4.9.10

Me engana que eu gosto


NÓS E A CRIATURA

Há uma máxima em Hollywood que diz: “Jamais alguém perdeu dinheiro por subestimar a inteligência da plateia”. Essa é, com certeza, uma daquelas verdades sagradas que deveriam ser gravadas em mármore, uma vez que a imensa maioria das pessoas é, por natureza, propensa ao escapismo quando se trata do entretenimento. O mundo é feito muito mais de gente disposta a gastar seu dinheiro num cd de pagode ou sertanejo do que num disco de música mais elaborada ou com menos créus e rebolations. Há dez parangolés para cada João Gilberto; quinze lacraias para cada Débora Colker; vinte Siricoticos para cada Hamlet.

A mesma lógica que se aplica ao mundo do entretenimento pode ser verificada no universo da propaganda política. Há uma avalanche de empulhação que, a crer no que dizem as pesquisas, as pessoas querem continuamente ser enganadas. É como se dissessem: “ok, trabalhei o dia todo, estou cansado, quero que você me dê a papinha na boca para eu não precisar mastigar; cedo-lhe meu raciocínio crítico em troca de alguns minutos de escapismo e enganação.
A infantilização das mentes das plateias e dos eleitores jamais atingiu tamanho grau de profissionalização. Ninguém jamais perdeu votos por subestimar a inteligência dos eleitores e isso se comprova quando o partido do governo e do presidente da República mais popular nestepaiz está prestes a eleger a sucessora. Não duvido de que o faça, como não duvido da capacidade infinita de que as coisas fiquem sempre pior e de que desçamos sempre um pouco mais abaixo do fundo. Paulo Mendes Campos disse, sabiamente: “Antigamente as coisas eram piores, mas depois foram piorando”.

Antes eram mensaleiros, aloprados, invasores de sigilo fiscal, aparelhadores do Estado, fabricantes de dossiês, portadores de dólares nas cuecas, depois se aliaram a Sarney, Collor, Renan, Jader Barbalho, ACM, Maluf, Garotinho...Tenho certeza: sempre se pode piorar mais.
Não existe vacina para este mal. É da natureza das pessoas buscar a banalidade e o auto-engano. O jeito é ver as coisas como se olha num microscópio uma placa de petri. É como uma grande experiência de caldo de cultura. Dá para usar tanto na Sociologia quanto na Patologia. Tanto na Psicanálise quanto na Publicidade. Sem falar na Criminalística.
Então tá combinado: somos todos netinhos de Dona Lindu, bebezões alimentados pelas bolsas famílias, resultado do cruzamento de um metalúrgico paternalista, populista e auto-indulgente com uma...como vou chamar a criatura? Mary Shelley não deu nome à sua, por que eu daria?
Somos todos filhotes de alguém que elogia o regime do Irã (que apedreja mulheres e mata os gays); aquele que compara os presos políticos de consciência em greve de fome em Cuba ao estupradores e assaltantes paulistas; que exalta a Venezuela do perigoso canastrão e censor da imprensa Chaves; que afaga ditadores, arrota arrogância, mente com a pureza dos inocentes ou com o cinismo dos canalhas. Mas, creia, as coisas sempre podem piorar mais.
Acho muito divertido quando converso com meus vários amigos petistas que defendem essa gente de estrelas vermelhas no lugar dos neurônios. Se eu prestar atenção posso ouvir as sinapses dos seus cérebros rangendo enquanto buscam argumentos sofistas ou retóricos ou quando fogem das questões mais espinhosas com contra-argumentos tão banais que só por amizade não encaro como agressões físicas à minha inteligência. São tão previsíveis quanto os cachorrinhos de Pavlov.

Na verdade, acho divertido nos primeiros minutos de conversa, mas logo fica cansativo e preocupante, pois eles não se indignam com quebras de sigilos fiscais ilegais e mentiras escancaradas, não se escandalizam, não se revoltam. Vibram e aceitam tudo. Na maior parte das vezes, evito esse assunto para preservar a amizade. São todos tão inteligentes, mas tão inocentes...

Um dia nós seremos todos Francenildos.

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