5.11.25

49ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO

Há 23 anos bato ponto na maratona de filmes da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Este continua a ser, como todos os anos, o ponto alto das minhas férias.

Sempre compro passaporte para 40 filmes, o que continua a ser vantagem, já que, por R$ 440,00 pagos antecipadamente, acabo pagando o equivalente a R$ 11,00 por filme (caso assista aos 40) — menos do que o valor da meia-entrada durante a semana. É possível ainda reservar o filme com 5 dias de antecedência e evitar risco de ingressos esgotados, o que acontece muito com os mais concorridos.

A correria é grande, e muitas vezes o cansaço bate, impedindo que eu veja todos os filmes desejados. Este ano foram exibidos 350 filmes de 80 países, em 15 dias (mais os dias da repescagem) em mais de 50 salas. Houve mais de 20 produções brasileiras inéditas e dezenas de filmes premiados em festivais como Cannes, Berlim, Veneza, San Sebastian, Tribeca, Roterdam, Locarno, Sundance, entre outros.

Vi 30 filmes no total. No ano passado, vi 31 (perdi os outros por pura exaustão). Assim, acabei pagando R$ 15,60 por cada filme — uma pechincha. Este ano dei a sorte de ter assistido à maioria dos vencedores da Mostra, algo que normalmente não acontece, pois todo ano os premiados são justamente os filmes que acabei perdendo. Aqui está uma breve avaliação dos 30 filmes a que assisti ordenados por preferência. Triste, mas os três piores foram justamente três produções brasileiras.

DJ AHMET-Prêmio Especial do Juri da Mostra. O jovem pastor Ahmet tem 15 anos e vive numa distante e isolada aldeia muçulmana na Macedônia do Norte. Ele encontra refúgio na música, enquanto lida com as expectativas do pai, a doçura do irmãozinho, que o venera, a rigidez da comunidade conservadora e sua primeira experiência com o amor por uma jovem prometida a outro homem. Vencedor do Prêmio do Público e do Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance. Trilha sonora encantadora e atuação impecável do jovem ator Arif Jakup. O Hollywood Reporter elogiou as "atuações sólidas e naturalistas" do elenco, com atenção especial para Jakup, e afirmou que ele "tem uma qualidade elegante e agradável ao público. O filme critica de forma divertida certos costumes muçulmanos, mas nunca de maneira depreciativa.


THE PRESIDENT CAKE-Vencedor do Prêmio do Juri da Mostra de Melhor Filme. No Iraque dos anos 1990, em meio à guerra e à falta de comida, o presidente Saddam Hussein determina que todas as escolas do país façam um bolo em homenagem ao seu aniversário. Lamia, de apenas 9 anos, tenta escapar da tarefa, mas acaba sendo escolhida entre os colegas. A menina precisa recorrer à sua criatividade para conseguir os ingredientes e cumprir a missão de preparar o bolo imposto pelas autoridades. Vencedor do prêmio Caméra d’Or para melhor filme de diretor estreante em Cannes e do prêmio do público da Quinzena dos Cineastas, também em Cannes. Encantador e potente. 

FELIZ ANIVERSÁRIO-Filme egípcio em que a pequena protagonista ganhou o prêmio de melhor atuação dos filmes da Mostra. Ela é Toha, que trabalha como empregada doméstica e enfrenta contratempos para garantir que sua melhor amiga, filha de sua patroa, tenha uma festa de aniversário em troca de uma simples vela para fazer um pedido. Sem nunca ter celebrado o próprio aniversário, Toha assume a organização da festa e torna a celebração possível. Quando tentam impedir Toha de comparecer à festa, sua presença indesejada acaba revelando a outra face da família. Melhor filme, direção e roteiro internacional no Festival de Tribeca.

O AGENTE SECRETO-Excelente produção de Kleber Mendonça Filho. Filme premiado em Cannes pela direção e atuação de Wagner Moura. Em 1977, em Pernambuco, Marcelo é um especialista em tecnologia de pouco mais de 40 anos que está em rota de fuga. Ele chega ao Recife durante a semana do Carnaval para reencontrar o filho e descobre que está jurado de morte. Há tanto a se falar dessa película excepcional que nem ouso resumir em poucas linhas. O filme ainda fará uma belíssima e merecidíssima carreira internacional e ganhará ainda muitos prêmios. Mais um belo acerto do diretor pernambucano e do ator baiano.


