Enfrentei uma das jornadas mais
violentas, na verdade a mais sangrenta que já encarei num livro, acompanhando
por quase 400 páginas a trajetória de um órfão de 14 anos (identificado no
livro apenas como Kid) que foge de casa e, após inúmeros transtornos, adere ao
grupo do violentíssimo caçador de índios John Joel Glanton, personagem histórico
real que no século XIX era pago pelo governo para matar e escalpelar índios. A
partir de certo ponto, os assassinos não fazem mais diferença entre índios e
brancos e o número de escalpos cresce geometricamente.
O caminho dos personagens pela
fronteira Oeste dos EUA e o México é descrito com muitos detalhes pelo autor,
levando-nos a mergulhar naquele ambiente desértico que se assemelha a um
inferno na terra, com direito à companhia de um dos personagens mais
enigmáticos e asquerosos de toda a literatura mundial: o albino juiz Holden,
uma espécie de representação pura do mal.
Se existe um demônio na
literatura, o juiz Holden foi seu professor, um homem perigoso, com quase dois metros de altura, fortíssimo, inteligentíssimo, poliglota, sem
um único pelo no corpo e capaz de matar cãezinhos ou estuprar crianças sem
piscar um olho.
Se algum leitor se assustou com
as mentes distorcidas de personagens como o Capitão Ahab, de Moby Dick de
Herman Melville ou o Coronel Kurtz de Coração das Trevas, de Joseph Conrad,
deve multiplicar isso ao infinito para chegar perto do juiz Holden para quem
“Tudo que na criação existe sem meu conhecimento existe sem meu consentimento”
e “A lei moral é uma invenção da humanidade para destituir de seus direitos os
fortes em favor dos fracos”.
O livro é difícil, não pela sua
linguagem que é linear, mas que pode ser estranha a princípio, mas o leitor
logo se acostuma com a estrutura de diálogos diretos e sem travessões ou aspas
para indicar a interlocução e que lembra o estilo de José Saramago. A real
dificuldade está em encarar cenas de violência extremamente gráficas e de uma
brutalidade atroz.
Engana-se, entretanto, quem pensa
que a violência do livro é gratuita. Muito forte, sim, mas jamais gratuita.
Estamos no meio de homens capazes de tudo, embrutecidos pelo ambiente hostil em
que vivem ou sobrevivem, sem qualquer resquício de humanidade ou empatia,
enfronhados na sede e fome; na seca ou na lama; no frio e calor extremos. Matar
e morrer são meros detalhes.
Mesmo com a violência gráfica e
descrição de massacres, o livro consegue alternar momentos do lirismo mais
puro. E consegue também um misto das duas coisas, como na passagem: “Cavalgaram
pela estrada norte como qualquer grupo com destino a El Paso, mas antes até que
chegassem a sumir de vista da cidade desviaram suas montarias trágicas para o
oeste e seguiram insensatos e meio desatinados em direção ao término vermelho
daquele dia, em direção às terras crepusculares e ao distante pandemônio do
sol”.
1 comment:
Bom resumo. Quem curte o gênero vai sair correndo para livrarias físicas ou de internet. Para mim, boa dica do que não ler...rs
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