3.11.19

18 ANOS NA MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO


Mais um ano bati meu ponto na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo que neste ano teve a sua 43ª edição.

Em um ano marcado por problemas de financiamento cultural e um crescente empobrecimento das artes no país vítima de um governo estúpido e ignorante, a Mostra pela primeira vez não teve o patrocínio da Petrobrás, sua parceira histórica. Mas nem por isso os cinéfilos ficaram a ver navios.

Com mais de 320 filmes, o mesmo dos anos anteriores e mais de 1.100 sessões em 27 salas diferentes, houve filme para todos os gostos. Este ano, tive sorte de ver na maioria das minhas escolhas, filmes acima da média.

Comprei outra vez o passaporte de 40 ingressos que custou o mesmo do ano passado. Por R$ 374,00 cada filme custou menos de R$ 10,00. Muito abaixo do valor de uma meia-entrada. No final, acabei assistindo a 44 filmes mas quatro deles foram convites que ganhei da Central da Mostra.

Todo ano eu encontro as mesmas pessoas de tanto que frequentamos as Mostras. Tem gente de todo lugar, cariocas, mineiros, paulistas, nordestinos de todos os estados, é uma confraria mas fica chato quando a gente fica se batendo com a mesma pessoa em todo filme e a pessoa insiste em dizer quais os seus favoritos e irrita porque às vezes a gente não viu o filme ou não gostou do tal filme que o outro adorou.  

Como quase sempre acontece, os filmes premiados ou eu não assisti porque não eram do meu interesse na hora da seleção, ou porque eu não concordo com a premiação. O queridinho da Mostra este ano ganhou o prêmio do júri de documentário e também o prêmio da crítica de melhor filme internacional: Honneyland. Acho justa a premiação, mas o prêmio do júri de ficção para Dente de Leite não me pareceu justo. Vi filmes melhores.  

O prêmio do júri de melhor ficção para novos diretores ficou para System Crasher, um filme que vi ser muito elogiado nas filas, mas que não consegui encaixar na minha programação.

O mesmo aconteceu com o filme Parasita, que ganhou o prêmio do público para melhor ficção internacional.

Os dois prêmios do público de melhor documentário brasileiro, melhor filme de ficção brasileiro e melhor filme de ficção internacional foram respectivamente para Chorão: Marginal Alado, Pacificado e A Grande Muralha Verde, filmes com temáticas que estão anos luz distante da minha preferência.

 Aqui estão os meus filmes por ordem de favoritos:





O PÁSSARO PINTADO – O melhor filme que vi na Mostra. Uma produção da Ucrânia. Espetacular. Acompanha as desventuras de um menino judeu durante a 2ª Guerra Mundial. Perseguidos pelos nazistas, seus pais o deixam com uma tia que morre e o garoto é obrigado a sobreviver sozinho. Ele vaga pelo interior, por aldeias e fazendas e no caminho, encontra várias pessoas e sofre com a brutalidade de camponeses supersticiosos e testemunha a violência de soldados russos e alemães. Um filme belíssimo, tocante e muito violento com uma interpretação excepcional do garoto e participações luxuosas de atores como Udo Kier, Stellan Skarsgård, Harvey Keitel, Julian Sands em algumas pontas.


SIBYL – Produção francesa e belga conta a história de Sibyl, uma psicóloga que deseja ser escritora. Decidida a realizar seu sonho, ela dispensa alguns pacientes para ter mais tempo livre. Mas a inspiração não vem. Até que ela conhece uma nova paciente, Margot, jovem atriz que se prepara para gravar um filme. A vida de Margot é tão interessante que Sibyl decide usar seus relatos como inspiração para uma obra de ficção. Logo, o filme de Margot e o livro de Sibyl, perigosamente, começam a se misturar com o passado e o presente das mulheres. Várias cenas são filmadas na ilha vulcânica italiana de Stromboli, cenário também do filme clássico homônimo de Roberto Rosselini, de 1950, com Ingrid Bergman.


