Garota Exemplar, o mais novo filme do competente diretor norte-americano David Fincher, chegou às telas coberto de expectativas por ser uma adaptação do best seller homônimo e que, inclusive contou com a participação do seu próprio autor, Gillian Flynn, como roteirista na adaptação para as telas.
David Fincher tem atração por tipos problemáticos e anti-heróis, como se viu
nos seus personagens masculinos de Seven (Kevin Spacey e Brad Pitt) e Clube da
Luta (de novo Brad Pitt e Edward Norton), bem como adora mulheres fortes, como
a tenente Ripley (Sigourney Weaver) de Alien 3 e a hacker punk Lisbeth
Salander (Rooney Mara) de Millenium. Sem contar o casal machbethiano (Kevin
Spacey e Robin Wright) do excepcional House of Cards.
Pois Fincher está de volta com uma dessas mulheres “chave de cadeia” na pele de
Rosamund Pike (a ex-Bond Girl de Die Another Day), que interpreta a
insuportavelmente certinha Amy Dunne, a tal Garota Exemplar do título. Pois
essa mala loura sem alça simplesmente some da história no dia do seu
aniversário de casamento com o marido Nick, papel de Ben Affleck, dando início
ao calvário do pobre do Nick (será?) obrigado a lidar com as suspeitas de ter
matado a belíssima Amy. Ele é escolhido pela imprensa como o bode expiatório da
vez — e a mídia sabe muito bem como moer em pedacinhos seus “favoritos”. Nick
não tem a menor chance contra a tal “opinião pública” açulada pelas redes de
tv.
Então temos a chance de acompanhar em flashbacks a linda história de amor de
Nick e Amy que, pelo jeito, não é tão linda assim, já que sobram esqueletos
escondidos nos armários. E eles vão saindo aos poucos.
Afinal de contas Nick matou ou não matou Amy? Por que ele entra em tantas
contradições e não tem um álibi? Ele traía a devotada esposa? Ela era mesmo
devotada? São perguntas demais e é isso que prende o espectador. O diretor
lida, e bem, com todas essas questões, como aqueles malabaristas que tentam
manter todos os pratos girando sem deixar nenhum deles parar e cair.
Não sou muito fã dessas histórias sobre a comoção das massas mobilizadas pela
mídia contra ou a favor de alguém. Acho que é quase uma fórmula clichê e também
não me atrai essa coisa de filme querer passar uma “mensagem” sobre como a
mídia malvada usa uma pessoa. Aliás, depois de A Montanha dos Sete Abutres
(1951), de Billy Wilder com Kirk Douglas como o jornalista inescrupuloso, toda
representação da parcialidade da mídia é conto da carochinha.
Então, pulando a parte em que a mídia insufla o povo contra Nick, fica-se muito
limitado a contar mais sobre o filme pelo risco de spoiler. A gente deve tomar
cuidado com essas coisas depois daquele fã de Harry Potter, de 32 anos, de Ohio
(EUA) que cometeu suicídio após, sem querer, ouvir como seria o final do
6º filme da série.
Ainda bem que não estamos falando de Harry Potter. Garota Exemplar é um
legítimo thriller, com um belíssimo twist, que não vou ser besta de contar, e
que faz a gente perceber que está vendo praticamente um novo filme dentro do
filme. Isso é muito revigorante, pois as pessoas adoram ser surpreendidas,
mesmo que seja por uma visão sombria e praticamente subversiva da santificada
instituição do matrimônio.
Destaques: a trilha sonora de primeira, a cargo de Trent Reznor, do Nine Inch
Nails, que já trabalhou com Fincher em A Rede Social (e levou o Oscar pela
trilha daquele filme); a montagem perfeita, que consegue manter o clima se
suspense mesmo com o uso de flashbacks; a interpretação minimalista de Ben
Affleck, que cai como uma luva para o seu personagem pouco expressivo, exemplo
de que o menos é mais e, sem dúvida alguma, a louraça belzebu de Rosamund
Pike.
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