A fantástica série de livros Milenium, que deu origem a uma produção cinematográfica sueca, exibida no Brasil como uma brisa, com pouco público e pouca divulgação, talvez por ser sueca, agora, o mesmo filme: Os Homens que não Amavam as Mulheres, na versão em inglês: “The Girl with the Dragon Tattoo”, primeiro livro da trilogia, chega com a grife de Hollywood estampada e pode ser que tenha mais sucesso por aqui. Na bagagem carrega uma história de primeira, um diretor de mão cheia como David Fincher (Seven, Clube da Luta e A Rede Social) e um ator em franca ascensão: Daniel Craig (aqui sem os seus biquinhos habituais).
O filme está indicado a quatro Oscars.A série de livros já foi traduzida para mais de 40 idiomas e é um sucesso internacional com mais de 30 milhões de livros no mundo. O que é mais do que impressionante, pois são três livros totalizando 1.874 páginas.O papel mais vibrante do filme é o da hacker punk e bissexual Lisbeth Salander e ele foi parar nas mãos da atriz novata Rooney Mara (de A Rede Social) que se sai muito bem ao ponto de ter sido indicada ao último Globo de Ouro ao lado de veteranas como Meryl Streep e Glenn Close.
Não concordo com a opinião do crítico Thales de Menezes da Folha de São Paulo que diz que David Fincher melhora o livro que já era muito bom. Na verdade, como são duas linguagens narrativas diferentes (livro e filme), pode-se dizer que um é melhor ou pior do que o outro, mas nunca que um melhora o outro. Um filme não pode melhorar um livro. Nada pode, pois o livro é uma obra acabada e assim não pode ser melhorada ou piorada, não é como uma obra que está em construção ou que caiba reformas que a melhore.
Um dos pontos altos do filme é sua abertura espetacular. Nos meus muitos anos de cinéfilo não me lembro de uma abertura (enquanto aparecem os créditos) tão impactante e bem feita. Deveria haver um prêmio para a melhor abertura. Este filme levaria com louvor. Para quem leu os três livros ou viu o primeiro filme, esta versão é boa, mas não tem muito a acrescentar. O primeiro filme não era ruim, como diz o crítico da Folha chamando-o de “rascunho comparado à versão americana”. Tem gente que só valoriza o que vem de Hollywood.
Aliás, esse mesmo crítico acerta num ponto quando diz que a versão de Fincher perde para o original quando revela preocupação estética excessiva na brutal cena do estupro. A cena, na versão sueca, era crua e violenta. A americana, de tão plástica, parece mais uma cena de pornô soft.O filme americano muda o final do original. Para quem é fã da história de Stieg Larsson, fica um gosto meio amargo de um filme que tem um clímax e opta por terminar num anticlímax, com uma cena final chocha.
Os leitores da obra se apaixonam por Lisbeth apesar de ela levar a expressão anti-social ao seu paroxismo. Todos nós embarcamos na garupa da sua moto; nos angustiamos com as perseguições a que ela é submetida, exultamos quando ela consegue se vingar dos que a sacanearam e todos nos perguntamos se tudo valeu à pena, diante do seu sofrimento.
Essa crítica está parecendo mais literária que cinematográfica, mas isto é inevitável tratando de uma adaptação de um livro que é sucesso mundial. Aliás, deixo uma provocação. Cada volume (versão econômica) custa em torno de R$ 30,00 e encanta o leitor por semanas. Um ingresso de cinema custa em torno de R$ 10,00 e garante duas horas de encantamento.
Não dá pra ficar comparando né ?
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