FOI APENAS UM ACIDENTE-Um grupo de pessoas organiza um plano de vingança contra um homem que eles acreditam ser seu ex-torturador. Tudo começa quando um mecânico acredita que reconheceu seu torturador pelo som da perna protética que ele ainda ouve nos seus pesadelos. Determinado a se vingar, ele busca ajuda de outros prisioneiros para descobrir se o homem é mesmo o agente que o destruiu emocional e fisicamente. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes. O diretor e roteirista Jafar Panahi foi ovacionado pelas plateias que lotaram todas as sessões do filme na Mostra. Ele ficou anos proibido de deixar o Irã e já foi vencedor da Mostra em 1995. É o favorito para o próximo Oscar de filme internacional.

NO CAMINHO-Veneno é um jovem errante e rebelde que frequenta lanchonetes de beira de estrada e faz sexo pago com caminhoneiros. Precisando urgentemente de uma carona, ele conhece Muñeco, um motorista duro e reservado. Ele convence Muñeco a levá-lo para dentro do universo hiper-masculino das longas rotas de caminhão pelo norte do México. Porém, conforme a viagem avança e uma intimidade inesperada surge entre eles, questões do passado de Veneno reaparecem, colocando a vida dos dois em risco. Vencedor do prêmio de melhor filme da seção Horizontes e do Leão Queer no Festival de Veneza. O filme é bastante cru e ousado, com cenas explícitas de sexo sem qualquer traço de leveza ou sutileza. Espetacular.

WHITE SNOW-O jovem e idealista Amir tem seu curta proibido na remota região montanhosa da Caximira após a denúncia do líder religioso local. O grande “erro” foi mostrar o sangue depois do parto. Logo, Amir é preso sob a acusação de incitar agitação social. Sua mãe arrisca a própria vida determinada a realizar o sonho do filho: munida de uma pequena TV e um aparelho de DVD, parte rumo a aldeias distantes para exibir o filme. Resiliente, Fátima segue viagem, observando em silêncio a generosidade dos outros e as condições sociais e econômicas que encontra. O percurso exaustivo, as situações de desespero e os fracassos a destroem física e mentalmente. Até que um acontecimento inesperado e devastador a transforma e liberta.


A HISTÓRIA DO SOM-Um jovem e talentoso estudante de música, Lionel, em 1917, conhece David, um colega inglês num conservatório de Boston onde eles se aproximam pelo profundo amor que compartilham pela música folk popular. Ambos partem para uma viagem pelo interior do Maine para coletar canções folk tradicionais. Este encontro inesperado, o caso de amor que nasce dele e a música que coletam e preservam vão influenciar o curso da vida de Lionel muito além de sua própria consciência. Elenco de primeira com a dupla Paul Mescal (dos perfeitos Aftersun e Todos  Nós Desconhecidos) e Josh O’Connor (dos também maravilhosos Rivais e La Chimera). 

E MAIS ALGUÉM-Tommy é um jovem gay de 17 anos que passa o verão em um emprego entediante na marcenaria do pai. Sua vida se transforma repentinamente quando descobre mensagens sexuais trocadas entre o pai e outro homem por e-mail. Dividido entre a lealdade e a sinceridade, Tommy se vê diante de um dilema que ameaça destruir sua família. Com a crescente tensão e diversos segredos vindo à tona, ele é forçado a enfrentar verdades difíceis e a encarar uma nova e mais complexa visão sobre o amor e o compromisso. O diretor, de carisma e simpatia acachapantes estava na sessão em que assisti ao filme e exultava de emoção.  

SIRÂT-Pai e filho chegam a uma rave nas montanhas do Marrocos à procura da filha e irmã que desapareceu meses antes em uma dessas festas intermináveis. Cercados por música eletrônica e por uma sensação crua e desconhecida de liberdade, eles distribuem a foto da jovem na esperança de achá-la. Os dois seguem um grupo exótico de frequentadores rumo a uma última festa no deserto. Conforme avançam por esse cenário escaldante, a jornada os obriga a confrontar seus próprios limites. Vencedor do prêmio do júri no Festival de Cannes. O filme foi exibido juntamente com o curta-metragem "Como Fotografar um Fantasma" de Charlie Kaufman.

À PAISANA-Lucas é um jovem policial gay no armário que trabalha disfarçado num shopping para prender homens no banheiro por atentado ao pudor depois de seduzi-los até que conhece o padre casado Andrew (o belo ator britânico Russell Tovey, da série gay Looking). Esse vínculo secreto se intensifica enquanto a pressão da polícia para novas prisões aumenta, deixando Lucas dividido entre o dever e o desejo. Com o tempo se esgotando e o passado em seu encalço, a celebração de Ano-Novo em família vira um acerto de contas no qual tudo o que foi reprimido ameaça vir à tona. Vencedor do prêmio especial do júri para o elenco do filme do Festival de Sundance.

