17.5.15

UM POMBO POUSOU NUM GALHO REFLETINDO SOBRE A EXISTÊNCIA

Assisti a este filme no ano passado durante a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Foi uma daquelas sessões em que, por sorte, a gente consegue o ingresso, pois era um filme muito concorrido, com todas as salas lotadas.

Confesso que não conhecia o seu diretor, o sueco Roy Andersson, e fui assistir à película em razão dos elogios que havia lido dos críticos e pelo fato de as sessões estarem sempre lotadas, além da sua premiação com o Leão de Ouro no festival de Veneza em 2014.

Taí um exemplo de que prêmios, elogios de críticos e salas lotadas às vezes não significam nada, pois esse “Pombo” utiliza-se do recurso de ser um filme esquisito para tentar ser um “esquisito do bem”, ao invés de ser somente um filme chatíssimo e com graça próxima de zero.

Pelo que li, o “Pombo” é o final da trilogia formada pelos filmes “Vocês, Os Vivos” e “Canções do Segundo Andar”.  Baseado em fatos banais do dia a dia, “Pombo” não transcende sobre essa banalidade. Simplesmente a traz para a tela sem com isso acrescentar qualquer coisa. Há, reiterativamente, no filme, dois vendedores ambulantes entediados que só conseguem entediar o espectador. Talvez o objetivo fosse esse mesmo. Não sei os demais espectadores, mas eu não suportava mais vê-los aparecerem na tela entre as micro histórias sem continuidade ou sentido.

Li elogios como: É um grito de loucura que vai chegando ao seu brilhantismo quando conseguimos aos poucos reunir as peças desse quebra-cabeça comportamental”. Eu digo uau, como esse crítico deve gostar mesmo de quebra cabeças comportamentais e de gritos de loucura....Os críticos do festival de Veneza, que deram-lhe o Leão de Ouro, com certeza pensam o mesmo. Eu só vi chatice sem fim.

Houve quem dissesse que o “Pombo” lembra os filmes do Monty Phyton com suas esquetes irônicas. Mas há muitas e enormes diferenças a apontar, e uma delas é que o Monty Phyton era formado pelos grandes e carismáticos atores e roteiristas Eric Idle, Graham Chapman, John Cleese, Michael Palin, Terry Jones e Terry Gilliam, enquanto que o “Pombo” não tem qualquer ator que valha o ingresso.

Outra diferença gritante entre os esquetes do "Pombo" e do Monty Phyton é a insuperável anarquia dos atores britânicos. Mesmo o seu nonsense abrigava sátiras ácidas à política e à sociedade britânica. A metalinguagem, enriquecida pelo talento dos roteiristas-atores, transcendia o banal e buscava o surreal. Os exemplos são tantos que não vale à pena mencionar. Os dvds da série televisiva Flying Circus estão disponíveis para qualquer comparação. E nem falo dos filmes como A Vida de Brian, Em Busca do Cálice Sagrado e O Sentido da Vida, o que já seria injustiça demais.

De volta ao "Pombo" Crítica à mesquinhez da vida, niilismo, humor negro? Ai que preguiça dessa gente...Há poucas coisas que se salvam, mas mesmo essas, alongam-se mais do que o necessário, cansando também, como o episódio (?) da invasão do bar pela cavalaria onde o diretor pretensamente almeja abordar, de uma só vez, uma crítica à guerra, ao absolutismo, ao genocídio, à escravidão e ao colonialismo. Pretensão tão grande torna a cena que poderia ser a menos pior do filme, a mais pretensiosa.

E há outras tão breves e tão chatas que parece que duram melancólicas horas. E eu pergunto onde está o mérito em se usar apenas e unicamente tomadas de câmera fixa e enquadramentos imóveis? Qual a originalidade disso? Talvez o fato de dispensar um operador de câmera. Os personagens, unidimensionais, têm os rostos previsivelmente pintados de branco, como verdadeiros clowns, uma vez que são meras caricaturas da solidão, da pobreza, da feiura, do desemprego, da velhice e da morte.

Parece que pega bem elogiar o “Pombo”, parece que demonstra que o espectador é aberto às formas não usuais de narrativa; que não é prisioneiro dos clichês hollywoodianos e que é fã do não convencional e do original. Quase não se verá críticas negativas a esse “Pombo” na imprensa. Na sala de cinema em que vi houve até aplausos no final.

Bem, tem um povo que aplaude por de sol não é mesmo? E se tem uma coisa mais previsível do que por do sol só mesmo as pessoas que os aplaudem.

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