Quase larguei esse livro de Mário Vargas Llosa na metade. Cheguei a comunicar ao colega Dida Santiago, que me emprestou seu exemplar, que estava desistindo de lê-lo, pois o casal de protagonistas não me conquistara. Beiravam o desprezível e o livro me parecia uma cópia ruim do genial Servidão Humana de Somerset Maugham. Dida, levemente, insistiu. Argumentou que se eu era mesmo obcecado pelo sadomasoquismo deveria ir adiante.
No passado, sentia alguma culpa por largar livros na metade. Ia até o fim, mesmo que a história não me envolvesse, que a tradução fosse ruim, que o enredo fosse fraco. Hoje, não sinto culpa em largar, meio lidos, livros que não me agradam, quando vejo a infinidade de clássicos que ainda não tive tempo de ler. O tempo está contra mim e obras primas teimam em surgir sem esperar que eu antes leia os Kafkas, Borges, Calvinos, Faulkners, Tolstois...que me olham do alto das minhas prateleiras.
Mas a menina má finalmente me pegou em Londres. Quis abandoná-la em Lima e em Paris, mas acompanhei suas maldades. Senti um prazer sutil em ver as barbaridades que ela aprontava com o pobre diabo peruano Ricardo, mesmo detestando a vulgaridade e a vigarice da menina má, mesmo achando o bom mocismo do protagonista beirando o inverossímil, lembrei dos personagens de Servidão Humana, em que Philip se deixava humilhar e torturar pela intragável Mildred. Fui com o casal até o fim. Sábia decisão. Obrigado, Dida.
O bom menino e a menina má, em um mundo perfeito, jamais se encontrariam. Mas o mundo não é perfeito e talvez esse seja realmente o seu encanto. O que reservaria um mundo hostil para um bobo como Ricardo, um garoto sem ambições? Se bem que a única meta que ele tinha na vida fosse viver toda a vida em Paris...e ele realizou. Não é mesmo um grande feito? Mas o peruanito acabou mesmo foi tendo uma vida atribulada e amargurada pelas idas e vindas dessa vampira pragmática, dessa cascavel aventureira, dessa alpinista social de segunda. A única cor em sua vida cinzenta.
Acompanhei essa dupla improvável desde Lima nos anos 50, passando por uma Paris revolucionária nos 60, por uma Londres de drogas e amor livre nos anos 70, por uma Tókio sombria e mafiosa e, finalmente terminamos em uma multicultural Madri dos anos 80. Foram boas companhias e tiveram um final digno de um romance de Mario Vargas Llosa, um autor que me encantou desde o primeiro livro seu que li, há muitos anos: o fabuloso A Guerra do Fim do Mundo em que ele tratou, com incrível exuberância, da Guerra de Canudos.
Travessuras da menina má está há várias semanas nos primeiros lugares da lista dos livros mais vendidos. Pode ser comprado por R$ 26,00. Para quem não faz questão de qualidade, o cd de Ivete no Maracanã custa o mesmo preço. Na banca do pirata, Ivete sai por R$ 3,00. Travessuras, na mão do meu colega Dida, sai de graça e ainda mexe com o cérebro.
No passado, sentia alguma culpa por largar livros na metade. Ia até o fim, mesmo que a história não me envolvesse, que a tradução fosse ruim, que o enredo fosse fraco. Hoje, não sinto culpa em largar, meio lidos, livros que não me agradam, quando vejo a infinidade de clássicos que ainda não tive tempo de ler. O tempo está contra mim e obras primas teimam em surgir sem esperar que eu antes leia os Kafkas, Borges, Calvinos, Faulkners, Tolstois...que me olham do alto das minhas prateleiras.
Mas a menina má finalmente me pegou em Londres. Quis abandoná-la em Lima e em Paris, mas acompanhei suas maldades. Senti um prazer sutil em ver as barbaridades que ela aprontava com o pobre diabo peruano Ricardo, mesmo detestando a vulgaridade e a vigarice da menina má, mesmo achando o bom mocismo do protagonista beirando o inverossímil, lembrei dos personagens de Servidão Humana, em que Philip se deixava humilhar e torturar pela intragável Mildred. Fui com o casal até o fim. Sábia decisão. Obrigado, Dida.
O bom menino e a menina má, em um mundo perfeito, jamais se encontrariam. Mas o mundo não é perfeito e talvez esse seja realmente o seu encanto. O que reservaria um mundo hostil para um bobo como Ricardo, um garoto sem ambições? Se bem que a única meta que ele tinha na vida fosse viver toda a vida em Paris...e ele realizou. Não é mesmo um grande feito? Mas o peruanito acabou mesmo foi tendo uma vida atribulada e amargurada pelas idas e vindas dessa vampira pragmática, dessa cascavel aventureira, dessa alpinista social de segunda. A única cor em sua vida cinzenta.
Acompanhei essa dupla improvável desde Lima nos anos 50, passando por uma Paris revolucionária nos 60, por uma Londres de drogas e amor livre nos anos 70, por uma Tókio sombria e mafiosa e, finalmente terminamos em uma multicultural Madri dos anos 80. Foram boas companhias e tiveram um final digno de um romance de Mario Vargas Llosa, um autor que me encantou desde o primeiro livro seu que li, há muitos anos: o fabuloso A Guerra do Fim do Mundo em que ele tratou, com incrível exuberância, da Guerra de Canudos.
Travessuras da menina má está há várias semanas nos primeiros lugares da lista dos livros mais vendidos. Pode ser comprado por R$ 26,00. Para quem não faz questão de qualidade, o cd de Ivete no Maracanã custa o mesmo preço. Na banca do pirata, Ivete sai por R$ 3,00. Travessuras, na mão do meu colega Dida, sai de graça e ainda mexe com o cérebro.
1 comment:
Me dá o telefone do seu amigo Dida, please. rs rs
Parabéns pelo Blog e pela crítica. Se o objetivo era divulgar o livro, conseguiu. Segunda-feira vou procurá-lo na livraria.
Miguel Angelo
Post a Comment