GARÇA AZUL-Na década de 1990, um casal com seus quatro filhos se muda para a Ilha de Vancouver, enquanto as dinâmicas internas vão sendo lentamente reveladas pelas experiências da filha caçula. Essa tentativa de recomeço da família é ameaçada pelo comportamento cada vez mais perigoso de Jeremy, o filho mais velho portador de uma condição mental semelhante a esquizofrenia. Vencedor do prêmio de melhor primeiro filme no Festival de Locarno e menção especial no Festival de San Sebastián. Quem já conviveu, como eu, com um parente com esquizofrenia entende perfeitamente bem o drama da família.

RIVERSTONE-Excelente filme do Sri Lanka mostrando como a polícia lida com suspeitos de terrorismo que são mortos sob custódia policial em suposta troca de tiros. O filme é um road movie em que três policiais transportam num carro um homem que será executado secretamente com promessas de possíveis promoções como incentivo. O filme discute as reflexões e preocupações dos policiais enquanto viajam para o assassinato de um suspeito com quem não têm absolutamente nenhum conflito pessoal. Vencedor dos prêmios de melhor roteiro e fotografia do Festival de Xangai.

RAINHA DO ALGODÃO-No Sudão, em uma vila de produtores de algodão, Nafisa é uma adolescente que cresceu ouvindo as histórias heróicas da luta contra os colonizadores britânicos, contadas por sua avó, matriarca do lugar. Com a chegada de um jovem empresário com um novo plano de desenvolvimento e algodão geneticamente modificado, Nafisa se vê no centro de um jogo de poder que determinará o futuro do local. Tomando consciência de sua própria força, ela tenta salvar os campos de algodão — e a si mesma —, em uma jornada que transformará para sempre sua vida e sua comunidade.

MASPALOMAS-Vicente, com 76 anos, assumiu sua homossexualidade e deixou esposa e filha aos 50, passando os últimos 25 anos feliz com seu companheiro em Maspalomas, nas Ilhas Canárias em uma série interminável de festas gays com muita orgia sexual em praias paradisíacas, mas quando sofre um derrame se depara com uma realidade inesperada: foi transferido para uma casa de repouso conservadora no País Basco. Ele decide não falar da sua orientação sexual e aos poucos retorna ao armário, renunciando a tudo que lutou tanto para conquistar. Vencedor do prêmio de melhor atuação, para José Ramón Soroiz, e do prêmio Sebastiane no Festival de San Sebastián.

UMA SEGUNDA VIDA- Elisabeth é uma americana com deficiência auditiva que vive em Paris e com o visto prestes a expirar e aceita um trabalho exaustivo como concierge de Airbnb para continuar na França. É então que conhece Elijah, um californiano de espírito livre. Contra a sua vontade, ela precisa atravessar Paris ao lado dele, justamente durante a complicada cerimônia de abertura das Olimpíadas. No elenco, o excelente ator britânico Alex Lawther, visto em ótimas atuações em O Jogo da Imitação e Black Mirror

ROSEMEAD-Numa corrida contra o tempo, uma mulher com câncer avançado vê seu mundo desmoronar ao descobrir as obsessões violentas de seu querido filho adolescente e ter que ir aos extremos para protegê-lo neste retrato de uma família sino-americana. Inspirado em fatos reais. Com a atriz Lucy Liu (Kill Bill e As Panteras) que vive o drama de estar próxima da morte, com o filho prestes a alcançar a maioridade e poder ser preso a qualquer momento sem qualquer parente para ajudar. Vencedor do prêmio do público no Festival de Locarno. 

URCHIN-Mike, um morador de rua em Londres, se vê preso em um ciclo de autodestruição enquanto tenta mudar de vida. Uma história crua e absurda sobre os estranhos padrões que nos impedem de seguir em frente. O filme retrata com crueza a vida dos viciados, ex-presidiários e desabrigados, bem como a boa qualidade do atendimento feito pelo sistema de seguro social britânico. Vencedor dos prêmios da crítica e de melhor ator, para Frank Dillane, na seção Um Certo Olhar do Festival de Cannes.

