17.4.08

Culpa com Feriados Diferentes II


Como comenta Richard Dawkins, em seu livro "Deus um Delírio", às religiões são dados, pelos governos, privilégios que nenhuma outra organização recebe. Por exemplo: a melhor forma de ser dispensado do serviço militar em tempos de guerra é se dizer religioso. Um filósofo moralmente brilhante, com tese de doutorado sobre os males da guerra não conseguirá ser dispensado por motivos de consciência, mas quem disser que sua religião impede que se lute numa guerra é dispensado, mesmo que não possua uma gota de sangue pacifista.
Outro exemplo de privilégios dados à religião. Nos Estados Unidos, a Suprema Corte autorizou rituais religiosos envolvendo a ayauasca (no Brasil: Santo Daime ou União do Vegetal), planta que contém a droga alucinógena ilegal dimetiltriptamina. Para a justiça, os adeptos não precisam provar que a droga aumenta a compreensão. Basta que eles acreditem nisso e pronto! Usem à vontade. Por outro lado, a mesma corte proibiu pacientes de AIDS e câncer que usavam a maconha para fins medicinais de continuar o tratamento. Mesmo com receita médica e estudos científicos provando que a erva é eficiente contra os fortes enjôos, comuns nesses pacientes.

Todas as religiões são isentas de impostos. Qualquer culto é uma lavanderia de dinheiro sujo. Além disso, aos sacerdotes são dados poderes para ditar normas sobre reprodução e sexualidade, mesmo eles não sendo nem de longe especialistas no assunto. A Igreja Católica, por exemplo, proíbe o aborto e o preservativo (mesmo que seja para evitar a AIDS – nesse caso tornando-se é cúmplice da disseminação da epidemia), mas não são poucos os católicos que simplesmente vivem como querem. É o catolicismo bandejão, onde os “fiéis” pegam o que gostam e descartam o que é inadequado aos seus interesses. Uma bela fachada com o recheio da hipocrisia. Afinal o sujeito é católico ou não é, com todos os ônus e bônus de sê-lo.

Contam que Alfred Hitchcock, cineasta famoso pela arte de assustar pessoas, estava uma vez dirigindo seu carro na Suíça quando de repente apontou pela janela do automóvel e disse: “Essa é a cena mais aterrorizante que já vi”. Era um padre conversando com um menininho, a mão dele sobre o ombro do garoto. Hitchcock pôs a cabeça para fora do carro e gritou: “Fuja, menininho. Salve sua vida!”.

Seria interessante para qualquer católico se informar um pouco sobre a quantidade de dinheiro que sua igreja já gastou para indenizar as vítimas da pedofilia católica. Até hoje, em acordos judiciais, já foram pagos para vítimas de padres sodomitas mais de 1 bilhão de dólares! Se esse dinheiro tivesse vindo da própria igreja já seria um escândalo, mas é dinheiro dos próprios fiéis, dos dízimos, das contribuições e da isenção de impostos, neste caso todos pagam. Fiéis ou não.

Há centenas de casos documentados desse crime sob o manto da religião, mas um dos mais escandalosos talvez seja o que envolveu o cardeal católico de Boston, Bernard Law, que durante décadas escondeu inúmeros casos de padres pedófilos transferindo-os, seguidamente, de paróquias, tão logo as denúncias lhe chegavam, sem investigação ou punição, pelo contrário, premiando os padres pedófilos, colocando-os para cuidar de seminários com novos garotinhos (carne nova) para saciar sua pedofilia de batina. Após a imprensa divulgar e a promotoria americana abrir os processos, a Igreja fez, em 2002, um acordo milionário com 508 vítimas, pagou 660 milhões de dólares em indenizações e o cardeal Law, em vez de punido, foi promovido. Hoje ele é secretário especial do Papa. Para quem quiser saber mais sobre o fato recomendo o filme Por Trás da Fé, de 2005, no qual Christopher Plummer interpreta o cardeal Law.
Quem quiser ver outro filme sobre a “bondade” da Igreja Católica, recomendo Em Nome de Deus, de 2004 que mostra a vida terrível das internas dos Lares de Madalena, conventos católicos na Irlanda onde milhares de meninas pobres, órfãs ou retardadas trabalhavam sem descanso, sem pagamento e sob abusos físicos, sexuais e psicológicos. Somente em 1996 essa barbaridade acabou. Ou você pensava que eu estava falando de uma prática da Idade Média?