LABIRINTO- Um brilhante filme iraniano. Espetacular. Uma história de suspense cheia de reviravoltas e tramas dentro de tramas dentro de outras tramas. Começa com uma criança desaparecida, um casal que está prestes a emigrar do Irã, uma investigação policial, intrigas e farsas. A família é cheia de segredos e o desaparecimento do menino começa a mostrar como desaba um castelo de cartas.


TEERÃ-CIDADE DO AMOR – Filme iraniano muito bonito e singelo conta a história de três personagens desencantados com a vida: um ex-tricampeão de fisiculturismo, a recepcionista obesa de uma clínica de beleza e um cantor religioso deprimido. Todos em busca do amor. O filme trata da solidão de um modo democrático numa cidade que parece não os enxergar. Chamou-me a atenção o modo delicado com que o diretor mostra o desejo homoafetivo do fisiculturista, algo a se registrar numa cultura islâmica machista e homofóbica como o Irã.

HONNEYLAND – Super-premiado documentário da Macedônia do Norte. Numa vila isolada, uma mulher de mais de 50 anos cuida de uma colônia de abelhas e da velha mãe doente. Um dia, uma família turca itinerante se instala ao lado da sua casa e tira totalmente sua paz com sete crianças barulhentas e mais de 100 vacas. Ela a princípio se anima e divide seus conhecimentos de apicultura, mas ela acaba sendo vítima da ganância do patriarca da família turca que ameaça o seu modo de vida e seu sustento. O documentário recebeu vários prêmios como o Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance, além dos dois mais importantes das Mostra.


TREMORES – Uma produção da Guatemala conta a história de Pablo, um homem bonito e másculo de 40 anos, pai de um casal adorável de crianças. O filme tem início com uma tensa reunião da família fortemente evangélica que acaba de descobrir que o homem é gay. Os pais e irmãos de Pablo, bem como a família da sua esposa e até os empregados da família abastada se envolvem no processo de tentativa de “cura” e reversão da “doença”. Pablo tem que sair de casa, perde o emprego pelas intrigas da família, sua vida vira um inferno e ele é proibido de ver os filhos pela Justiça com insinuação de pedofilia. Pablo sofre apesar de ter o apoio do namorado que tenta fazer ele lutar sem se deixar dominar. Tudo ocorre entre vários tremores de terra sob a cidade, como metáfora do que acontece na vida de Pablo.


LIMPEZA- Produção da Coreia do Sul muito boa, como costumam ser filmes sul-coreanos. A história de Ju, faxineira cujo filho morreu de uma doença cardíaca. Sua vida se resume a trabalhar, beber e ir à igreja. Ela sofre com a dor da perda do filho e do divórcio, mas as coisas realmente a ameaçam quando surge em sua vida, saído da prisão, um jovem que vem a ser o menino que ela e o ex-marido sequestraram para conseguir o dinheiro da operação do falecido filho. Esse encontro do destino faz com que Ju não descanse enquanto não resolver essa dívida do passado até porque o dinheiro que pagou o resgate do garoto levou à morte de outra pessoa.

CASTELO DE SONHOS - Outro filme iraniano excelente. Quando a mãe de seus filhos está em estado terminal no hospital, um homem volta para sua família após anos ausente. Ele não tem outra opção, senão levar os filhos com ele numa viagem. Mas para onde, já que ele não conseguiu construir o castelo dos sonhos imaginado pela mãe das crianças? O casal de crianças é ótimo e trata-se de um clássico road movie com os melhores ingredientes do gênero. Uma preciosidade.


LARA – Filme alemão retratando um dia na vida de Lara. Nesta data ela faz 60 anos e seu filho Viktor se apresentará em um grande recital solo de piano pela primeira vez. Ela, no entanto, não foi convidada para o concerto, ao contrário do pai e da namorada dele. Mas Lara decide comprar os últimos ingressos para o show e os distribui de acordo com sua vontade. O filme revela aos poucos os contornos dramáticos da relação complexa desta mãe e de seu filho, as razões para o afastamento deles bem como a razão pela qual Lara tinha tantas dificuldades em aceitar o talento do filho.