BLUE MOON-O lendário letrista gay Lorenz Hart, convivendo com uma crise criativa, está num bar de Nova Yorque enquanto seu antigo parceiro Richard Rodgers comemora a estreia triunfal de seu revolucionário musical “Oklahoma!”. Do diretor Richard Linklater, com seu ator fetiche Ethan Hawke (presente nos seus filmes Boyhood e a trilogia Antes do Amanhecer, Antes da Meia-Noite e Antes do Por do Sol). Vencedor do prêmio de melhor coadjuvante, para Andrew Scott (de Todos Nós Desconhecidos e Ripley) no Festival de Berlim. Só não gostei mais do filme pela sua excessiva verborragia, típico do diretor em todos os seus filmes, mas que aqui me incomodou um pouco talvez pelo cenário mais fechado.


CÃES-Um filme tipicamente argentino, o que sempre é sinal de qualidade de roteiro. Os Saldañas têm uma nova tarefa para aliviar o tédio do verão: cuidar da casa dos vizinhos que viajam de férias mas o desaparecimento do cachorro dos vizinhos desencadeia um confronto violento e de alta tensão psicológica entre essas duas famílias. Vencedor do prêmio de melhor atriz coadjuvante, para María Elena Pérez, no Festival de Cinema de Málaga.

SAUNA-Johan é um jovem que mantém todas as portas abertas quando se trata de amor e sexo. Ele é recepcionista em uma sauna gay de Copenhague, onde também vive encontros com os outros frequentadores. Ele aproveita sua sexualidade livremente em bares, festas e casos de uma só noite, mas quando conhece William, um homem trans, ele vivencia o amor. O relacionamento é colocado à prova, como costuma acontecer em uma sociedade com conceitos rígidos sobre gênero, amor e identidade. Imaginei que seria um filme que trataria da questão gay, mas fiquei bem impressionado sobre a relevância do debate sobre preconceitos entre gays e trans.

QUEERPANORAMA-Um jovem homem gay em Hong Kong se faz passar pelos diferentes homens com quem já fez sexo e leva essas novas personas para seus próximos encontros. Apenas fingindo ser outra pessoa ele consegue ser realmente ele mesmo. Achei muito interessante a questão da identidade e os diálogos em que os parceiros abordam suas experiências e expectativas pessoais. Uma boa história com ponto de vista criativo.

FRANKENSTEIN-Victor Frankenstein, cientista brilhante, dá vida a uma criatura em um experimento monstruoso que acaba levando à ruína tanto do criador quanto de sua trágica criação. Uma releitura do  clássico de Mary Shelley pelo diretor Guillermo del Toro. No elenco os atores Oscar Isaac, Christoph Waltz e Mia Goth. Inegavelmente, fotografia, figurino, desenho de som e cenografia são muito marcantes, mas não me agradou muito a opção do diretor de narrar o filme mesmo que seja uma boa ideia usar a versão do médico e da criatura mas ainda não vi necessidade de narração.

DRUNKEN NOODLES-Adnan, um jovem gay estudante de arte, chega a Nova York para cuidar de um apartamento durante o verão. Ele faz estágio em uma galeria que exibe a obra de um artista mais velho e pouco convencional que conheceu há algum tempo. Enquanto momentos do presente e do passado começam a se entrelaçar, uma série de encontros — tanto artísticos quanto eróticos — desestabilizam a realidade de seu cotidiano.

BUGONIA-Dois jovens obcecados por teorias da conspiração sequestram a poderosa CEO de uma grande empresa, convencidos de que ela é uma alienígena com a intenção de destruir o planeta Terra. Mais um filme do não convencional diretor grego Yorgos Lanthimos. Talvez este seja o filme menos estranho do diretor de Pobres Criaturas, A Favorita, O Lagosta, Tipos de Gentileza e O Sacrifício do Cervo Sagrado. Gostei mais da interpretação de Jesse Plemons do que Emma Stone. Não gostei tanto deste filme.

CIDADE SEM SONHO -Uma história sobre ciganos me atraiu para o filme por não ser algo que se vê frequentemente. Toni é um cigano de 15 anos que vive no maior assentamento irregular da Europa, nos arredores de Madri. Orgulhoso de pertencer à sua família de sucateiros, ele acompanha o avô por todos os lados. Mas, à medida que as demolições se aproximam do terreno onde moram, e com o avô disposto a tudo para permanecer ali, Toni terá de decidir o que deixar para trás e o que sacrificar. Vencedor de melhor roteiro na Semana da Crítica do Festival de Cannes.


