Primeiro de tudo: eu não sabia que havia uma tradição
de balé na China. Depois: não sabia que durante os anos da Revolução Cultural
de Mao Tsé-Tung, os bailarinos tinham que seguir aquela cartilha
que os comunistas impunham às outras artes, como aqueles cartazes horrorosos de
realismo socialista do tempo de Mao e Stálin, valorizando o homem rude e
simples e a revolução comunista. Ingênuo, eu!
Salvou-me da ignorância
o cineasta australiano Bruce Beresford (de Conduzindo Miss Daisy) que com O Último
Dançarino de Mao demonstra uma direção de extrema sutileza e
sensibilidade, contando uma história de determinação e superação, além de nos
brindar com belíssimos números de balé. Um filme encantador que merece as lagrimas
que arranca. No cinema em que o vi, vários expectadores fungavam.
Impressionatemente o
filme é baseado em uma história real, adaptado do livro Adeus China: O Último
Bailarino de Mao, de Li Cunxin, e mostra a chegada do próprio Li nos Estados
Unidos nos anos 70 para estudar balé em Houston. Com bem dosados flashbacks, acompanhamos a infância
pobre de Li ao lado de vários irmãos em uma remota aldeia chinesa e vemos
quando ele é selecionado aos 11 anos para estudar em Pequim tornando-se em
seguida, a custa de muito sacrifício, bailarino da Academia de Dança
Oficial da China.
O filme tem uma
perfeita reconstituição de época, uma excelente direção de arte, números
musicais e coreografias de tirar o fôlego e os atores que fazem o papel de Li
em diversas etapas da sua história são excelentes tanto atuando quanto
dançando, o que deve ter dado um trabalhão para encontrar atores que façam tão
bem as duas artes.
Impossível não lembrar,
na parte em que o bailarino pede asilo nos Estados Unidos, de uma cena
belíssima do filme Retratos da Vida (Bolero), dirigido pelo francês Claude
Lelouch que mostra o ator e bailarino argentino Jorge Donn, interpretando o russo Sergei
Itovitch, também pedindo asilo
para fugir de um regime comunista e opressor: um da China de Mao, outro da
Rússia de Khrushchev.
Outro filme que não dá
para deixar de lembrar ao assistir ao Último Baiarino de Mao e que também trata
do tema balé, é o inglês Billie Elliot, que, sem apelar para o viés
caricatural, mostra toda a dificuldade que passa quem enfrenta essa vida ao
mesmo tempo bela, cansativa, desafiadora e mal compreendida, mas que, no final,
garante uma redenção arrebatadora.
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