LILLIAN- Um espetacular filme da Áustria baseado numa história real de uma jovem russa que sem emprego nos EUA, decide voltar a pé para a Rússia saindo de Nova Yorque. Com ferrenha determinação e alguns mapas, ela parte em uma longa jornada pessoal em um inspiradíssimo road movie pelo interior dos Estados Unidos onde ela cruza desertos, rouba comida, roupas e calçados, atravessa rodovias intermináveis, montanhas geladas, passa fome sede e frio, atravessa o Canadá até chegar ao Alasca por onde pretendia cruzar o estreito de Bering para a Rússia. O filme tem uma direção segura e nunca é lento ou monótono apesar de a protagonista não dizer uma única palavra por todo o filme.


PHOENIX- Excepcional filme da Alemanha que conta a história de uma cantora sobrevivente de um campo de concentração que ficou desfigurada. Após uma cirurgia plástica de reconstrução facial, ela volta a Berlim em busca do marido pianista. Quando finalmente o encontra, ele não a reconhece, mas como ela se parece com sua esposa, que ele acredita estar morta, o marido pede que ela o ajude a reivindicar a herança de sua mulher. Ela concorda, pois deseja descobrir se ele a amava ou se a traiu denunciando-a aos nazistas. O filme venceu o Prêmio da Crítica no Festival de San Sebastián. Trilha sonora de Cole Porter espetacular.





DENTE DE LEITE- Filme da Austrália muito simpático que mostra o drama de uma adolescente muito doente que se apaixona por um jovem meio trombadinha (trombadinha australiano é claro), levemente envolvido com tráfico de drogas. Os pais da garota, sabendo que ela pode não viver muito, ficam apreensivos com a relação, mas veem que depois que o rapaz entrou na sua vida, ela passou a ter uma nova vontade de viver. A garota passa a ter um comportamento estranho, mas sua vida passa a ser mais interessante e até feliz em meio ao caos.


HORAS DE VERÃO – Filme francês do premiado diretor Olivier Assayas, homenageado pela Mostra (os outros são o palestino Elia Suleiman e o israelense Amos Gitai). Aqui vemos os caminhos de três irmãos de meia idade que se reencontram após a morte da mãe, herdeira de uma coleção de arte. Uma designer famosa, papel de Juliette Binoche, um professor universitário e um empresário com negócios na China, são confrontados sobre o fim da infância, as memórias e as visões diferentes do futuro.


CONTRA A PAREDE- Uma coprodução da Turquia e Alemanha do premiado diretor Fatih Akin, responsável pelos ótimos Do Outro Lado, Soul Kitchen e O Bar Luva Dourada. Aqui temos a história de um homem e uma mulher de origem turca que vivem na Alemanha e se conhecem num hospital para pessoas que tentaram o suicídio. Ele é um alcoólatra autodestrutivo e ela, uma jovem à procura de um casamento para se livrar da família opressora. Ela propõe a ele um casamento de conveniência, mas aos poucos o amor acaba surgindo em meio a conflitos existenciais e confrontos culturais. O filme ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim. Um filme que tem o DNA do diretor que não faz filmes fáceis mas nem por isso menos belos.


O CARCEREIRO- Nos anos 60, uma prisão do Irã precisa ser evacuada para construção de um aeroporto. Jahed, o carcereiro do local, está encarregado pela transferência dos presos para uma nova penitenciária. Mas ele descobre que um preso condenado à morte desapareceu. Um filme muito bom como acontece em geral no cinema iraniano. Consegue manter a tensão todo o tempo e tem uma trama bem amarrada com um belo final.