DRACULA-Longuíssimo filme de quase 3 horas da Romênia. Uma mistura de histórias do passado e presente sobre o mito de Drácula: uma caça a vampiros, zumbis e Drácula interrompendo uma greve, um conto de ficção científica sobre o retorno de Vlad, o Empalador, uma adaptação da primeira novela romena sobre vampiros, um romance trágico, um conto popular vulgar, histórias kitsch geradas por inteligência artificial. Achei longo e chato com exagerado e fraco uso da IA. Primeiro filme romeno de que não gosto.

ATO NOTURNO-Um ator ambicioso e um político em ascensão vivem um caso gay em sigilo e descobrem ter fetiche por sexo em lugares públicos. À medida que se aproximam da fama, mais intenso se torna o desejo de se colocarem em risco. Filipe Matzembacher, Marcio Reolon são os diretores e estavam na sessão a que assisti ao filme. Já havia visto os filmes anteriores da dupla gaúcha (Tinta Bruta e Beira-Mar) sempre abordando o universo gay mas achei que a premissa dessa filme foi muito forçada.

RUAS DA GLÓRIA-Gabriel, um professor gay se muda de Recife para o Rio após a morte da avó querida. Assim que chega na cidade, se apaixona por Adriano, um misterioso garoto de programa uruguaio. Ele também faz novos amigos: uma mulher trans, dona de uma boate gay e sua trupe. Quando Adriano some, Gabriel começa uma jornada de investigação que o faz adentrar cada vez mais o mundo dos garotos de programa e da vida noturna das ruas da Glória. Inicialmente, achei a coreografia dos encontros sexuais muito boa, mas aos poucos foi se tornado repetitiva.

AURORA 15-Uma tentativa canhestra de fazer um filme brasileiro de terror. Praticamente todos os que vi do gênero falham miseravelmente. Um jovem casal prestes a assinar o contrato da casa dos sonhos recebe a invasão do local por um velho e sua filha adolescente seguidos de dois homens buscando matar a moça antes que anoiteça. Logo a noite logo chega e a menina já não possui mais a forma humana. Elenco global: Carolina Diecknann, Humberto Carrão, Juliano Cazarré, Marjorie Estiano e Milhem Cortaz. Não entendo como um filme tão ridículo consegue ter Rodrigo Teixeira da RT Features como produtor.


30.9.25

21 LIVROS LIDOS DE JUNHO A SETEMBRO DE 2025

Há 7 anos, publico breves resenhas dos livros lidos e divido as postagens em três blocos. Aqui estão os 21 lidos de Junho a Setembro deste ano.  Foram livros de 16 autores homens e 5 autoras mulheres. 12 físicos e 9 digitais. Se tivesse que comprar todos eles na Amazon, custariam R$ 1.214,00 mas como só paguei pelos físicos, tendo baixado os demais na internet, economizei R$ 433,00. 

Já havia publicado a lista dos 22 lidos de Janeiro a Maio.  

21- HELIOGÁBALO - Texto teatral de Jean Genet de 1942 que por muito tempo foi considerado perdido, mas que recentemente foi descoberto numa biblioteca nos Estados Unidos. Lançada há pouquíssimo tempo, retrata ficcionalmente a história do curto período do imperador romano adolescente Heliogábalo (de 218 a 222). O palácio imperial vira um palco de poder, traição e assassinato. Não é preciso conhecer a história dos imperadores romanos para embarcar na decadência do poder: Esse trecho exclamado da boca do próprio Heliogábalo é excepcional:  “Sou o filho da noite. Nascido da noite grávida pela verga monstruosa de um criador de porcos judeu, quem sabe. E eis a maravilha: eu, pequeno plebeu sem nobreza, eu, o selvagem, eu, o obscuro, nascido da coxa de um zé-ninguém, justo eu fui escolhido para ser o sucessor dos imperadores romanos” Heliogábalo foi morto juntamente com sua mãe após um reinado repleto de escândalos, crimes e devassidão.  Todos os elementos caros ao autor Jean Genet de quem só havia lido Querelle, adaptado para o cinema por Rainer Werner Fassbinder.

20- A SENHORA DAS ÁGUAS- Terceiro livro que li da autora inglesa Philippa Gregory parte da série de seis volumes sobre A Guerra das Rosas, em que a autora foca nas figuras femininas ligadas à monarquia inglesa da Idade Média. Dessa vez, a narradora é Jacquetta de Luxemburgo, descendente da deusa das águas Melusina e com capacidade de prever o futuro. Estamos no auge da Guerra dos Cem Anos, com a Inglaterra lutando pelos seus territórios conquistados na França. Após assistir à morte de Joana D’arc, feita prisioneira por seu tio, Jacquetta se casa e logo enviúva do poderoso duque de Bedford, tio do fraco e adolescente rei da dinastia Lancaster Henrique VI. Casa-se novamente, desta vez por amor, com o escudeiro do ex-marido, tem doze filhos, participa de diversas batalhas e assiste à filha Elizabeth casar-se com o novo rei York Eduardo VI.

