Recentemente
publiquei uma postagem comentando 10 livros sobre a história da dinastia
inglesa dos reis Plantagenetas, da Inglaterra, escritos por Jean Plaidy.
Continuando com livros sobre reis ingleses da Idade Média, quero falar sobre
dois livros que li recentemente e que envolvem a dinastia seguinte à dos
Plantagenetas: os Tudors, especialmente o rei Henrique VIII.
Tratam-se dos
livros Wolf Hall e O Livro de Henrique, de autoria de Hillary Mantel, outra
inglesa e que têm um mérito extra, uma vez que sua autora ganhou o prêmio mais importante
da língua inglesa, o Booker Prize, sendo
a única mulher a ganhar o prêmio duas vezes, em 2009 e 2012, com as duas obras
respectivamente, algo mais raro ainda por serem romances históricos. Espera-se para breve o final da trilogia, com o livro, ainda sem título em
Português, que se chamará The Mirror and The Light.
O trabalho de Hillary Mantel é mais interessante porque, ao invés de dirigir sua
narrativa para a vida do rei Henrique, ela torna o monarca quase coadjuvante,
ao focar em Thomas Cromwell, um personagem sombrio e polêmico, talvez um dos
mais inteligentes e hábeis manipuladores de toda História.
Em Wolf Hall,
que custou cinco anos de intensa pesquisa para a sua autora, estamos nas
primeiras décadas de 1.500. quando Henrique VIII está separado da sua primeira
esposa, Catarina de Aragão, e o superpoderoso cardeal Wolsey cai em desgraça
por não conseguir que o papa Clemente concedesse o divórcio para o rei.
Henrique, que não tem herdeiros masculinos, se encanta pela ambiciosa Ana
Bolena e para se casar com ela precisava da anulação do casamento anterior,
lembrando que na Idade Média, os monarcas sofriam grande influência da Igreja
Católica de Roma e um édito de excomunhão era a ameaça mais forte que o papa
usava para impor seu poder.
Thomas
Cromwell aparece para resolver esse problema com sua notável habilidade de
manipulação após a queda do cardeal Wolsey, de quem fora secretário, e em
seguida tramar a prisão e decapitação do chanceler seu rival Thomas More
(famoso também como filósofo e autor do clássico livro Utopia).
No livro,
acompanhamos a escalada de Cromwell desde criança quando foge dos espancamentos
frequentes do pai violento e alcoólatra até surgir anos depois como homem de
confiança do cardeal e seguimos o jogo de intriga, influência e poder, sempre
sob a ótica do próprio Cromwell.
Cromwell pintado por Holbein |
É preciso se
acostumar inicialmente com o estilo diferente de narrativa já que Hilary Mantel
utiliza-se muitas vezes de diálogos quase cifrados, como seria comum em tramas
complexas em que meias palavras são ditas e subtendidos são abundantes.
Cromwell é tratado no livro por “ele”, o que demanda uma atenção do leitor, mas
que logo o torna uma espécie de cúmplice privilegiado da teia traçada por
Cromwell, a última pessoa no mundo que qualquer um quisesse ter como inimigo.
Neste livro, acompanhamos o sucesso do habilidoso Cromwell em levar adiante as reformas,
tanto do parlamento quanto da igreja, a dissolução de mosteiros e de ordens
religiosas, a sonhada anulação do casamento do rei com Catarina, o ostracismo e
decadência da então rainha e sua herdeira Maria e a ascensão de Ana Bolena e
sua ambiciosa família, que finalmente se casa com o rei, levando Cromwell a se
tornar ainda mais influente rico e poderoso, acumulando simultaneamente cargos
de conselheiro, barão, duque, arquivista mor, secretário geral e primeiro
ministro.
Wolf Hall
teve críticas entusiasmadas dos maiores periódicos do mundo. Segundo o The
Observer: “É um livro belo e profundamente humano, um espelho negro pendurado
sobre o nosso mundo. E o fato de a conclusão acontecer apenas depois de o pano
cair só prova que Hilary Mantel é uma das nossas mais corajosas e brilhantes
escritoras”. Para o The Times é simplesmente “O livro mais cativante que alguma
vez você lerá”; o Daily Telegraph o saúda como “Um livro esplendidamente
ambicioso”, enquanto o Guardian o trata como “Uma investigação envolvente e
humana sobre o preço da ambição”.
Já a segunda
parte da trilogia, O Livro de Henrique, tem o título original de "Bring Up
the Bodies", algo como "tragam os corpos", que é a terminologia
jurídica para que os réus fossem levados perante a corte para ouvir as
acusações.
Aqui a manipulação
de Cromwell a serviço do rei se volta contra Ana Bolena e sua agora poderosa
família. A segunda esposa de Henrique também não lha dá um filho e sim outra
filha, que no futuro viria a ser a rainha Elizabeth I. Após todo o esforço para
conseguir a anulação do seu primeiro casamento, agora o rei perde o interesse
por Ana Bolena e se volta para outra donzela, a meiga Jane Seymour, dama de
companhia das duas rainhas anteriores.
Ana Bolena passa a provar do próprio
veneno e uma orquestração nos bastidores, envolvendo toda a família, a levam para o cadafalso e uma
conspiração faz com que Cromwell forje as acusações que levam à decapitação dos
vários dos seus supostos amantes, entre eles o seu próprio irmão George Bolena,
acusado de incesto.
Henrique por Holbein |
No cinema a
história de Ana Bolena já foi contada nos filmes Ana dos Mil Dias de 1969 que
premiou Geneviève Bujold no papel da rainha com o Globo de Ouro, tendo uma
indicação ao Oscar e teve no papel do rei Henrique o ator Richard Burton.
Em 1966 o filme O Homem Que Não Vendeu Sua Alma mostra a participação decisiva de Cromwell como o acusador do chanceler Thomas More. A atriz Vanessa Redgrave faz o papel de Ana Bolena e o ator Orson Welles interpreta o cardeal Wosley. O filme está disponível na Netflix e ganhou na época seis prêmios Oscar nas categorias de melhor filme, diretor, ator (para Paul Scofield no papel de Thomas More), roteiro adaptado, fotografia e figurino.
Em 1966 o filme O Homem Que Não Vendeu Sua Alma mostra a participação decisiva de Cromwell como o acusador do chanceler Thomas More. A atriz Vanessa Redgrave faz o papel de Ana Bolena e o ator Orson Welles interpreta o cardeal Wosley. O filme está disponível na Netflix e ganhou na época seis prêmios Oscar nas categorias de melhor filme, diretor, ator (para Paul Scofield no papel de Thomas More), roteiro adaptado, fotografia e figurino.
Mais
recentemente, no filme A Outra, temos Natalie Portman como Ana, Scarlett
Johansson como sua irmã Maria Bolena e Eric Bana no papel do rei Henrique. A
série Os Tudors teve quatro temporadas e fez grande sucesso com o galã Jonathan
Rhys Meyers no papel principal do rei inglês.
Wolf Hall, o primeiro livro, virou minissérie em seis capítulos e passou no Brasil pela Netflix com o ator Damian Lewis (famoso pelas séries Homeland e Billions) no papel de Henrique VIII.
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