MEU NOME É SARA- Produção dos Estados Unidos mas que se passa na Europa durante a 2ª Guerra Mundial. Sara era uma judia polonesa que, aos 13 anos, teve a família inteira morta por nazistas. Após uma fuga para o interior da Ucrânia, ela rouba a identidade da melhor amiga e encontra refúgio em uma pequena vila, onde é acolhida por um fazendeiro e sua jovem esposa. Sara logo descobre os segredos sombrios que envolvem o casamento de seus empregadores, enquanto se esforça para proteger seu maior tesouro: a verdadeira identidade.




OLEG - Uma produção da Letônia e Bélgica e Lituânia conta a história de um jovem açougueiro da Letônia. Ele está em Bruxelas na esperança de ter uma vida melhor, mas cai vítima de um criminoso polonês que o explora. Ele deseja fugir das garras do bandido mas o homem é muito perigoso e Oleg não conhece mais ninguém na Bélgica e precisa se virar.

CAVALOS ROUBADOS-Produção da Noruega, Suécia e Dinamarca com o excepcional ator Stellan Skarsgård no elenco. Ele interpreta Trond que vive isolado em uma pequena vila da Noruega. Lá, ele reconhece Lars, um amigo de adolescência. O reencontro faz com que Trond tenha lembranças de 1948, quando era adolescente e passou o verão na mesma região com o pai. Na época, o jovem precisou lidar com a traição e o abandono do patriarca, que fugiu com a mulher por quem Trond estava interessado e que era a mãe dos seus amigos.


BABENCO - ALGUÉM TEM QUE OUVIR O CORAÇÃO E DIZER: PAROU- Documentário da atriz Bárbara Paz vencedor do prêmio de melhor documentário sobre cinema no Festival de Veneza. Vemos uma série de cenas  dos filmes do cineasta Hector Babenco. Ao perceber que não restava muito tempo de vida para Babenco que desejava ser protagonista da própria morte, a esposa decide gravar seus momentos finais onde o diretor revive sua trajetória no cinema e se desnuda em situações muito íntimas e dolorosas.

GAY CHORUS DEEP SOUTH – Um tocante documentário norte-americano dirigido por um brasileiro que estava na sala de projeção e apresentou o filme à plateia. O documentário mostra uma turnê do Coro de Homens Gays de São Francisco por vários estados do sul dos EUA. Mais de 300 cantores viajam pelo Mississippi, Tennessee, Alabama e Carolinas e se apresentam em igrejas, centros comunitários e salas de concerto, na esperança de unir o país em um momento de uma onda de leis discriminatórias anti-LGBT. As conexões que surgem oferecem um vislumbre de uma América menos dividida, onde as coisas que afastam (fé, política, identidade sexual) são deixadas de lado pelo poder da música.

CARTEIRO- Um filme argentino bem correto. Não excepcional, mas bem feito. A história de um rapaz que se muda para Buenos Aires dos anos 90 para trabalhar no correio central em meio a privatizações, aposentadorias voluntárias e uma crescente pobreza. Ele aprende os segredos das entregas e seus personagens. Durante uma entrega ele cruza com uma garota de sua cidade e passa a rondar o trabalho dela mesmo que isso quebre os códigos dos carteiros. Apesar de o filme demorar-se demais em cenas reiterativas do rapaz entregando cartaz, não chega a cansar. Cinema argentino, mesmo quando é regular ainda assim é acima da média geral.

PACARRETE- Fui assistir a esse filme por conta da atriz Marcélia Cartaxo, de quem sou fã. Também tem a participação do ótimo ator baiano João Miguel. Pacarrete é uma bailarina idosa, considerada louca, que vive numa cidade do interior do Ceará. Na véspera da festa de 200 anos da cidade, ela decide fazer uma apresentação de dança como presente. Mas ninguém se importa. Um filme lírico e que Marcélia carrega nas costas. Ela estava na sala em que assisti ao filme.