19 – CARTAS A UM JOVEM POETA – O primeiro contato que tive com a escrita do tcheco Rainer Maria Rilke, um dos principais poetas do século XX. Este livro, xodó e unanimidade, trás dez cartas trocadas pelo jovem Franz Kappus, poeta indeciso entre a carreira literária e a militar com Rilke. Após a morte do autor, as correspondências foram compiladas nesse livro belíssimo que merece ser lido e relido infinitas vezes de tão belas as suas mensagens. É uma pena que a obra de Rilke não seja mais reconhecida atualmente como merece.


18- O FANTASMA – Quinto livro que li do escritor inglês Robert Harris após a trilogia de Cícero e o excelente O Conclave, recentemente adaptado com sucesso para o cinema. Esse também foi adaptado para o cinema em 2010 por Roman Polanski, com Ewan McGregor e Pierce Brosnan nos papéis de um ghostwriter e do seu biografado ex-primeiro-ministro britânico. Apesar de o filme ter recebido diversos prêmios como o urso de prata, em Berlim, e o Cesar francês para Polanski, e apesar de eu gostar muito do estilo de escrita do autor, achei o livro muito ruim e irritante. A história é muito fraca sobre um ex-primeiro ministro suspeito de envolvimento com sequestro e tortura.

17 - A EMPREGADA – Primeiro livro que li da autora Freida McFadden e que faz parte de uma trilogia de extremo sucesso, sendo campeã de vendas no mundo. O livro nem é tão bom e a escrita tem vários problemas, mas mesmo assim é um daqueles prazeres culpados, ou guilty pleasures, pois não dá pra largar de tão envolvente que é a história. Tem furos?  Tem. Tem uma linguagem ligeira e rasinha? Tem. Mas a história é boa e um passatempo tranquilo. Uma ex-presidiária em liberdade condicional vai trabalhar numa mansão em que um casal e uma filha não são certinhos demais para ser verdade. Uma história cheia de reviravoltas. O livro ficou 74 semanas consecutivas entre os primeiros do The New York Time.

16- THE WALKING DEAD- A QUEDA DO GOVERNADOR-PARTE 1- Terceiro volume da série de Jay Bonansinga e Robert Kirkman e que arrebatou fãs pelo mundo após a adaptação para a Netflix. Li o volume 3 achando que era o primeiro. Não sei como não percebi esse erro até porque já tinha assistido à série. Agora preciso ler o volumes 1 e 2. O ritmo é muito bom e prende a atenção. Detalhe para o último capítulo e para o embate violentíssimo e altamente satisfatório entre Michonne e o Governador. Aliás, o personagem do Governador foi eleito um dos piores vilões da literatura, mas o ator David Morrissey, da série, pode ser escolhido como o ator mais canastrão e caricato da história. Não entendo como alguém não percebeu a total falta de carisma desse ator para representar um vilão tão glorioso, o que já tinha ficado claríssimo no seu péssimo desempenho no filme Instinto Selvagem 2 de 2006.

15- O ETERNO MARIDO – 12º livro que li do mestre do romance russo Fiódor Dostoievski. Caí na besteira de comprar o e-book por R$ 1,99. Poderia ter comprado  outra edição digital por até R$ 30,00 ou uma edição física por até R$ 50,00 e justamente por isso acabei lendo uma edição ruim cuja tradução é para o português de Portugal. Apesar de a história ser ótima, como acontece com tudo de Dostoiévsky, é impossível não se estressar com a tradução. História do reencontro, após 9 anos, de dois homens, um deles, o viúvo e "eterno marido", e o outro o ex-amante da falecida. Aqui, encontramos todos os personagens típicos do universo do autor: o homem trágico, as doenças, o homem mau, os bêbados, a criança que sofre e as pessoas bem intencionadas.  