Uma das defesas que se faz da figura de Deus é dizer que as religiões não o representam, mas que ele é puro amor. Só se for um amor sadomasoquista. O comediante americano George Carlin brinca, mas de um modo no fundo muito sério, quando diz: “A religião convenceu as pessoas de que existe um homem invisível — que mora no céu — que observa tudo o que você faz. Ele tem uma lista de dez coisas que não quer que você faça. E se você fizer alguma dessas dez coisas ele o mandará para um lugar especial, cheio de fogo e fumaça, e de tortura e angústia, para que você sofra e queime e sufoque e grite e chore para sempre, até o fim dos tempos...Mas Ele ama você.”

Em seu livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo, o prêmio Nobel José Saramago faz um maravilhoso libelo contra Deus. Em suas mais de 400 páginas é difícil selecionar trecho mais brilhante. Selecionei parte de um diálogo fascinante entre Deus e Jesus. Ali o Pai insiste que o filho aceite a crucificação “Que tu o beba [esse cálice] é a condição do meu poder e da tua glória” Jesus diz: “Não quero essa glória”, ao que Deus retruca: “Mas eu quero esse poder”. Assistindo a tudo o Diabo comenta: “É preciso ser-se Deus para gostar tanto de sangue”.

Não resisto à comparação com a frase usada por um adversário do jacobino Marrat, um dos “reis do Terror” da Revolução Francesa: “Dêem um copo de sangue a este canibal que ele está com sede”.

Ainda em Saramago, o Diabo tenta uma barganha com Deus para poupar a vida de Cristo a quem se afeiçoara: ao que Deus responde indignado: “Quero-te pior do que és agora. Porque esse Bem que eu sou não existiria sem esse Mal que tu és. Um Bem que tivesse que existir sem ti seria inconcebível, a um tal ponto que nem eu posso imagina-lo, enfim, se tu acabas, eu acabo, para que eu seja o Bem, é necessário que tu continues a ser o Mal, se o Diabo não vive como o Diabo, Deus não vive como Deus”. Não podia dar em outra coisa. Prêmio Nobel na cabeça!

Há quem encare o livro de Saramago como intensamente simbólico, mas mera obra de ficção. Pode até ser, mas em seguida falarei sobre a maior peça de ficção de todos os tempos. O Antigo Testamento.

2 comments:

Anonymous said...

"Qualquer culto é uma lavanderia de dinheiro sujo..."

É quase que impossível saber que você que expressa-se tao bem ainda nao tenha aprendido que toda regra possui excessão! Todos os lugares possuem algo de errado, é inegavel, mas como voce mesmo citou nos ultimos paragrafos:

-Se nao houver algo certo como pode haver algo errado? Se existe errado é porquê existe certo.


"que você sofra e queime e sufoque e grite e chore para sempre, até o fim dos tempos...Mas Ele ama você."

Aqui é importante conhecer melhor antes, veja comigo: Voce ama alguem (é preciso já ter amado para entender o que quero dizer aqui), mas esse alguuém so lhe maltrata, voce continua amando, mas um hora cansa... os relacionamentos sao assim, espero que voce ja tenha tido algum para que possa compreender essa palavra.

Anonymous said...

Estude amigo... estude... texto sem fundamento é lixo virtual, passatempo de má qualidade.

Existem pessoas falsas e verdadeiras, e isso se aplica aos católicos, se você nao acredita em Deus porque lê tanto a bíblia? Nao estaria perdendo seu tempo? Dizemos mais, perdendo tempo sim, se for ler leia nao apenas passe os olhos!

Os preceitos da bíblia dizem o seguinte sobre o sexo: Este é um ato sagrado, é amor ao extremo sentido pelo marido e pela mulher.

O "sexo" não é um ato de apenas se reproduzir, a bíblia diz mais que isso, é ato sagrado, nao deve ser feito de qualquer maneira por ai apenas usando preservativo, deve-se ter amor, e até o que me consta, uma camisinha no casamento é permitido.

Sobre vida, nao vou entrar em mais delongas, é sagrada.