O JOVEM AHMED - Um filme belga dirigido pelos multipremiados Irmãos Dardenne conta a história de Ahmed, um adolescente muçulmano de 13 anos. Seguindo as palavras do seu sacerdote local, ele se convence de que sua professora é uma pecadora e decide matá-la. O garoto terá que lidar com as consequências de seu crime e com as tentações da vida ao encontrar o primeiro amor. O filme venceu o prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes. Os diretores dirigiram os também premiados: A Promessa, Rosetta, O Filho, A Criança, O Silêncio de Lorna, O Garoto da Bicicleta e A Garota Desconhecida.

FIM DE ESTAÇÃO - Filme do Azerbaijão que mostra uma família composta de um casal e um filho jovem. Eles convivem friamente como que se ignorando. As relações estão à beira de um colapso. O filho quer sair da casa dos pais; a mãe quer ter a própria vida e mudar de país e o pai só quer ser deixado em paz. Um incidente durante uma viagem à praia faz com que os conflitos aflorem. O filme recebeu o Prêmio da Crítica no Festival de Roterdã.


PAPICHA – Filme da Argélia, indicado pelo país para concorrer a uma vaga no Oscar de filme estrangeiro. Conta a história de uma jovem estudante de moda na Argélia dos anos 1990 quando o país está em guerra civil. Ela se recusa a deixar que o conflito a impeça de sair com as amigas e de levar uma vida normal. Os radicais ganham força e impõem censuras como de vestimenta para mulheres. A jovem decide lutar por liberdade e independência ao planejar um desfile de moda ameaçado pelos extremistas. Gostaria de ter apreciado mais este filme. Talvez o tema da moda ou a questão do universo feminino não sejam exatamente a minha praia. Creio que faltou ao filme alguma transcendência, para torná-lo mais abrangente.

LA LLORONA – Outro filme do diretor guatemalteco Jayro Bustamante (o outro é Tremores) e que foi o vencedor do prêmio de direção no Festival de Veneza. A história de um general que ordenou um genocídio no interior da Guatemala alegando combater guerrilheiros comunistas. Trinta anos depois, num processo criminal o general é absolvido. À noite, o general começa a ouvir o lamento do espírito de La Llorona que vem lamentar a morte dos filhos enlouquecendo aos poucos o general, sua esposa, filha e neta, cercados em casa por uma multidão que protesta dia e noite. Na trilha sonora a belíssima canção de título homônimo que também fez parte da trilha sonora do filme Frida com a cantora Chavella Vargas.

A ODISSEIA DOS TONTOS – Um correto filme argentino com o irrepreensível e onipresente Ricardo Darín além do seu filho, o também ator Chino Darín. Roteiro amarradinho e atuações perfeitas. A história é baseada no livro  La Noche de la Usina. O filme é dirigido por Sebastián Borensztein, responsável pelos ótimos Um Conto Chinês e Kóblic. A história se passa em uma Argentina de 2001 quando um grupo de amigos decide juntar dinheiro para reabrir uma cooperativa agrícola falida da sua pequena cidade. Mas a economia do país entra em colapso e eles descobrem que sofreram um golpe do gerente do banco. O grupo, então, decide montar um plano para recuperar o dinheiro.


O HUMORISTA- Um filme da Letônia e Rússia mostrando uma semana na vida de Boris, humorista judeu de stand-up sob grande pressão: mesmo sendo um comediante famoso, ele sofre com a censura em seu país e se sente frustrado quando os próprios censores o convidam para apresentações, como se ele fosse um bobo da corte. Mas ele tem um plano para se vingar. Um filme de humor negro muito bem feito com o amargor doce que se pode imaginar nessa situação.

SEM TÚMULO- Outro filme iraniano que aborda o luto. Quatro irmãos se unem para atender ao último pedido do pai: ser enterrado em uma vila distante, no meio do nada. O calor e os dias de viagem fazem com que a experiência seja terrível, principalmente quando o corpo começa a apodrecer no carro. A exaustão e a irritação fazem com que os irmãos briguem sobre de quem era a responsabilidade por cuidar do pai e se devem atender aos seus últimos desejos.


