Símio idoso ou, mais popularmente, macaco velho, não é que de vez em quando ainda me deixo cair numa arapuca? É que tenho um olhar clínico para detectar filmes que me agradarão e outros que me decepcionarão. Desenvolvi uma técnica após centenas de horas em salas escuras de cinema, em sofás em frente a tevês e lendo críticas e teorias sobre cinema. Tudo isso ajuda a desenvolver o faro. Mas, de vez em quando, escapa alguma bobagem.
Desta vez a bomba foi o filme O Homem Mais Procurado do Mundo, no original: Codinome Geronimo, uma bobagem feita para a TV norte-americana e que conta, pessimamente, a história da investigação que levou à morte do terrorista saudita Bin Laden no seu esconderijo no Paquistão.
No programa Metrópolis, da Cultura, a apresentadora anunciou o filme com um sorriso mordaz: “Para quem quer se refestelar com o patriotismo alheio”. Já o crítico da Folha André Barcinski foi ao ponto certo escrevendo que o filme tem tom de trambique. Ele se pergunta como, com tantos filmes bons sem espaço nas salas de cinema, essa bomba consegue chegar aos cinemas brasileiros.
E ele deduz que a história da caçada a Bin Laden está em alta por conta do filme A Hora Mais Escura, indicado a cinco Oscars, trabalho da diretora Kathryn Bigelow (já vencedora do Oscar pela direção do filme Guerra ao Terror). Eu achava que ia ver A Hora Mais Escura, que só vai estrear em fevereiro, e por isso comprei o ingresso.
O filme se arrasta como um paquiderme e o diretor John Stockwell, que tem no currículo o ridículo filme filmado no Brasil, Turistas, usa um manjado recurso para tentar dar-lhe mais credibilidade ao misturar cenas reais com cenas de ficção, com longas e repetitivas sequências de treinamento dos soldados norte-americanos que irão matar Bin Laden: a tal da reiteração, que é considerado “crime” por qualquer estudante de roteiro. E mescla, ainda, cenas de discursos à tv do presidente Obama e declarações de Bin Laden com uma trama que falta muito para chegar a ser um triller. Assim, o filme economiza no orçamento, aproveitando imagens já gravadas e disfarça a falta de um bom roteiro.
O crítico de O Globo afirma: “Stockwell assinou um pacto com a burocracia num roteiro chapa branca, pró-intervencionismo”. O The Hollywood Repórter comenta: “Este é um filme que às vezes parece um documentário, às vezes lembra um docudrama cafona, e às vezes parece um filme mal montado, que pretende ser levado a sério” e, finalmente, o Variety diz: “Apesar de alguns momentos decentes, o filme mal consegue manter nossos olhos abertos”.
Como a repórter do Metrópolis insinuou, esse é um filme que chafurda no patriotismo mais chinfrim e rastaquera. Americanos devem adorar ver seus soldados defendendo as listras e estrelas, mas qual a pegada que isso tem para nós brasileiros?
André Barcinski compara o filme a um faroeste moderno, com os americanos no papel de mocinhos e nenhuma análise mais profunda. Eu acho que ainda falta muito para essa bomba chegar aos pés do pior western.
A pergunta que me faço é por que não li nenhuma dessas críticas antes de comprar o maldito ingresso e jogar meu tempo, meu dinheiro e alguns neurônios na lata do lixo?
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