Quando eu tinha 8 anos de idade
desenvolvi um doença complicada chamada Coreia de Syndeham, conhecida
popularmente como dança-de-são-vito, moléstia causada por estreptococos oriundos de infecção das amígdalas. Foi um
dificílimo período da minha infância e perdurou até os 14 anos, quando
finalmente aprendi a andar de bicicleta e ter uma vida normal após doloroso
tratamento à base de injeções semanais de benzetacil por vários anos. Por conta
dos sintomas da doença, movimentos espasmódicos involuntários e irregulares com fases mais graves e outras
menos intensas, nunca pude jogar futebol ou praticar qualquer outro esporte na
infância. Muitas vezes tive que faltar à escola por dias quando a doença
atingia um pico e sequer me permitia andar. Comer, só com colher, pois com o garfo
eu me feria.
Bem, toda essa
introdução dramática é na verdade para tentar dar um retrato de como minha
família lidou com esse problema no interior da Bahia nos ano 70. Minha mãe
ficou devastada e buscou todo tipo de tratamento. Como sempre acontece nesses
casos, alguns a fizeram de boba com prescrições erradas como banhos de ervas
fedorentas e cirurgias espirituais. Nada disso foi muito complicado ou gerou
qualquer problema mais grave, mas a minha mãe sempre foi muito crédula, em
demasia até, e um dos médicos que ela procurou fez uma recomendação muito estranha.
Disse-lhe que eu só ficaria curado quando tivesse minha primeira relação sexual com
uma mulher.
Minha mãe não teve a
menor dúvida. Não importava se eu tinha apenas 8 anos, ela iria dar um jeito de arrumar uma mulher para eu transar. Ela não contou isso pra ninguém, nem
para meu pai, mas ficou atenta à primeira oportunidade, uma vez que não podia
simplesmente levar uma criança num puteiro.
A oportunidade surgiu
quando eu estava com 10 anos e ela ficou sabendo, não sei como, que a empregada
da vizinha já tinha transado com todos os filhos dos patrões. Logo ela ofereceu
um salário maior para a moça para levá-la para nossa casa. O objetivo era me
desvirginar o mais rápido possível e me curar com esse tratamento heterodoxo e alternativo.
Não sei se minha mãe orientou
a moça, mas ela me dava uma atenção muito especial, trocava minha roupa
e me dava banho. Bem, a situação foi ficando bem íntima e finalmente a natureza fez seu trabalho e a coisa
acabou acontecendo lá pelos meus 11 anos. Sem eu saber, minha mãe ia
coordenando tudo às escondidas. Meu irmão estava sempre de olho e contava a ela
tudo que via pelo buraco da fechadura do quarto da empregada.
Ainda bem que eu não
sabia dessa história na época pois certamente não teria reagido
bem e não sei quanto dinheiro eu haveria de gastar com psicanalista.
Até hoje minha mãe tem
certeza absoluta de que ela me fez um enorme favor me curando dessa doença
complicadíssima. As mais de 50 injeções de benzetacil não tiveram lá muita
participação no tratamento.
2 comments:
Impressionante relato; delicioso de ler e fértil pra se explorar em várias vertentes. Adorei.
Adorei, Luiz! Você é sempre sensacional. Beijos!
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