TRÊS VERÕES- Assisti a este filme no Teatro Municipal que pelo primeiro ano exibe filmes da Mostra. Fiquei impressionado com a beleza do lugar. O filme tem Regina Casé como protagonista e é uma comédia leve mas sua personagem lembra bastante a de Que Horas Ela Volta. A atriz, a diretora Sandra Kogut e os atores estavam na plateia do teatro. É a história de uma família em três verões sucessivos entre Natal e Ano-Novo numa mansão à beira-mar em que a personagem de Regina Casé é a caseira. Da riqueza e ostentação à prisão do empresário corrupto. O filme foca mais no que acontece com aqueles que gravitam em torno dos ricos anfitriões. Os personagens empregados da família é que são as estrelas do filme

LA MALA NOCHE – Um filme do Equador, um dos países com maior número de vítimas de trafico de escravas sexuais. Dana, para sobreviver, recorre à prostituição entregando a maior parte do dinheiro ao cafetão chefe do tráfico que a explora. Além de manter seu vício em opioides, o que a impede de saldar sua dívida com o traficante, Dana quer conseguir pagar pelo tratamento da filha. Um incidente dá a ela a chance de buscar justiça com as próprias mãos.



O FAROL- No início do século 20, Thomas Wake trabalha como guardião de um farol numa ilha isolada e tempestuosa. Ele contrata o jovem Ephraim como seu ajudante, mas o rapaz fica curioso em relação a segredos do local, o que provoca estranhos fenômenos e enlouquecimento paulatino. Foi dirigido por Robert Eggars, o mesmo diretor de A Bruxa e tem no elenco William Dafoe e Robert Pattinson. Venceu do Prêmio da Crítica da Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes. Um trabalho notável dos atores que estão espetaculares apesar de o filme ter um tanto da pegada do filme anterior do diretor.






MR. JONES- Uma coprodução da Polônia e Ucrânia mostra a história pouco conhecida de Gareth Jones, um ambicioso e jovem jornalista galês que viajou para a União Soviética em 1933 e descobriu a chocante verdade por trás da “utopia” soviética e do regime de Josef Stalin. Dirigido pela premiada e aclamada Agnieszka Holland responsável por obras como Colheita Amarga, Filhos da Guerra, O Jardim Secreto, Eclipse de uma Paixão. Infelizmente o filme tem um final abrupto e não se desenvolve a contento, mas é importante para relembrar os massacres de Stálin.


ADAM- Um filme norte americano que mostra um desajeitado adolescente do interior que termina o ensino médio e vai passar o verão com a irmã mais velha lésbica em Nova York. Ele é virgem e imagina que vai finalmente conhecer uma garota mas acaba indo parar no meio de uma comunidade LGBT e se apaixona por uma menina inteligente e bonita eu aca que ele é trans. Com medo de perder a primeira namorada o garoto mantém a farsa que obviamente não vai dar certo. Um filme apenas simpático.


ABE – Filmeado em Nova Yoque pelo brasileiro Fernando Grostein Andrade é apenas simpático apesar do diretor, em todas as sessões, falar gentilmente com todos. Acho que esse filme em pouco tempo não vai ser lembrado. Abe é um menino de 12 anos com pais e avós israelenses e palestinos e que sofre pressão dos dois lados da família para que escolha se vai ser judeu ou muçulmano (ou ateu como o pai). O menino adora cozinhar e conhece um chef de cozinha brasileiro interpretado por Seu Jorge. O menino planeja uma grande refeição no Dia de Ação de Graças para unir a família, mas tudo sai errado. Elenco americano com participação de Gero Camilo e trilha sonora excelente mas filmes sobre comida há muito mehores. Além disso, busca-se a agilidade abusando dos recursos de edição já amplamente vistos na série Quebrando o Tabu, do mesmo diretor.

