mansão, O
Povoado e A Cidade). Ler esses três livros não foi exatamente uma tarefa fácil, mas
assim mesmo me deram imenso prazer. Porém, ao encarar O Som e a Fúria, sucumbi.
Incentivado pelos elogios rasgados da crítica à obra, considerada não só o
melhor romance de Faulkner, mas uma das mais contundentes obras de ficção do
século XX, tentei repetidamente retomar. Em vão. São excessivas as suas vozes narrativas
e vários os planos sem cronologia, um quebra-cabeças que se tenta encaixar no
escuro. Sinto que um dia vou tentar novamente.
James Joyce |
ULISSES – Essa volumosa obra do irlandês James
Joyce (mais de mil páginas) é considerada, talvez a mais abandonado de toda a
história da literatura. Há um aparentemente intransponível parágrafo de mais de
30 páginas de um monólogo interior de uma personagem. Existem até manuais
escritos para se aprender como ler esse livro. Minhas duas tentativas de lê-lo
não me levaram além da página 20, e com muito custo. Uma pena, já que sou fã da
história grega que inspira a obra, a Odisseia, de Homero que já li mais de uma
vez. A linguagem experimental e inovadora, com texto em fluxo de consciência e
vocabulário inventado pelo autor me intimidaram demais.
Edward Said |
ORIENTALISMO- Há tempos queria ler esse ensaio literário, considerado por vários autores de
que gosto como essencial para a compreensão da visão ocidental sobre o Oriente.
O livro é extremamente bem escrito pelo intelectual erudito palestino Edward
Said, também um dos mais respeitados críticos literários. Tenho a impressão de
que me falta a prévia leitura de algumas obras citadas pelo autor e talvez me
incomode um pouco o tom de defesa de tese sobre a representação dos povos
orientais na formação da identidade ocidental e a legitimação de interesses
coloniais. São analisados com profundidade e talvez com excessiva reiteração,
inúmeros documentos, pronunciamentos políticos, a geografia e a história,
relatos de viagem, estudos religiosos e obras literárias europeias. Deixei pela
metade para retomar antes da minha futura primeira viagem para o Oriente.
1 comment:
Eu me sinto tão medíocre quando leio uma avaliação desde tipo. Fiquei tentada a ler "Orientalismo". É o tipo de livro que adoro.
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