10.4.12

O Último Dançarino de Mao

Primeiro de tudo: eu não sabia que havia uma tradição de balé na China. Depois: não sabia que durante os anos da Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung, os bailarinos tinham que seguir aquela cartilha que os comunistas impunham às outras artes, como aqueles cartazes horrorosos de realismo socialista do tempo de Mao e Stálin, valorizando o homem rude e simples e a revolução comunista. Ingênuo, eu!
Salvou-me da ignorância o cineasta australiano Bruce Beresford (de Conduzindo Miss Daisy) que com O Último Dançarino de Mao demonstra uma direção de extrema sutileza e sensibilidade, contando uma história de determinação e superação, além de nos brindar com belíssimos números de balé. Um filme encantador que merece as lagrimas que arranca. No cinema em que o vi, vários expectadores fungavam.
Impressionatemente o filme é baseado em uma história real, adaptado do livro Adeus China: O Último Bailarino de Mao, de Li Cunxin, e mostra a chegada do próprio Li nos Estados Unidos nos anos 70 para estudar balé em Houston. Com bem dosados flashbacks, acompanhamos a infância pobre de Li ao lado de vários irmãos em uma remota aldeia chinesa e vemos quando ele é selecionado aos 11 anos para estudar em Pequim tornando-se em seguida, a custa de muito sacrifício, bailarino da Academia de Dança Oficial da China.
O filme tem uma perfeita reconstituição de época, uma excelente direção de arte, números musicais e coreografias de tirar o fôlego e os atores que fazem o papel de Li em diversas etapas da sua história são excelentes tanto atuando quanto dançando, o que deve ter dado um trabalhão para encontrar atores que façam tão bem as duas artes.
Impossível não lembrar, na parte em que o bailarino pede asilo nos Estados Unidos, de uma cena belíssima do filme Retratos da Vida (Bolero), dirigido pelo francês Claude Lelouch que mostra o ator e bailarino argentino Jorge Donn, interpretando o russo Sergei Itovitch, também pedindo asilo para fugir de um regime comunista e opressor: um da China de Mao, outro da Rússia de Khrushchev.
Outro filme que não dá para deixar de lembrar ao assistir ao Último Baiarino de Mao e que também trata do tema balé, é o inglês Billie Elliot, que, sem apelar para o viés caricatural, mostra toda a dificuldade que passa quem enfrenta essa vida ao mesmo tempo bela, cansativa, desafiadora e mal compreendida, mas que, no final, garante uma redenção arrebatadora.

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