O JUÍZO - Filme do  brasileiro Andrucha Waddington com roteiro da esposa Fernanda Torres. No elenco, o filho do casal, as atrizes Fernanda Montenegro e Carol Castro e os atores Lima Duarte e Felipe Camargo, além do rapper Criolo. Não me agradou muito porque além de o roteiro ser quase cópia de O Iluminado, a direção é frouxa e preguiçosa, com ângulos pouco inspirados e repetitivos. Quem está melhor no filme é Criolo. A história de um homem falido que se muda com a família para uma fazenda abandonada que herdou. Ele deseja encontrar diamantes que  crê existirem nas terras, mas é vítima de um fantasma que foi traído pelo seu avô e que busca vingança. 


O PARAÍSO DEVE SER AQUI – Um filme da Palestina tendo o seu diretor Elia Suleiman como protagonista. A Mostra deste ano tem uma série de filmes em homenagem ao diretor que é destaque da Mostra com o Prêmio Humanidade. Este é o primeiro filme que vejo desse diretor e confesso que achei muito estranho. Segundo a sinopse é uma saga cômica que investiga os significados do exílio e da busca por um lar. No filme, Suleiman deixa a Palestina à procura de uma nova vida. Mas aonde quer que ele vá, de Paris a Nova York, a Palestina parece segui-lo, pois algo sempre o faz lembrar de casa. Uma sequência de cenas quase absurdas e algo divertidas apesar de meio dramáticas no fundo. O filme foi premiado com a  Menção Especial no Festival de Cannes.


JOANA D’ARC - Filme francês que me decepcionou bastante como quase sempre acontece com os filmes franceses. Aqui o diretor conta a história da heroína e mártir Joana D’Arc. Esta história magnífica, que já foi belamente retratada no cinema recebeu uma abordagem “mini minimalista”. Em algumas cenas os atores simplesmente cantam em vez de falarem e o filme se foca nas ultimas semanas da vida de Joana, não mostra nenhuma das suas formidáveis batalhas, tem quase todos os diálogos em cima de uma duna no meio do nada, que tanto poderia ser na França como em Caixa Pregos.  As cenas do julgamento por bruxaria é boa, mas as intrigas que envolviam a sucessão da coroa francesa e a Guerra dos Cem Anos poderiam ser mais bem exploradas. A cena da fogueira é lamentável. Senti mais porque há menos de um mês li um livro sobre Joana D’Arc e a história estava bem fresca na minha memória. O filme teve a Menção Especial na seção Um Certo Olhar no Festival de Cannes.


SYNONYMES – Este filme coproduzido por França e Israel foi o vencedor do Urso de Ouro e do Prêmio da Crítica no Festival de Berlim e mostra os conflitos do jovem Yoav, israelense estranho que chega a Paris esperando ser salvo da loucura de seu país, esquecer suas origens e se tornar francês. Ele se recusa a falar hebraico e luta para encontrar uma nova identidade. Até agora não entendi esse filme nem sei por que foi tão premiado. Algumas cenas de nudez bombaram na internet e o ator israelense Tom Mercier é um belo jovem, com corpo perfeito, mas de algum modo foram retirados da película qualquer erotismo ou sensualidade. Há uma cena em que o personagem diz que jamais se masturba. As primeiras cenas de nudez são intrigantes, por conta do notável pênis do ator, mas não entendi o contexto, já que o filme tem as cenas de sexo mais sem graça que já vi na minha vida. Bem, todas as sessões do filme lotaram, mas não ouvi um único aplauso da plateia.