14- HISTÓRIA DO MEDO NO OCIDENTE – Primeiro livro que li de Jean Delumeau, historiador francês especialista em estudos sobre a história do Cristianismo, premiado pelos estudos do Renascimento e professor de História das Mentalidades Religiosas.  Aqui, o autor escreve um precioso tratado com quase 700 páginas que podem ser desfrutadas com imenso prazer a partir do que chama de a menos heróica das paixões humanas apontando os pesadelos mais íntimos da civilização ocidental do século XIV ao XVIII - o mar, os mortos, as trevas, a peste, a fome, a bruxaria, o Apocalipse, Satã e seu agentes (o judeu, a mulher, o muçulmano). 

13- OS PROFETAS – Primeiro livro que li de Robert Jones Jr, escritor negro e homossexual norte americano. História extremamente bem escrita, ao mesmo tempo brutal, sensível e amarga, que se passa no Mississipi no período da escravidão.  Os jovens escravizados Isaiah e Samuel vivem em uma plantação de algodão e mesmo em meio a toda a humilhação, sofrimento e trabalhos extenuantes, se amam profundamente. A relação não causa transtorno entre os demais escravizados que, por força da ancestralidade, veem o amor entre dois homens com naturalidade, porém esse afeto causa desconforto entre os donos da fazenda e perseguição de Amos, escravizado mais velho, convertido ao cristianismo, que busca vantagens com a pregação do Evangelho. Lendo o livro, é impossível não enxergar ecos dos espetaculares James Baldwin e Toni Morrison, assumidas influências literárias para o autor. 

12- CINZAS DO NORTE – Quinto livro que li do amazonense Milton Hatoum que como em todas as obras anteriores, se passa em Manaus com todo o seu fascínio. Aqui, temos a história dos amigos Olavo e Raimundo cuja amizade durará toda a vida.  Olavo é pobre e criado por um casal de tios e que vivem à sombra da rica família Mattoso. Raimundo Mattoso é o amigo rico que deseja ser pintor, mas cujo pai burguês deseja que ele siga o caminho do comércio da família.  Tendo como pano de fundo o regime militar, os amigos vão seguir rumos opostos, mas nunca deixarão de manter o afeto.

11- AO CAIR DA NOITE – Esse foi o 50º livro que li do mestre do terror Stephen King.  São 13 contos com comentários do autor sobre a inspiração para cada história. Aqui estão alguns: A Corredora é uma mulher perseguida por um psicopata em uma praia quase deserta. Posto de Parada tem um homem dividido sobre como agir diante da briga de um casal. Mudo tem um vendedor que dá carona para um homem silencioso, sem saber que ele escuta bem até demais; N é homem com transtorno obsessivo-compulsivo diante de um misterioso círculo de pedras. Wila é uma comovente história de pessoas que não percebem que estão mortas. O Gato dos Infernos mostra o quanto King é mestre em retratar animais perigosos. No Maior Aperto é uma das histórias mais nojentas que já li e que tem um homem preso num banheiro químico. 

10- UM CONTO DE DUAS CIDADES – Terceiro livro que li de Charles Dickens. O segundo livro de ficção mais vendido da história, só perdendo para Dom Quixote. A história se passa no período da Revolução Francesa. Quando o livro começa temos o Dr. Manette, libertado da Bastilha após 18 anos preso, e diversos personagens característicos do romance folhetinesco. Esse livro aquela que é considerada por muitos como a melhor de toadas as aberturas de romance da Literatura: “Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; a era da sabedoria, a era da tolice; a época da crença, a época da incredulidade; a estação da Luz, a estação das Trevas; a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós; íamos todos direto para o Céu, íamos todos para o lado oposto – em suma, era um período tão semelhante ao atual, que algumas de suas autoridades mais barulhentas insistiam que fosse recebido, para o bem ou para o mal, apenas no grau superlativo de comparação.”

9- O FANTASMA DA ÓPERA – Primeiro livro que li de Gaston Leroux. A história clássica de terror gótico conhecida por todos pelo filme e pelo musical famoso. Publicado originalmente em 1909 conta a história de um suposto fantasma que habita os porões da Ópera de Paris criando mil problemas para os funcionários e artistas até que ele se apaixona pela cantora Christine Daaé. O triângulo amoroso trágico se forma quando é cortejada pelo jovem e belo visconde Raoul de Chagny.  A edição de luxo e de capa dura que li acompanha pôster e conteúdo extra.