 NINA WU – Esse é um filme de Taiwan que dura pouco mais de 100 minutos, mas aparenta durar 4 horas de tão enrolado. Na saída vi várias senhorinhas reclamando e marcando nota zero no papel de votação. Acho que teve uma procurando ver se tinha uma nota abaixo de zero. A produção do filme nem é ruim e tampouco os atores são maus, mas a história dá voltas e mais voltas em torno de um mesmo tema: a gravação de um filme. Um filme sobre um filme dá enredos ótimos como já se viu várias vezes, mas tudo tem limites. Bem, Nina Wu é uma atriz em ascensão que consegue papel importante em um filme que representa uma virada em sua carreira. Entre conflitos com o diretor, cenas de sexo e nudez desafiadoras, a falência da empresa do pai, o ataque cardíaco da mãe, o caso de amor com uma amiga de infância e a paranoia de que uma mulher misteriosa a persegue faz a gente pensar como esse filme consegue falar sobre tantas coisas e ser tão arrastado sobre a única coisa que interessa que e o processo de fazer um filme.

BULBUL PODE CANTAR - Imaginava eu que um filme sobre adolescentes indianos e com esse título pudesse ser interessante, mas o filme não passa de maçante. A história de três amigos que levam uma vida idílica (segundo a sinopse mas pra mim era só uma vida besta mesmo) em uma pequena comunidade indiana. Durante a puberdade, descobrem o amor, o despertar sexual e a rebeldia. Quando um grupo de moradores descobre que os adolescentes se envolvem em atos que ultrajam o regimento moral local, a amizade do trio é colocada à prova por meio de uma violenta punição. Como dormi, não tenho ideia de que ultraje foi esse ou qual a punição foi dada. Sei que do grupo de três, um era um garoto gay mas não sei se foi ele o causador dos tais atos uma vez que as duas meninas estavam ensaiando uma pegação com os namorados. Bem, não importa mesmo.

MARGHE E SUA MÃE - Um lamentável equívoco, esse filme produzido na Itália e falado em italiano. Dirigido pelo iraniano Mohsen Makhmalbaf, cineasta que admiro bastante por filmes como Salve o Cinema, Gabbeh, Um Instante de Inocência e O Caminho para Kandahar, entre outros, não entendi porque ele resolveu filmar na Itália uma história que não tem nada a ver com o tema dos seus filmes anteriores, que é o Irã. Aqui temos uma história boba de uma mãe solteira despejada por não conseguir pagar o aluguel. Ela é forçada a deixar a filha de seis anos com uma vizinha enquanto sai à procura de um emprego e se envolve com um par de pequenos golpistas. Uma lástima.


FAMILY ROMANCE, LTDA- Um filme americano do premiado diretor alemão Werner Herzog. Elogiado por muitas pessoas com quem conversei nas filas, o filme não me agradou em nada e até mesmo dormi de tão chato. Uma pena já que Herzog é um dos três maiores nomes do novo cinema alemão, ao lado de Rainer Fassbinder e Wim Wenders e é dono de obras primas como: O Enigma de Kaspar Hauser, Fitzcaraldo, Aguirre, a Cólera dos Deuses, Vício Frenético, entre muitos outros. Uma história meio esticada demais sobre uma empresa que aluga pessoas substitutas para clientes que precisam de ajuda no dia a dia: alguém para levar a culpa no trabalho, um membro da família para um evento social, um estranho que ajuda clientes a reviverem os melhores momentos da vida. Nada especial apesar dos louros que muitos espectadores da Mostra lhe deram.

A FERA E A SELVA-Esse para mim foi o pior filme a que assisti na mostra e fui enganado duplamente pela presença no elenco da atriz Geraldine Chaplin que interpreta uma atriz decadente que decide realizar um sonho: dirigir um musical a partir de um roteiro não terminado deixado por um amigo morto. Na República Dominicana, ela reencontra antigos amigos e logo conflitos e mortes começam a aparecer durante as gravações. Outra presença que me enganou foi do ator  Udo Kier, recentemente visto em Bacurau e que parece fazer um filme por semana. O filme é uma bobagem sem fim e entra para a estatística das burradas a que cada pessoa tem direito a cometer uma vez na vida.

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