8- OS CEM MELHORES POEMAS DO SECULO XX -  Após a antologia dos Cem Melhores Contos do Século, temos de volta o professor Ítalo Moriconi reunindo os versos mais importantes da literatura brasileira com poemas de autores como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Oswald de Andrade, Vinícius de Moraes, Mário de Andrade, Ferreira Gullar, Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, Antonio Cícero, Adélia Prado, João Cabral de Melo Neto, Augusto dos Anjos, Augusto e Haroldo de Campos, Paulo Leminski e muitos Outros.
7- CAFÉ PRETO – Mais uma obra da insubstituível dama do crime Agatha Christie. Temos aqui novamente o detetive belga Hercule Poirot convocado por um famoso cientista inglês que teme que sua fórmula secreta seja roubada, mas Poirot chega tarde demais e seu cliente acaba de ser morto e sua preciosa fórmula está desaparecida. Todos os ocupantes casa são suspeitos, como sempre ocorre nos livros da autora mas sabemos que no final tudo será desvendado por Poirot. Um detalhe curioso é que a obra originalmente foi escrita para o teatro e o biógrafo de Agatha Christie a transformou em um romance, mas percebe-se a estrutura teatral subjacente.

6- A FEITICEIRA DE FLORENÇA – 12º livro que li de um dos meus escritores favoritos: Salman Rushdie. História que faz várias idas e vindas no tempo envolvendo a Florença renascentista e a Pérsia do imperador Akbar, o Grande em 1514. Com o texto repleto de realismo fantástico típico das obras de Rushdie temos uma miríade de personagens como o italiano Nicolau Machiavel. O xá Argalia conhece a belíssima Qara Köz,  feiticeira de Florença, ex-amante do soberano e a história da feiticeira é contada ao imperador mongol Akbar, o Grande, por um atrevido forasteiro que passa por Istambul até a Florença dos Médicis e vai até a América recém descoberta.

5- FACA – 13º livro que li do autor de romances policiais norueguês Jo Nesbo e mais um mistério a ser desvendado pelo trágico e genial detetive alcoólatra Harry Hole. Quando uma mulher é encontrada morta em casa, Harry acorda embriagado e com as mãos sujas de sangue sem recordar nada da noite anterior. Svein Finne, serial killer preso por Harry, está de volta à cena e aparentemente o crime tem sua assinatura. Aos poucos, Harry recupera a memória da noite do crime e se convence de que ele mesmo pode ser o assassino. Como nos livros anteriores, um suspense cheio de reviravoltas e com uma lista de suspeitos que cresce sem parar. Esse pode ser o caso mais difícil de Harry Hole.

4- TODA POESIA – Aqui está um improvável sucesso de vendas que surpreendeu o mundo editorial. Todos os livros de poesias do curitibano Paulo Leminski reunidos desde os primeiros dos anos 1970, da chamada “geração mimeógrafo”.


3- POEMAS – Sou completamente apaixonado pelos poemas da polonesa Wislawa Szymborska, prêmio Nobel de Literatura. Ela escreveu pouco na vida, cerca de 250 poemas apenas, mas todos extremamente impactantes e facilmente reconhecíveis no estilo próprio. Essa coletânea tem 44 poemas e excelente prefácio e tradução de Regina Przybycien. Obras primas como: O terrorista, ele observa, A Mulher de Lot, Um Grande Número, Vietnã e O Quarto do Suicida.




2- A COR PÚRPURA – Primeiro livro que li de Alice Walker, ganhadora dos prestigiados prêmios Pulitzer e American Book Award e que baseou a obra-prima do cinema dirigida por Steven Spielberg além de um aclamado musical da Broadway. Ambientado no Sul dos Estados Unidos, entre 1900 e 1940, aqui temos a história de Celie, negra e semianalfabeta, estuprada pelo padrasto, forçada a se casar com um viúvo violento que lhe causava constantes abusos físicos e morais. Por 30 anos, Celie escreve cartas para Deus, mas quando ela crê que sua única e querida irmã Nettie foi morta, o estilo da escrita de Celie muda sem saber que a sua irmã é missionária na África. Eleito pela BBC um dos 100 romances que definem o mundo.

1- O LEOPARDO – Primeiro livro que li do italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa e seu único romance. Publicado em 1958 após ser recusado por diversas editoras até finalmente ser um dos livros mais lidos da Itália, o autor nos leva até anos 1860 no período do Risorgimento, quando os divididos estados italianos travam uma guerra sangrenta que resultou na unificação do país como vemos hoje. Acompanhamos a história de Dom Fabrizio Salina e sua decadente família aristocrática siciliana que sofrem com as ameaças das forças revolucionárias e democráticas. Ele tem que decidir de que lado vai ficar na nova ordem. Adaptado para o cinema por Luchino Visconti e ganhador da Palma de Ouro em 1963.